sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Serra Gaúcha III: Vale dos Vinhedos

Após quatro agradáveis dias em Gramado, parti para Bento Gonçalves, onde a coisa seria mais séria... Fiquei hospedado no sempre bom Villa Michelon, no coração do Vale dos Vinhedos, que me serviu de base para descansar e para fazer as refeições da noite, sempre acompanhadas de vinhos, claro – a carta do hotel traz uma seleção razoável de vinhos a bons preços.


Durante o dia, a bateção de perna era nas vinícolas, algumas já antigas conhecidas minhas, como a Salton (foto acima), outras gratas surpresas, conforme comentarei brevemente a seguir.

MioloA primeira vinícola visitada foi a Miolo, a poucos metros do hotel, onde pude, mais uma vez, constatar o pioneirismo dessa empresa na criação de uma estrutura profissional para receber turistas. Ali, todo o esquema gira em torno do visitante, que pode chegar a qualquer momento e se juntar a um grupo para uma visita guiada, com direito a degustação de vinhos no final, em uma sala moderna, construída especialmente para degustações, cursos e palestras.

O lugar chama a atenção não apenas pela organização e grandiosidade, mas também por detalhes como um mini-parreiral com todas as cepas cultivadas pela Miolo, em um espaço próximo ao prédio da vinícola, onde o visitante pode observar as principais características visuais de cada cepa.

No varejo da Miolo, o visitante pode comprar não apenas os vinhos, mas também acessórios e alimentos, como queijos, embutidos e doces, produzidos por parceiros da região. Lá, paga-se cerca de R$ 60 nos melhores vinhos da vinícola, como o Lote 43, cujas safras disponíveis na ocasião eram a 2002 e a 2004 – recomendo a compra da 2004, que está mais redonda do que a anterior.

Lidio CarraroPara contrastar com a experiência que tivemos na Miolo, saímos de lá e formos direto para a vizinha Lidio Carraro, uma vinícola familiar, mas que já se destaca pelos bons vinhos e por ter sido a primeira empresa de vinhos nacional a comercializar seus produtos nos aeroportos, nas lojas Duty Free – hoje, outras vinícolas vendem seus produtos nessas lojas.

Provamos os principais vinhos da Lidio Carraro, que confirmaram as minhas expectativas de bons vinhos. Chamou a atenção o nebbiolo elaborado pela vinícola e vendido a preço de barolo. Esse eu não provei, mas, por muita curiosidade, comprei uma garrafa para provar aqui em São Paulo. Claro que eu não espero que seja um barolo, nem um barbaresco, já que, além da cepa, o terroir é fundamental para o resultado final de um vinho. Se for um ótimo vinho brasileiro já terá valido a experiência.

O destaque da vinícola é a simplicidade e simpatia dos filhos do senhor Lidio Carraro, que, ao lado da mãe, tocam a empresa de forma muito competente. Quem chega à vinícola é saudado por eles já na porta da casa onde acontecem a apresentação e degustação dos vinhos.

Casa Valduga
A Casa Valduga foi a única vinícola que atendeu ao telefone no dia 1º de janeiro e, para que o dia não fosse perdido, além de estar aberta para visitação, também nos recebeu para almoçar em seu restaurante.

Sobre os vinhos, recomendo os espumantes, mesmo o da linha mais básica, feito pelo método tradicional (champenoise). Não se faz espumante pelo método charmat na Casa Valduga. Recomendo também o Chardonnay Grand Reserva, um dos melhores nacionais que já bebi com essa cepa (achei melhor até do que o badalado Villa Francioni) e, entre os tintos, destaco o Mundvs Malbec, também um dos melhores malbec nacionais.

Para quem não tem filhos, é possível se hospedar na pousada da Casa Valduga.

VallontanoA visita à Vallontano foi rápida, mas muito agradável. O espaço para degustação fica anexo a um pequeno bistrô, em frente ao galpão da vinícola, onde é possível fazer refeições rápidas. Fiquei apenas na experimentação dos vinhos. Todos equilibrados e agradáveis, mantendo um padrão que justifica a escolha dessa vinícola, pela Mistral, para a distribuição também de vinhos nacionais. Destaco o espumante brut deles, bastante refrescante e equilibrado.

PizzatoFui recebido na Pizzato com a mesma simpatia de cinco anos atrás. Mas hoje a vinícola está mais profissional no trato com o visitante, sem aquela coisa intimista de quando bebi, pela primeira vez, o lendário Merlot 1999.

Como sempre, bebi bons vinhos. Desta vez, a variedade era bem maior, não se limitando apenas à cabernet sauvignon e à merlot. Os rótulos também mudaram e agora são mais claros, passando um misto de sofisticação e modernidade. O destaque fica para a linha básica, chamada Fausto, cujo preço é de R$ 18 na vinícola. Tanto o cabernet sauvignon quanto o merlot são excelentes opções para o dia-a-dia.

Sobre o Merlot 1999, claro que eu não pude deixar de perguntar... Ainda restam poucas garrafas – menos de 20, segundo a simpática moça que me atendeu. Mas para comprar é necessário adquirir um kit com outros vinhos da Pizzato, que vêm em uma bela caixa de madeira, ao custo de algo em torno de R$ 350.

Don LaurindoNa Don Laurindo, tive minha maior decepção na incursão ao Vale dos Vinhedos. Ao contrário das boas experiências das últimas visitas à vinícola, desta vez bebi vinhos aparentemente desequilibrados – taninos duros, gosto herbáceo, acidez e álcool muito elevados. Pelos bons vinhos que já bebi dessa vinícola no passado – sendo o assemblage (cabernet sauvignon/merlot) 2001 o melhor deles –, acredito que possa ser algo pontual. Tirarei a prova em outra ocasião.

MilantinoA pequeníssima vinícola Milantino, que fica metros atrás da Don Laurindo, me proporcionou uma experiência mais agradável do que a vizinha. Não encontrei ali nada excepcional, mas sim bons tintos, um espumante brut tradicional muito equilibrado e um malvasia de cândia bem interessante. Entre os tintos, destaco a ancelota, que ironicamente é uma casta produzida, se não me engano de forma pioneira no Brasil, pelo vizinho Don Laurindo.

Salton
Voltar à Salton era algo que eu esperava há bastante tempo. Estive lá pela última vez cinco anos atrás, quando a construção da nova sede, em Tuiuty, distrito de Bento Gonçalves, estava quase no final. Mas já mostrava a grandiosidade que seria quando pronta. E realmente ficou imponente, digna de um dos líderes no mercado de vinhos finos no Brasil.

Fizemos uma breve visita às instalações da vinícola, que realmente impressiona pela quantidade de equipamentos e tanques de inox. Fomos guiados por um dos estagiários de enologia da casa, que de forma competente nos mostrou a empresa e comentou sobre o processo de produção dos vinhos.

Ao final da caminhada, descemos ao varejo da Salton, onde bebi novamente o consagrado Talento e conheci alguns vinhos que não encontramos em todo lugar: o Salton Intenso, por exemplo, um colheita tardia que lembrou bastante no nariz o Vin Santo. Também provei dois frisantes excelentes para se beber na beira da piscina – um branco e outro rose, ambos da linha Salton Lunae, a cerca de R$ 10 a garrafa.

O melhor do dia, no entanto, estava reservado para o almoço: o restaurante Pignatella. Comento sobre essa experiência no texto a seguir.

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