sábado, 31 de julho de 2010

No Rosmarino, o que vale é comer e beber bem

Se por um lado há lugares que tratam o cliente que leva o próprio vinho com desdém, como comentado no post anterior, por outro há os que se garantem na cozinha e tratam o vinho como um acompanhamento da refeição. Nada contra faturarem vendendo vinho, sobremesa congelada e café. E nada contra a cobrança da taxa de rolha, pois sempre pago e acho justo pelo serviço e utensílios oferecidos. Mas acredito que quem vê no vinho a principal fonte de renda da casa deveria abrir um empório, e não um restaurante.


Um exemplo de restaurante competente na cozinha e que se garante atraindo e mantendo uma clientela fiel pela excelente comida é o Rosmarino, em Pinheiros. Vou praticamente toda semana nesse ótimo italiano, sempre como muito bem e a maior parte das vezes levo meu vinho - geralmente garrafas com algum tempo de adega. Aliás, a principal razão de eu levar vinhos da minha adega é não encontrar cartas com opções de garrafas com mais de 5 ou 6 anos. Geralmente se encontram vinhos bons, até a preços justos - como no Rosmarino -, mas ainda muito jovens. Por isso acabo quase sempre optando por levar meus vinhos. Ou bebendo um branquinho, da carta da casa, como o bom neozelandês Paliser, que bebi no último domingo no próprio Rosmarino.

Para quem quer comer muito bem, sem frescura e sem cara feia, recomendo ligar ao Rosmarino, falar com a Stela, a Ângela ou o Carlos e fazer reserva. É certeza de boa gastronomia, em um ambiente muito agradável, com tratamento à altura e sem assalto a mão armada quando a conta chega. Aliás, sempre agendo as degustações das minhas confrarias nesse restaurante, pois o serviço do vinho - mesmo para os que não são do restaurante - é excelente. E, mesmo quando não cobram taxa de rolha, sempre faço questão de pagar R$ 20 ou R$ 30 em retribuição pelo ótimo atendimento.

Mais informações: http://www.rosmarino.com.br/

Taxa de rolha: quando o valor vai da cara do bobo

Hoje, passei por uma experiência para lá de desagradável no La Caballeriza, bom restaurante de carnes argentinas que frequento com alguma frequência, na Alameda Campinas, especialmente nos almoços de semana. Estive algumas vezes à noite, em degustações ou mesmo em grupos de amigos, quase sempre levando meus vinhos e quase nunca pagando taxa de rolha. Na verdade, lembro de terem me informado certa vez que a taxa era de R$ 25, porém, não me lembro de terem efetivamente lançado o valor na conta. Enfim, era um lugar que considerava "amigo do enófilo", ou seja, um local onde o vinho do cliente era bem-vindo.

Desta vez, no entanto, fui surpreendido com uma abordagem muito estranha e pouco honesta. Já sentado, ao mostrar ao garçom minha garrafa, fui "informado", de uma forma até deselegante (no mínimo imprópria), que o restaurante cobrava taxa de rolha e que talvez valesse mais a pena eu comprar um vinho da carta. Ao perguntar o valor da taxa, o rapaz me informou que eu teria de pagar R$ 50 se quisesse abrir meu próprio vinho.

Fiquei bastante irritado com a situação e pedi para chamarem o gerente, que logo veio me explicando: "Sabe o que é, não é o caso do senhor, mas tem gente que abusa, por isso a diretoria pediu para aumentar a taxa..." Vendo a minha irritação apenas aumentar, o gerente disse que, "no meu caso", poderia cobrar apenas metade, ou seja, R$ 25. Aceitei a oferta, mas juro que pensei em levantar e ir embora, pois me senti tratado como alguém que estivesse mendigando para comer ali.

Mas o pior veio agora à noite... Como eu já digeri a boa carne do La Caballeriza, mas ainda não totalmente a história da taxa de rolha, resolvi ligar e perguntar novamente o valor. Resposta: "Senhor, a taxa é de R$ 25".

