quarta-feira, 30 de junho de 2010

Boa Compra: Errazuriz Reserva Sauvignon Blanc

Elegi este vinho para ser aquele branquinho que terei sempre em minha geladeira e beber no dia a dia. Adoro vinhos brancos, especialmente em dias quentes. Descobri este almoçando no Ráscal. Paguei cerca de R$ 60 e achei um belíssimo custo-benefício. Entrei no site do importador, a Vinci Vinhos, e vi que o valor da garrafa é aproximadamente R$ 40 (varia com o dólar), uma verdadeira pechincha.

Para quem gosta de sauvignon blanc do Novo Mundo, como os chilenos e neozelandeses, este Errazuriz é uma ótima. Cítrico, exótico, com aroma de carambola, pura fruta, excelente acidez. Vinho perfeito para uma tarde de sol, com frutos do mar ou mesmo sem comida. Compro e mando tudo para a geladeira, pois não é vinho para guardar. Divide espaço com o Alamos Chardonnay, outro belo custo-benefício entre os brancos. Compre e beba.

domingo, 27 de junho de 2010

Boa Compra: Il Bruciato

Quando o vinho tem mais pontos do que cifrões, é sinal de boa compra. Este toscano do Antinori é um dos meus favoritos na faixa dos 88 a 90 pontos - vinhos que considero muito bons/excelentes. Trata-se do "irmão mais novo" do fantástico Guado al Tasso, um dos melhores grandes supertoscanos que já bebi, ao lado do Solaia e do Sassicaia.

A boa notícia é que se pode pagar R$ 89 na safra 2006, no Marchê. Ainda jovem e cheio de fruta e estrutura, com taninos e acidez de um vinho "pré-adolescente". Mas com futuro promissor. Um belo Bolgheri, com aquele corte tradicional de cabernet sauvignon e merlot, além de um toquezinho da syrah.

Ainda é um vinho "áspero" para quem está acostumado aos evoluídos. Mas pode ser guardado por mais uma década, pois certamente evoluirá muito. Para quem aprecia a potência e "agressividade" da juventude e tem pressa de ser feliz, nada de errado se consumi-o agora. Eu mesmo já bebi uma garrafa semana passada!

Boa compra: Quinta da Bacalhôa

Há uma infinidade de vinhos à venda em lojas e importadoras, oferecidos diariamente a nós por e-mails e telefonemas - alguns até inconvenientes, pois nos pegam em reuniões e no trânsito. Também vemos "indicações" em blogs, que acabam nos confundindo, pois não sabemos se são dicas do autor ou somente reprodução de anúncios - às vezes até com interesse comercial - propaganda pura.

Entendo que vinho é algo extremamente ligado a gosto pessoal, apesar de haver parâmetros razoáveis para mensurar qualidade. No entanto, como a coisa que mais me perguntam é qual vinho indico para isso ou para aquilo, vou começar a registrar coisas que compro e gosto aqui no meu blog. Não tenho a pretensão de julgar vinhos, por isso não publicarei o que eu beber e não gostar. O objetivo é indicar boas compras, de vinhos que, na minha opinião, possam ser úteis para outras pessoas - procurarei sempre indicar essas utilidades, por exemplo, sugerindo compatiblizações com comidas ou ocasiões.

Para inaugurar essa séria, deixo aqui a indicação de dois vinhos da Quinta da Bacalhôa: um tinto, à base de cabernet sauvignon, e outro branco, o Cova da Ursa. Comecei a me interessar por esses vinhos por conta do "fanatismo" do amigo Esper, um profundo conhecedor e admirador dos vinhos da terra dos nossos irmãos portugueses. Aliás, não apenas entendedor desses vinhos, mas de muitos outros, o que aumentou ainda mais a minha curiosidade pela Quinta da Bacalhôa.

Não gastarei tempo escrevendo o que se pode encontrar facilmente no Google - por exemplo, quem é a Quinta da Bacalhôa, informação também disponível no seu site: http://www.bacalhoa.com/. Digo apenas que é um produtor bastante relevante e que produz boa variedade e qualidade de vinhos em Portugal. O importador é a Portuscale. Mas essa informação é um pouco irrelevante, pois eles são meio chatos para a venda direta ao consumidor. A boa notícia é que são vinhos fáceis de serem encontrados em restaurantes, empórios e supermercados.