Sinceramente, se eu tinha a impressão de que fui tratado como um idiota, agora tenho a certeza. Provavelmente o garçom e o gerente viram que meu vinho não era um "grande vinho" (era um bom cabernet sauvignon chileno que guardei por alguns anos para abrir em um lugar bacana) e combinaram de me "incentivar" a comprar o vinho deles. Uma pena, pois o restaurante é bom, apesar de algumas escorregadas - hoje, a comida estava meio sem sal e a musse de chocolate era um "Danete").

Não foram mal educados comigo, muito pelo contrário. Até trocaram a sobremesa por outra e não a cobraram "pelo inconveniente". Mas que me trataram como um idiota, disso eu não tenho dúvida.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Nova moda: vinhos nacionais a preço de ouro

Tenho notado um estranho movimento no mercado de vinhos no Brasil que está me deixando bastante preocupado. Mais do que isso, está praticamente me proibindo de beber os vinhos produzidos no meu país.

Que vinho ainda é considerado uma "bebida de luxo" no Brasil e que os importados são caros em razão dos altos impostos e da ganância de alguns importadores, isso já é sabido. O que tem me chamado a atenção é a escalada dos preços dos vinhos nacionais, o que parece ir na contra-mão do esforço dos produtores de "popularizar" a bebida, tornando possível barateá-la para competir com importados baratos e, consequentemente, aumentar o ganho na escala.

Reparem que a cada ano nossos vinhos debutam em categorias cada vez mais altas, como se em pouco tempo estivéssemos conseguindo recuperar décadas de estagnação na produção de vinhos finos. Primeiro foram os "premium", depois os "super premium". Agora, parece que estamos tentando superar os melhores vinhos internacionais criando verdadeiros "mitos", antes mesmo de eles serem colocados no mercado, num esforço gigante de marketing. E isso inclui garrafas sendo vendidas a US$ 100, ao melhor estilo das vendas antecipadas dos grandes Bordeaux. E quem perder a reserva pagará o dobro nas lojas, já avisa o produtor. Hoje mesmo recebi um e-mail oferecendo o ótimo Storia, da Casa Valduga, a "módicos" R$ 120, também no esquema de venda antecipada.

A idéia deste post não é fazer o que já tem muita gente fazendo: falar mal dos vinhos nacionais. Nunca fui crítico dos nossos vinhos - ao contrário, sempre defendi a sua qualidade, ainda que reconhecendo que estamos em um estado inferior aos demais sulamericanos. Sempre acreditei e continuo acreditando que a tendência é melhorar.

O fato é que alguns produtores parecem ter perdido o bom-senso e estão boicotando o próprio vinho nacional, aumentando ainda mais o preconceito contra ele. Não me parece lúcido cobrar preço de Barolo e Brunello em vinhos evidentemente mais simples. Não há custo de produção que justifique isso. Como é possível encontrarmos um vinho brasileiro, no Brasil, custando quase o dobro de um Castelo di Ama, por exemplo? Ou no mesmo preço de um bom Barolo ou Brunello? Sem falar das centenas de vinhos chilenos e argentinos que estão disponíveis por muito menos que isso, com qualidade notadamente superior?

Enfim, tenho amigos produtores e vendedores de vinhos nacionais, mas nenhum deles conseguiu me convencer de que, do dia para a noite, começamos a produzir vinhos comparáveis ou mesmo superiores aos tops europeus - vejam que, na Itália, excelentes toscanos e piemonteses são vendidos a partir de 20 ou 30 euros. Os considerados caros, "tops", giram em torno de 40 a 60 euros.

A pergunta é: Por que um italiano bebe um bom Barolo a 40 euros e eu pago mais do que isso para beber o Storia? Coloquei essa questão a uma revendedora de vinhos brasileiros e ela me disse que também não entende e que inclusive já percebeu um movimento de clientes que pararam de comprar nacionais por conta da vertiginosa deterioração da relação entre preço e qualidade. Eu mesmo não consigo mais comprar vinhos nacionais, pois parece sempre haver um chileno ou argentino tão bom quanto ou melhor a preço mais baixo.

Será que a idéia é vender ilusão a gente que bebe rótulo? Talvez atingir um público esnobe, que vai começar a comprar vinhos nacionais porque, a julgar pelo preço, eles passaram a parecer tão bons quanto os importados? Alguém consegue me explicar a razão desse estranho movimento e aonde ele levará nossa indústria vitivinícola?

terça-feira, 20 de julho de 2010

Ótima experiência no Baby Beef Rubaiyat

Ano passado comentei, em diferentes fóruns da internet, sobre uma experiência ruim que tive no Figueira Rubaiyat, lugar ao qual eu já ia com pouca frequência, pois sempre achava a relação custo-benefício bastante discutível - apesar de o restaurante isentar o cliente do pagamento de rolha. Após essa experiência ruim, que passou pelo atendimento, comida e ambiente (aqui, falo sobre a "frequência", de "mauricinhos" e "patricinhas" mal educados), decidi nunca mais pisar no local.


Escrevo este post para fazer justiça com o grupo Rubaiyat. Da mesma forma que repercuti a experiência ruim do Figueira, tenho de registrar a ótima experiência que tive ontem no Baby Beef, a "casa de carnes" do grupo. Fui almoçar com a família no local, com meu vinho embaixo do braço (eles não cobram rolha) - um Orzada Cabernet Sauvignon 2003 que deveria estar fantástico, pois já estava magnífico 3 anos atrás, quando abri a última garrafa dessa safra. Mas não foi desta vez que tirei a prova, conforme comentarei mais para frente.

Nesta nova experiência com o grupo Rubaiyat, os elogios também passam pelo atendimento, comida e ambiente. Além da agilidade e cortezia dos garçons, que estavam sempre atentos e pacientes - meu filho aprontou o almoço todo -, a qualidade da comida e a excelente carta de vinhos fizeram a diferença. Apesar de eu ser adepto do "a la carte", acabei ficando no Buffet Mediterrâneo, que me seduziu pela variedade de itens, como peixes, frutos do mar, paella e carnes variadas - além das carnes da grelha, que estavam excelentes (comi o baby beef e a picanha). Desisti do vinho que levei, por conta do calor, e acabei pedindo o Redoma Branco, safra 2007, um belíssmo português, que acompanhou bem as entradas - camarão, pitu, carpaccio, queijos, entre outras.

No final, acabei não resistindo e pedi meia garrafa do sempre ótimo Marques de Riscal Reserva, que acompanhou muito bem os grelhados que encerraram o almoço. Na verdade, encerraram a "etapa salgada" do almoço, pois o buffet de doces - que costumo passar - desta vez foi devidamente visitado. A musse de chocolate e o doce de leite argentino na colher estavam simplesmente divinos!

Claro que a brincadeira não foi barata. Aliás, esse é um dos buffets mais caros que já comi - quase R$ 90, equivalente a Fogo de Chão e mais caro que Bar des Arts, especialmente para um almoço de segunda-feira. Mas valeu a pena, pois a experiência foi ótima, do início ao fim. Deixo aqui os parabéns à equipe do Baby Beef Rubaiyat, que me fez reconsiderar a opinião que tinha sobre o grupo após a trágica noite do ano passado no Figueira.

Mais informações: http://www.rubaiyat.com.br/restaurantes/alameda-santos

domingo, 18 de julho de 2010

Desabafo de um enófilo imbecil

É interessante e, ao mesmo tempo, desesperador, ver como muitas pessoas - para não dizer a maioria delas - deixam evidente a necessidade de criar verdades e respostas absolutas para as coisas.