O Cova da Ursa é uma gratíssima surpresa, pois é um vinho que une o que há de bom no Velho Mundo - a boa fruta e elegância - com o que o Novo Mundo agregou de melhor - estrutura e maciez do tratamento no carvalho. Realmente fantástico pelo que custa. Já o Quinta da Bacalhôa tinto é um exemplar do que há de melhor com a cabernet sauvignon fora da França - boa fruta, estrutura, taninos doces e um corpo fora da curva para esse padrão de vinhos. Encontram-se nos supermercados as safras 2004 (se tiver sorte), 2006 e 2007. Considerando que o branco sai a R$ 60 e o tinto, a R$ 80 (safra 2007), poucas ofertas podem ser mais interessantes. O branco vai bem com frango e peixes com sabor mais fortes; já o tinto é perfeito com carnes de boi e molhos à base de carne, como um belo ragú de patinho.

Os preços acima foram encontrados na Casa Santa Luzia, em uma promoção que não deverá durar muito. Quem gostar do estilo mais despojado desses vinhos e tiver a chance de comprar, certamente fará bom negócio.

Ripasso: um Valpolicella turbinado

Semana passada, reuni a confraria Sereníssima na minha casa para uma degustação muito interessante, na qual colocamos lado a lado oito exemplares de Valpolicella. Mas não eram Valpolicella "comuns", simples, daqueles que encontramos nas gôndolas dos supermercados a preços convidativos. O painel reuniu rótulos do que eu chamo de "Valpolicella turbinado", produzido pelo método ripasso, que confere mais estrutura e complexidade ao vinho. Estes custam, no Brasil, entre R$ 80 e R$ 120, o que já indica algum diferencial. Antes de comentar o painel, vou gastar algumas linhas para falar sobre o tipo de vinho que degustamos.

Valpolicella é uma região localizada no Vêneto, que, por sua vez, integra a chamada Tre Venezie. Trata-se de uma das principais regiões produtoras de vinhos na Itália em termos de volume, possivelmente a que mais produz no norte do país. Apesar de liderar pela quantidade, o Vêneto e, em particular, Valpolicella, não oferece, proporcionalmente, grande volume de vinhos de ótima qualidade.

Os vinhos de Valpolicella são elaborados essencialmente com as uvas tintas corvina, rondinella e molinara, mas podem levar outras cepas locais, como a negrara. Existem basicamente seis categorias de Valpolicella, que divido em dois grupos: o básico, jovem e bastante simples, produzido em qualquer parte da denominação; o Valpolicella Classico, um pouco melhor, produzido na região original da denominação; o Valpolicella Classico Superiore, este sim bem melhor, pois além de ser elaborado na melhor região, com as melhores uvas, ainda é envelhecido antes de ir ao mercado; e o Valpolicella ripasso, na minha opinião acima dos demais em termos de complexidade e muitas vezes também suerior em qualidade.

O segundo grupo compreende outros dois tipos de Valpolicella que são, para mim, tão mais complexos e distantes dos anteriores em termos de qualidade que prefiro colocá-los em um parágrafo diferente: o Amarone, um belíssimo vinho elaborado com as uvas semi-passificadas, o que torna a bebida mais alcoólica, mas também muito mais complexa e estruturada; e o Recioto, a versão doce do Amarone, que possui uma quantidade maior de açúcar em consequência da interrupção do processo de fermentação.

A degustação
O foco da degustação foram os Valpolicella ripasso, que ganham complexidade por receberem uma parcela do "bagaço" das uvas do Amarone durante o processo de fermentação. É por receber esse "upgrade" que chamo este tipo de vinho de "turbinado". Em termos de aroma e sabor, são vinhos mais próximos do Amarone do que do Valplicella Classico Superiore. No entanto, se distanciam dos que eu considero os "tops" da região quando avaliamos corpo e persistência. Mas a experiência da semana passada quebrou um pouco essas "regras" mentalmente estabelecidas por mim.

Dois oito vinhos degustados, falarei sobre aqueles que me chamaram a atenção, pois meu objetivo não é ficar fazendo nota de degustação - não tenho muita paciência para isso. A seguir, os detaques da noite, em três estilos totalmente diferentes. O primeiro é praticamente um Amarone "contemporâneo"; o segundo, modernoso, amadeirado, ao melhor estilo "novomundista"; e o terceiro, o mais tradicional de todos, marcado pelos aromas e sabores de uva passa.

1º) Dal Forno Romano Valpolicella Classico Superiore 1998
Esta foi a primeira grande quebra de paradigma para mim. Pela primeira vez bebi um Valpolicella que, mesmo não sendo ripasso ou Amarone, me agradou muito. Na verdade, mais do que isso. Esse vinho me surpreendeu muito, pois era praticamente um Amarone, superando todos os demais no painel. Dei a ele 90 pontos, conquistados pela sua estrutura e intensidade, com aromas de uva passificada, além de frutas vermelhas em geral. Na boca, ótimo corpo, acidez e um pouco de adstringência, o que me fez concluir que esse vinho ainda iria longe. No rórulo, há a informação de que parte das uvas é semi-passificada, mas não fica claro se se trata do uso de "repassagem" com as uvas do Amarone ou se realmente há uma primeira fermentação com uvas semi-passificadas. Enfim, o que importa é que se trata de um vinho extraordinário - pena que custe uma pequena fortuna na importadora Cellar, que traz o Romano dal Forno para o Brasil.

2º) Bosan Ripasso 2006
Entre os ripasso "mortais", este é, para mim, o melhor de todos. Não apenas deste painel, mas o melhor entre todos os ripasso que já bebi. Trata-se de um vinho intenso na cor, nos aromas e no sabor, podendo até ser confundido com Amarone menos encorpados e alcoólicos. Tem um estilo mais modernoso, menos "vinoso" e mais amanteigado, com toque de madeira perfeitamente equilibrado com os aromas frutados, que são a marca deste tipo de vinho. Na boca, o tostado e a fruta aparecem novamente, boa acidez, de médio a bom corpo e boa persistência. Dei 89,5 pontos a este vinho, que realmente me encantou pelo equilíbrio e por ser delicioso, no nariz e na boca.

3º) G. Poggi Ripasso Il Moretto
Gostei bastante deste vinho, pois remete ao estilão mais tradicional do Amarone, com bastante uva passa e, neste exemplar, um toque marcante de própolis. Trata-se de um vinho com média a boa acidez, taninos mansos, bom corpo e média a longa persistência. Dei a ele 89 pontos, pois é muito agradável e emociona quem gostava dos Amarone produzidos até a década de 90.

As decepções da noite, para mim, ficaram por conta dos ripasso do Guerrieri-Rizzardi (Pojega), que é um dos meus produtores favoritos de Amarone, mas que levou apenas 86,5 pontos; e do tradicionalíssimo Masi (Brolo di Campofiorin), que amargou a 7ª posição, com 86 pontos, à frente apenas do ripasso do Tedeschi (Capitel San Rocco) - este último estava visivelmente problemático e comprometido, por isso prefiro não avaliar. O vinho do Zenato (Ripassa) ficou com 86,5 pontos e do Alegrini (Corte Giara), com os mesmos 86 pontos do Masi.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Supertoscanos de verdade - Parte II

Conforme prometido, volto aqui com as minhas impressões da segunda degustação de "ultra-supertoscanos", realizada na quinta-feira da semana passada, 17 de junho, no cada vez melhor Rosmarino. Desta vez, foram 8 grandes vinhos, metade deles de Bolgheri, o berço dos supertoscanos. E, para variar, foi desta região que saiu o grande campeão da noite, na minha opinião disparado o melhor, com 94 pontos. Os detalhes dessa degustação estão no Blog Wine St.

Estes foram os vinhos degustados, na ordem de classificação para mim: Guado al Tasso 2004 (Marchesi Antinori/Bolgheri - 94 pontos), Grattamacco 2006 (Colle Massari/Bolgheri - 91,5 pontos), Solaia 2002 (Marchesi Antinori/Chianti Classico - 91 pontos), Sammarco 1999 (Castello dei Rampolla/Panzano in Chianti - 90,5 pontos), Ornellaia 2006 (Tenuta D'Ornellaia/Bolgheri - 90 pontos), Saffredi 2001 (Fattoria Le Pupille/Maremma - 90 pontos), Sassicaia 2006 (Tenuta San Guido/Bolgheri - 90 pontos) e Castello del Terriccio 2000 (Castello del Terriccio/Maremma - 89,5 pontos).

Antes de comentar os vinhos que mais me chamaram a atenção, destaco o desempenho do Solaia, que havia sido meu melhor na primeira degustação de supertoscanos, mas que caiu um pouco de qualidade na safra 2002. Nesse ano, em razão das chuvas, as uvas foram prejudicadas, em especial a sangiovese, que sequer entrou no corte tradicional por falta de qualidade. Mesmo assim o Solaia pegou medalha de bronze, para mim - na somatória das notas dos demais confrades, no entanto, amargou a 8ª posição.