No mundo do vinho isso não é diferente - talvez seja até mais evidente. Quanto mais o sujeito bebe, mais acredita que conhece vinho e mais tenta criar uma realidade que, para ele, deveria valer para todos. Alguns simplesmente se fecham em suas geniais e reconfortantes descobertas; outros, porém, tentam convencer o mundo de que descobriram o nirvana, aquele lugar ao qual nenhum outro homem foi capaz de chegar.

Um exemplo típico é a discussão a respeito da suposta superioridade dos vinhos europeus em relação aos vinhos do Novo Mundo - como se todos os vinhos da Europa fossem iguais e como se todos os vinhos do Novo Mundo tivessem o mesmo gosto e padrão de qualidade.

Frequento rodas de bebedores do Velho Mundo e de bebedores do Novo Mundo e, portanto, tenho bebido vinhos do mundo todo, o que me habilita a fazer alguns comentários a respeito dessa guerra sem vencedores. O primeiro deles é que esses "combatentes" não percebem que vinho é prazer e, portanto, é algo subjetivo, estritamente relacionado a experiências e gostos individuais. Claro que há padrões mínimos de qualidade, porém, esses padrões podem existir em diferentes contextos. Exemplo: os defensores dos vinhos tradicionais europeus criticam a fruta e o uso da madeira nos vinhos ditos, de forma pejorativa, "novomundistas"; já os amantes dos vinhos do Novo Mundo reclamam justamente da falta desses atributos nos vinhos mais tradicionais.

Também há os que gostam de vinhos mais potentes e jovens, que são duramente criticados por quem bebe vinhos quase moribundos, com aromas que, para o primeiro grupo, podem remeter à putrefação. Mas um bebedor de vinhos "evoluídos" - reparem o duplo sentido deste adjetivo - vai dizer que "agora sim o vinho está redondo, com tudo no lugar", como se existisse uma forma de bolo ou um quebra-cabeça a ser montado.

Outro clássico é a eterna batalha entre quem idolatra Barolo e quem acha que é na Toscana que se faz o melhor vinho da Itália. Entre Bordeaux e Borgonha é a mesma coisa. E ambos desgostam dos vinhos do Rhône, que são, supostamente, menos nobres do que os produzidos nos "grandes crus" da Borgonha ou de Bordeaux. Francês também vai dizer que vinho italiano é rústico e sem elegância... Mais um exemplo: já ouvi gente jurando que vinho branco é coisa para mulher e que homem bebe vinho tinto. Rosé, então, "só se o cara for gay"...

O ponto é: por que raios um dos dois grupos deveria estar certo se o vinho nada mais é do que a elaboração de uma bebida, pelo homem, a partir de matérias primas, equipamentos e outros recursos que ele encontra para produzir algo que o agrade e o deixe feliz? Fala-se de terroir e método de produção como se um fosse o certo e os demais "coisas da moda" ou "invencionices". Será que esse "certo" está escrito em algum livro sagrado ainda não descoberto por seres humanos imbecis como eu???

Tenho ficado meio de saco cheio dessas verdades absolutas e de tanto preconceito e arrogância no mundo do vinho. Já me peguei envergonhado de dizer que gostei de um vinho norte-americano, com bastante coco queimado, cujas uvas foram colhidas 5 anos atrás, em um grupo que só bebe vinhos do Piemonte com mais de 10 anos.

No fundo, o que eu acho é que as pessoas sentem a necessidade de conhecer a verdade e de se confortar e se acomodar nela. É complicado admitir que, mesmo bebendo vinho há 30, 40 ou 50 anos, ainda é possível se surpreender com algo diferente, nunca provado - ou provado, mas em outro momento, outra safra, com outra companhia, em outra situação. Ter de admitir que ainda não sabemos nada, por mais que busquemos conhecer esse fantástico e enigmático mundo do vinho, parece causar desconforto e angústia.