Sobre os cortes, vale citar que apenas 2 dos 8 exemplares levavam sangiovese: Sammarco e Grattamacco. Mesmo assim em baixíssima proporção. A predominância dos exemplares era de cabernet sauvignon e merlot, tendo alguns rótulos cabernet franc e syrah - entre eles o Guado al Tasso, que comento a seguir.

As estrelas da noite

Guado al Tasso
Este foi a nota altíssima da noite (94 pontos, com louvor). Que vinho! De uma cor rubi intenso, ainda jovem, deixou no nariz baunilha, tabaco e um toque herbáceo - lembrou grama cortada. Evoluiu muito na taça, abrindo para alcatrão e um toquezinho delicioso de chá verde. Na boca, os taninos, ainda jovens, "pegaram" um pouco. Muito café e tostado, além de fruta madura, deixaram saudades. Ótimo corpo e ótima persistência. É um dos melhores vinhos que já bebi, sem dúvida.

Grattamacco
Também denso na cor, passou para o nariz explodindo caramelo. Impressionante! Aromas de fruta doce, com toque de madeira, leve herbáceo e até um mineralzinho. Na boca, taninos um pouco mais redondos do que o Guado, frutas vermelhas, em especial cereja, bom corpo e boa persistência. Outra maravilha da Toscana!

Apesar de não ter sido uma "estrela" para mim, não posso deixar de citar o "mítico" Sassicaia, que mais uma vez ficou no pelotão intermediário, o que me faz acreditar que ele tem mais fama do que real diferencial em relação aos demais "tops" da Toscana. Já para os demais confrades da Wine St ele foi o segundo melhor. Destaco os aromas de chocolate, caramelo e lácteo desse vinho. Depois abriu para fruta madura e um toque floral bastante interessante. Na boca, frutado, taninos "pegando", bom corpo e média pesistência.

Como disse um dos confrades ao final da degustação, o duro é ter de ir para casa e voltar a beber os vinhos "normais" depois de conhecer essas maravilhas.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Comprando vinhos evoluídos - Parte I

Onde comprar vinhos de qualidade prontos para o consumo, com taninos "domados", tripé em perfeito equilíbrio, sem arestas, fruta inebriante e álcool "explosivo"? Essa é, sem dúvida, a pergunta que vale 1 milhão de rolhas.

A menos que você seja um enófilo de longa data, com uma coleção de garrafas constituída ao longo de anos, dificilmente abrirá a sua adega, cotidianamente, e pegará um vinho de guarda no ponto para beber. Não estou nem falando de vinhos "tops", mas sim de vinhos que ganham com a maturidade, descansando alguns anos na garrafa, sob condições adequadas.

Imagino que esse seja o problema de muitos enófilos, como eu, que passaram a apreciar vinhos maduros e evoluídos há menos de 10 ou 15 anos. Ou que nunca tiveram paciência de fazer a guarda dos vinhos comprados - para que deixar para amanhã o que podemos beber hoje?


No meu caso, comecei bebendo nacionais e sulamericanos em geral, vinhos na faixa de R$ 40/R$ 50, que não ganhavam nada com a guarda. No entanto, a evolução para vinhos mais elegantes e "redondos" foi um caminho natural. O problema é que o "passivo" na adega não ajudava... Tirando uma ou outra garrafa, como alguns nacionais de 1999 que ainda dão um caldo, entre eles o Miolo Lote 43 e o Pizzato Merlot.

Para remediar essa questão, fico atento às pontas de estoque e gasto um bom dinheiro com vinhos quase considerados em "fim de carreira", cujas importadoras pretendem descontinuar a importação ou simplesmente atualizar o estoque. Mas nem sempre consigo encontrar garrafas suficientes para o ano todo, o que me estimula a dar uma garimpada em lojas e importadoras. Supermercados, apesar o risco da má conservação, também podem oferecer boas surpresas.

Minha intenção com esta "série" de posts é dividir com os possíveis interessados alguns achados que estão disponíveis no mercado e que, na minha opinião, valem a pena. Para começar, indico um Rioja que acabo de beber - na verdade, é a segunda garrafa das 4 que comprei.

Viña Salceda Gran Reserva 1999
Importado pela Mistral, este é, possivelmente, elaborado integralmente ou pelo menos predominantemente com a tempranillo - é difícil ser exato, pois quase não há informações sobre ele no site. Mas isso não importa muito. O fato é que se trata de um vinho macio e elegante, com aromas terciários bastante presentes, fruta madura, um toque de eucalipto bem sutil, couro e pimenta do reino. Dispensa decanter, pois não há resíduo para tanto. Gostei bastante, é um vinho para 88/88,5 pontos e que custa R$ 118. Não é uma pechincha, mas vale pela oportunidade de se beber um Rioja fora da puberdade e que acompanha muito bem refeições à base de massas e carnes não tão pesadas/suculentas.

Na própria Mistral há outras opções de vinhos prontos/evoluídos, da década de 1990, como rótulos do excelente italiano Castelo di Ama. Porém, a preços menos convidativos. Mas certamente boas compras para quem tem disposição de investir em vinhos que não necessitam mais de guarda e que podem ser abertos e deliciados sem sentimento de culpa por conta de um possível "infanticídio".

Nos próximos dias, trarei outras boas oportunidades de compra de vinhos "maduros" à venda no mercado. Peço aos que conhecem oportunidades semelhantes que postem aqui suas sugestões.

domingo, 13 de junho de 2010

Leve seu vinho ao restaurante

Quem aprecia fazer as refeições com um bom vinho já se pegou lendo e relendo a carta do restaurante, de trás para frente, para no final pedir uma garrafa que "quebra o galho", mas que está longe de ser o que se queria. Ou então acaba ficando na cerveja, pois se recusa a pagar por um vinho ordinário o que se paga por um bom toscano na importadora.

Seja pelo "desalinhamento" entre o menu e a carta de vinhos, seja pela ausência de garrafas prontas para o consumo - por falta de estoque, geralmente os restarantes trabalham com safras "atuais" -, é comum eu terminar a noite imaginando como teria sido divino comer o brasato ao vinho tinto do menu harmonizado com aquela garrafa de Barolo 1996 que está na minha adega.

Essas são apenas algumas das situações que começaram a me motivar, nos últimos tempos, a não ter receio de pegar uma garrafa da minha adega e levar para o restaurante. Mas há muitas outras situações, entre elas a falta de bom senso na precificação dos vinhos. Sei que a "ética do vinho" manda que não se leve a garrafa de casa para pagar menos. E concordo com isso, mas em partes. Acho que não se pode levar um vinho corriqueiro - vendido em supermercado, de safras ainda disponíveis etc. - ou vinhos presentes na carta - isso é imperdoável. Mas ter uma alternativa bacana a um custo viável, não extorsivo, já não me parece um "enocrime".

Foi-se o tempo em que eu vacilava em levar meus vinhos a restaurantes. Hoje, é raro eu não levar. E a escolha do lugar onde almoçarei ou jantarei já passa pela tolerância com essa prática. Não é muito fácil encontrar bons restaurante que facilitem a vida do cliente, sem cobrar "rolha de ouro". Mas já descobri alguns lugares, aos quais tenho ido com boa frequência.

Sem cobrança de rolha
Boas opções são Rosmarino, Freddy, a rede Rubaiyat e a rede Ráscal - a melhor cozinha rápida de São Paulo, plenamente capaz de harmonizar com vinhos de alta qualidade. Há também os que aceitam isentar a rolha para encontros de confrarias e eventos especiais, mediante o acerto de um "menu pacote", como já fiz no Santo Colomba, El Tranvía, Gigetto, La Casserole, Rufino's, Kinoshita, Ban Kao e La Caballeriza.

Rolha moderada (até R$ 35)
Também tenho frequentado lugares que não cobram "rolha proibitiva" e que estão acostumados a fazer o serviço do vinho alheiro sem constranger o cliente. Aqui, incluo Quinta de Santa Maria, La Vecchia Cucina, Blú Bistrô, Brascatta e Fidel - este, a propósito, vale a visita, pois tem praticado uma gastronomia de ótima qualidade. Na categoria "cozinha rápida", indico o Galeto's, que também é modesto na cobrança da rolha.

Há muitos outros lugares em que é possível levar seu vinho sem medo de ser feliz. Achei legal a iniciativa da Veja de incluir essa informação no guia de restaurantes publicado na revista regional. Informa até o preço da rolha. Vale consultar antes de sair de casa.