A verdade, se é que ela existe, é que é muito mais cômodo acreditar que descobrimos o que é melhor para nós e para a humanidade do que admitir que as coisas mudam a cada dia, inclusive nós mesmos. Somos muito mais felizes assim, fechados em nossas verdades, na nossa eterna e ignorante sabedoria.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Imperdível: Amarone Tops na Sbav-SP

Na noite do próximo dia 13 de agosto, um grupo de felizardos terá a oportunidade de beber 7 dos mais renomados Amarone della Valpolicella, entre eles os excelentes Dal Forno Romano, que ultrapassa os R$ 1 mil no mercado Brasileiro, o pioneiro Quintarelli e um Bertani de 1968.

Elaborados no Vêneto principalmente a partir das castas corvina, molinara e rondinella, esses vinhos são especialmente encorpados, saborosos e alcoólicos em razão do método de elaboração: após colhidas, as uvas são colocadas para secar, em bandejas, até ficarem semi-passificadas, com grande concentração de açúcar e extrato, o que confere corpo e consistência à bebida.

Particularmente sou um apaixonado por esse vinho e considero esse evento um dos mais interessantes do ano. Serão formados grupos de 12 pessoas para cada bateria de vinhos, ao custo de R$ 600, que podem ser parcelados. O primeiro grupo acaba de ser fechado - fiz a minha inscrição!

Vinhos da degustação:
  • Dal Forno Romano Amarone DOC 2003
  • Giuseppe Quintarelli Amarone della Valpolicella Classico 1998
  • Bertani Amarone della Valpolicella Classico Superiore 1968
  • Tomaso Bussola Amarone Classico Vigneto Alto 2004
  • Masi Mazzano Amarone della Valpolicella 2001
  • Stefano Accordini Acinatico Amarone Classico 2005
  • Azienda Agricola Erbice Villa Erbice Vigneto Tremenel Amarone della Valpolicella DOC 2001
Após o evento, será servido um jantar, ao custo de R$ 60. Para acompanhar, cada participante poderá levar o seu vinho - se ainda conseguir beber alguma coisa após essa "overdose" de Amarone, claro.

Mais informações: 11 3814-7905 (falar com Nelson)

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Viña Magaña Gran Reserva 1985

Citei este rótulo no post sobre vinhos evoluídos à venda no mercado brasileiro, por isso farei um breve comentário sobre a experiência que tive ontem à noite.

Trata-se de um espanhol produzido pela Viña Magaña na região de Navarra, com corte essencialmente bordalês (70% merlot, 15% cabernet savignon e 15% de outras), maturado 24 meses em barricas semi-novas de carvalho francês e 36 meses em garrafa. Teor alcoólico de 13%.

Abri a garrafa com o saca-rolhas padrão, de rosca e, é claro, a rolha não aguentou... Para um vinho de 25 anos, até que a rolha não estava tão comprometida, mas não tinha mais firmeza suficiente para o uso de um equipamento como esse - claro que o saca-rolhas de haste, próprio para essas ocasiões, era o mais indicado. Mas a pressa às vezes é inimiga da perfeição. Uma vez que a garrafa e o rótulo estavam perfeitos, como se o vinho tivesse sido engarrafado ontem, supus que não seria necessário tanto cuidado com a rolha. Resolvi o problema passando o vinho para o decanter, usando uma peneira fina para segurar os poucos farelos da rolha que caíram na bebida.


Ainda no decanter me surpreendi com o vinho, pois estava bem denso, com uma cor rubi escuro e quase nenhum resíduo. Passei para a taça e a aparência continuou a de um vinho não tão evoluído, mas um pouco mais claro do que o impacto inicial no decanter. O halo mais claro, puxando para o tijolo, ficou visível na taça, mas muito discreto, apesar do quarto de século de idade desse vinho.

No nariz, aromas bastante austeros, quase que 100% terciários, trazendo de fruta apenas uma sutil uva apassitada - muito sutil mesmo. Predominavam o couro, um leve defumado e até um toque mineral. Após aerar um pouco, apareceu um chocolate muito interessante, cuja doçura na boca tornou o vinho delicioso depois de meia hora de decanter. Esse bom espanhol ainda guardava ótima acidez, mas já mostrava menos potência do que provavelmente teve há uma década. Isso não me incomodou nem um pouco, pois adoro vinhos elegantes, e esse era um lord. Taninos adocicados, álcool discreto, muito fácil de beber.

Por fim, digo apenas que é um vinho para ser bebido já. Não creio que guardá-lo será uma boa idéia. Por isso beberei as 2 garrafas que me restam nos próximos 12 meses.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Comprando vinhos evoluídos: Parte II

Os espanhois são mestres em "criar" seus vinhos, deixando-os amadurecer, de forma que nós, enófilos, possamos degustá-los na hora certa, sem pressa. Por conta desta característica dos bons vinhos da Espanha, especialmente os de Rioja, sou cada vez mais fã desse país, incluindo sua gastronomia, com as paellas, que são a minha perdição. Não gosto muito das touradas, pois acho um esporte covarde. Se é que isso é um esporte... Mas até que na bola eles têm mostrado um bom trabalho, assim como nas pistas de Fórmula 1.

Voltando aos vinhos, deixo aqui mais algumas dicas de rótulos evoluídos disponíveis para compra. Desta vez garimpei na Vinci Vinhos e encontrei coisas boas, como opções da excelente Viña Tondonia. Deste produtor, estão disponíveis o Viña Bosconia Reserva 1999 e o Viña Tondonia Reserva 1999. Também de Rioja, a importadora oferece o Viña del Olivo Reserva 1999 (Viñedos del Contino). Apesar de não ter sido uma grande safra, não tenho me decepcionado com os 1999 de Rioja. Para quem quer uma aventura mais ousada, vale colocar as fichas no Viña Magaña Gran Reserva 1985, de Navarra, também na Espanha. Este eu deverei provar nos próximos dias.


De Portugal, a Vinci oferece o Dão Porta dos Cavaleiros Reserva 1985 (Caves São João), que custa salgados R$ 391,42. O risco aqui é maior - para quem gosta de fortes emoções, é um prato cheio!


Mais detalhes: www.vincivinhos.com.br

domingo, 4 de julho de 2010

Ráscal: para comer e beber bem de forma descontraída

Já mencionei aqui que um dos lugares em que vou frequentemente e levo meus vinhos é o Ráscal. Geralmente almoço aos finais de semana ou janto, qualquer dia da semana, na unidade do Shopping Vila Lobos, onde os dois sommeliers prestam um ótimo serviço. Apesar de não cobrarem rolha, mais de uma vez cheguei com a minha garrafa embaixo do braço e voltei para casa com ela, pois a carta é bastante completa e não enfia a faca no cliente.

O Ráscal é um dos raros restaurantes que, em vez de usar o vinho para alavancar a receita, utiliza a bebida para valorizar a comida - e essa é a principal função do vinho. Aliás, ao contrário do que podem dizer alguns "narizes empinados", no Ráscal cozinha rápida está longe de ser sinônimo de comida mal feita. Para mim, é um dos melhores lugares para se comer, seja pelo ambiente, seja pela comida e mesmo pelo preço.

Claro que não se deve esperar o atendimento e o tipo de refeição feita em um restaurante de alta gastronomia. Porém, posso dizer que já comi no Ráscal melhor do que em muitos restaurantes supostamente estrelados. De cabrito e pato a ossubuco, passando pelas várias opções de massa, o que não falta é opção. Isso sem falar da mesa de saladas, que é a minha perdição - não foram poucas as vezes que fiquei apenas nela. O carpaccio é excelente. Muitas vezes comi apenas ele, acompanhado de lascas de parmesão, pão e azeite. E, é claro, um belo branco - o Errazuriz Reserva Sauvignon Blanc, já citado em posts anteriores, é uma boa pedida. Mas para quem gosta de tintos há excelentes opções, tanto do Novo quanto do Velho Mundo.