Caso tenha dicas bacanas de restaurantes com "rolha zero" ou pelo menos acessível, poste aqui e ajude outros enófilos a não passarem apertado quando sairem para comer.

sábado, 12 de junho de 2010

Gastronomia italiana na Free Time

Para quem gosta da culinária italiana e, em especial, do tradicional espaguete à carbonara, sugiro a leitura da minha matéria desta edição da Free Time: Mangia che ti fà bene!

Aliás, sugiro também a leitura das matérias sobre vinhos e restaurantes, que estão muito interessantes.

Supertoscanos de verdade - Parte I

Ontem, participei de uma belíssima degustação, cujo tema é recorrente em minhas confrarias e rodas de amigos enófilos: prova às cegas de supertoscanos. A diferença é que, desta vez, estou falando de supertoscanos de verdade, nascidos em Bolgheri e que deram a fama a esse tipo de vinho, produzidos com boa parcela ou completamente a partir de uvas "bordalesas".

O destaque do painel foi o Solaia, que justificou o fato de ser o vinho mais caro. Já a decepção ficou por conta do Tignanello, um IGT de boa qualidade, mas igual a muitos outros que custam a metade do preço.

A seguir, comentarei brevemente cada um dos vinhos degustados:

1º Solaia 2006 (Antinori)
Produzido a partir das castas cabernet sauvignon, sangiovese e cabernet franc, este foi disparado o melhor vinho da noite, na minha opinião. Dei a ele 94 pontos, mas poderia ser até um pouco mais. De cor muito intensa, no nariz apresentava bastante fruta, erva e um toquezinho de pinho. Mas esse vinho evoluiu muito na taça, se desdobrando em aromas "tostados" e até um floralzinho. No final da taça, bastante chocolate e um pouco de couro. Na boca, os taninos ainda bastante presentes. Fruta madura e chocolate, além do tostado, enchiam a boca e persistiam por quase um minuto após o gole. Vinho fantástico, certamente o melhor toscano que já bebi.

2º Bolgheri Ruit Hora 2004 (Caccia al Piano)
Este vinho me surpreende mais a cada garrafa que eu abro. Sempre muito intenso e agradável, com ótimo corpo e muita persistência, acaba saindo barato pelos R$ 280 que custa - na verdade, que custava, pois não se encontra mais no Brasil após o fechamento da importadora Ars Vivendi. Produzido a partir das uvas merlot, cabernet sauvignon e syrah, este vinho, de cor intensa, também traz frutas vermelhas, com toque de cereja muito legal, se desdobrando em baunilha e aromas terciários. É vinho para 92 pontos fácil.

3º Sassicaia 2006 (Tenuta San Guido)
Outro grande vinho, que destoa da rusticidade de outros IGTs apenas ditos supertoscanos. A cor segue o padrão dos demais, porém, no nariz este trouxe de cara toques de rapadura, chocolate e caramelo, muito bem integrados à fruta vermelha. Ervas também eram percebidas. Na boca, o álcool atacou um pouco, assim como os taninos ainda jovens demais. Acrescentei, em minhas anotações, um toque mineral na boca. Bom corpo, mas menos persistente do que o Ruit Hora, o que me fez tirar 1 pontinho em relação a ele. Dei 91 pontos para este belo vinho.

4º Tignanello 2006 (Antinori)
Elaborado a partir da sangiovese, cabernet sauvignon e cabernet franc, este vinho foi a nota fraca da noite. Claramente abaixo dos demais em termos de qualidade, apesar do seu preço elevado (R$ 368). Esta é a segunda degustação em que o Tignanello apanha dos demais do painel, mesmo contra exemplares menos caros, como o Ruit Hora, que é, para mim, um vinho bem superior. O visual seguiu o padrão, com rubi intenso. No nariz, madeira e mineral era o que se sentia, pois o vinho parecia fechado. Na boca, um vinho agradáve, apesar de os taninos ainda pegarem. Médio corpo e média persistência me levaram a conferir nota 89 a este vinho.

Para o jantar, preparamos uma sopa romana (caldo de galinha com ovos, pão italiano, queijo parmesão e salsinha) e uma "lasanha toscana" (ragu de linguiça, abobrinha italiana e molho branco). A melhor harmonização foi com o Tignanello, talvez pela menor estrutura e intensidade de sabor.

Em tempo: Semana que vem terei a oportunidade de participar de mais uma degustação de "Supertoscanos" (com letra maiúscula), dessa vez por outra confraria, a Wine St.. Um dos destaques será, além dos vinhos deste painel, o mítico Ornellaia. Volto a comentar sobre supertoscanos nos próximos dias.