Hoje, almocei na unidade do Shopping Higienópolis, na área externa, e tive mais uma ótima experiência. É um restaurante que me cativa cada dia mais. Para quem tem filhos, então, é um programa certeiro, pois ninguém (ou quase ninguém) vai ali para paquerar ou fazer um jantar romântico.

Apesar de trabalhar a duas quadras da unidade localizada na Alameda Santos, detesto almoçar lá em dia de semana. É impossível entrar no Ráscal e não gastar pelo menos 2 horas por lá, comendo bem e bebendo bons vinhos - a carte deles é bastante atraente, com preços abaixo da concorrência.

Mais informações: http://www.rascal.com.br

Picagli: comida da nonna no Alto da Lapa

Ontem à noite resolvi conhecer um restaurante que há tempos programava ir, indicado pelo amigo Esper. Trata-se do italiano Picagli, no Alto da Lapa, nas proximidades da Pio XI e da Tito. Como de costume, liguei antecipadamente para o lugar e questionei sobre a possibilidade de levar meu próprio vinho. A resposta foi positiva, e sem cobrança de rolha, com a justificativa de que a casa não oferece muitas opções para o cliente. O que é verdade, pois a "carta" traz meia-dúzia de rótulos como Santa Helena e Lambruscos.

Apesar de morar na região, tive alguma dificuldade para encontrar o restaurante - o GPS se perdeu e me levou com ele. Tive de me virar sozinho e, depois de alguns minutos procurando placas, acabei entrando em uma rua bastante escura, silenciosa e vazia. Cheguei à frente de uma praça, também escura, e imaginei que fosse esssa a referência do site. O número 451 da rua Araçatuba identificava a fachada de uma casa, com luzes apagadas e sem sinal de vida, apesar de já serem 19h05 - o restaurante promete abrir às 19h.

Com bastante receio de ficar parado ali, esperando - já fui assaltado em situação bem menos propícia -, decidi dar uma volta e ligar para o restaurante do meu celular. Uma simpática mulher me atendeu e disse que abriria a casa para mim. Parei novamente na porta e um garçom, também atencioso, nos recebeu e nos pediu que escolhêssemos a mesa.

Se eu já estava de orelha em pé por conta dos episódios precedentes, fiquei ainda mais preocupado quando entrei no salão e senti um forte cheiro de mofo no ar... Lembrei do Esper e pensei: "onde esse cara foi me meter!" Mas já que eu estava ali, decidi não recuar, apesar dos olhares de reprovação da minha esposa.

Nos sentamos e, sem vacilar, pedi ao garçom - o único do restaurante - que abrisse a minha garrafa, um belo Langhe, o Mandaccione, safra 2000. Ouvi o ruído da rolha sendo retirada no bar, longe dos meus olhos, mas mesmo assim comecei a me animar. No mínimo beberia bem e, com certeza, pelo menos a comida deveria ser ótima, pois o amigo Esper não é lá uma pessoa muito tolerante com a mediocridade.

Recebi minha garrafa, aberta, e duas taças de vidro grosso, pequenas, daquelas que só encontramos no Bixiga para saborear o "vinho da casa". O garçom pediu para que eu provasse o vinho, que já estava devidamente embrulhado em um guardanapo vermelho, e então o serviu - claro que tive de pedir para ele parar antes de a taça transbordar.

Naquele instante, me senti em uma típica trattoria italiana, com paredes forradas de tecido, piso velho de madeira, além da administração mais do que familiar - aparentemente só o garçom não era um Picagli. Daí em diante resolvi relaxar - até porque o vinho realmente estava muito bom, apesar da taça "cantineira". Além de nós, apenas mais uma mesa foi ocupada por dois casas na faixa de 60 a 70 anos, o que tornou o ambiente ainda mais nostálgico.

Começamos os pedidos. Para o meu filho, solicitamos um paillard de filé acompanhado de fetutine na manteiga e manjericão. Como primeiro prato, dividi com minha esposa uma polenta com calabresa. Para o prato principal, solicitamos um raviole de ricota romana e alcachofra, ao molho de tomate. Para a minha felicidade, a previsão de comer muito bem se concretizou. Aliás, superou as expectativas, pois não apenas comemos bem, como me senti na casa da minha nonna, 25 anos atrás, quando ela preparava a comida caseira mais deliciosa "à italiana" que já comi. O fetutine do meu filho veio parar no meu prato também, pois estala levissímo e saboroso, apesar dos poucos ingredientes. A massa, "al dente", era a mais caseira possível, feita provavelmente naquele dia. Uma simplicidade só, mas deliciosa, coisa que não se encontra em restaurantes hoje em dia.

Na sequência, me servi da polenta, e aqui está o ponto altíssimo da noite. Foi a melhor polenta que já comi na minha vida! Cremosa como eu nunca imaginei encontrar um dia, com sabor delicado e integrado ao molho de linguiça calabresa, picante e muito saboroso. Eu teria pedido outra polenta como prato principal, talvez acompanhando o polpetone - segundo o amigo Esper, esse bate até o do Jardim di Napoli.

Finalizada a "bella polenta", o garçom trouxe o raviole, que também estava delicioso. Massa caseiríssima, muito leve e com recheio na medida certa. Não estava "al dente", como o fetutine, mas demos um desconto, pois o conjunto estava perfeito. O molho, um "sugo" saboroso e também delicado, sem excesso de tempero, alho e ervas, o que às vezes o deixa indigesto. Foi outra boa experiência, que igualmente me fez lembrar da minha avó.

Por fim, resolvemos pedir sobremesa, já que, apesar de termos comido muito bem, estávamos com o estômago leve. Solicitamos torta de limão e o sorvete de amêndoas, feito na própria casa. Ambos os doces estavam bons e fecharam bem a nossa experiência, possivelmente a mais inusitada dos últimos tempos.

O Picagli é um lugar para quem gosta de boa comida, mas simples e sem frescura. Deve-se dar um desconto ao cheiro de mofo e às taças, pois a boa refeição que se faz por lá compensa. Recomendo ir no almoço de domingo, quando o lugar possivelmente fica mais iluminado, animado e seguro - naquela rua escura e vazia, não colocar um segurança na porta à noite é quase um suicídio.

Não contarei a história do restaurante, pois tudo isso pode ser encontrado no seu site: http://www.picagli.com.br/

Por fim, faço um agradecimento ao amigo Esper pela dica!

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Sbav abre inscrições para curso em julho

Sempre que me pedem dica de onde começar a aprender sobre vinhos, recomendo os cursos da Sbav, que em 2010 completa 30 anos de história - é a mais antiga confraria de vinhos do país. Trata-se de uma associação muito séria e que tem como único e nobre objetivo disseminar a cultura do vinho.

Na próxima semana, a Sbav inicia mais uma turma do seu curso básico, que busca introduzir o interessado no mundo do vinho e passar a ele os principais conceitos sobre o assunto. São 4 aulas, nos dias 7, 14, 21 e 28 de julho, que abordarão pontos como história, tipos de uvas e vinhos, processos de vinificação, técnicas de degustação, serviço, harmonização, escolha e compra do vinho, entre outros temas.


Recomendo fortemente os cursos da Sbav, pois foi nessa escola que comecei a aprender sobre vinhos e onde também conheci pessoas fantásticas, que, além de bons amigos, até hoje me ensinam a apreciar, cada vez mais e melhor, a bebida de Bacco.

O valor do curso é de R$ 390, que pode ser pago em 3 vezes. Sócios da Sbav pagam R$ 330.

Mais informações: 11 3814-7905 (Nelson)