sábado, 4 de setembro de 2010

Enogastronomia e a armadilha do bom gosto

Cada dia que passa estou mais chato com relação a certas situações, e isso não necessariamente tem a ver com a idade, mas certamente tem se agravado com o avanço dela. Por exemplo, hoje em dia eu não vou mais a "baladas", pois o fato de ser revistado na entrada e de ser tratado como mais um moleque louco por uma cerveja me deixa extremamente irritado. Ficar em filas de espera e ser servido como um morto de forme, por um garçom que parece estar fazendo um favor, é outra situação que não aceito mais, fato que também tem me afastado de lugares da moda.

E esse meu "mau humor" se aplica igualmente aos meus "hábitos alimentares". Está cada vez mais difícil escolher um lugar para jantar ou almoçar, pois o conjunto de fatores que passei a considerar no meu CFG (Coeficiente de Felicidade Gastronômica) está cada vez maior e mais complexo. Por exemplo, não consigo mais ir a um bom restaurante italiano ou francês e não beber um bom vinho. Mesmo em uma cantina italiana ou em um restaurante mais simples não me vejo bebendo outra coisa. A idéia de comer uma massa ou um risoto acompanhado de cerveja ou qualquer outra bebida me embrulha o estômago. Sempre fui bebedor de cerveja, coisa que ainda faço bastante, mas quase sempre em bares, churrascos, pubs ou situações específicas. Mas raramente saio do vinho quando quero fazer uma refeição de verdade.

Esse "fenômeno" tem se agravado nos últimos tempos e talvez explique a minha busca por restaurantes que não apenas sirvam boa comida e tenham bom atendimento, mas que também ofereçam boa e honesta carta de vinhos ou que permitam ao cliente trazer sua própria garrafa, a uma taxa justa. O fato é que, hoje, um almoço ou um jantar não são mais, para mim, apenas uma refeição. São momentos em que não quero mais apenas matar a fome; são, principalmente, eventos em que busco alcançar o maior prazer possível. E isso se aplica ao simples almoço que antes eu costumava fazer rapidamente, apenas para matar a fome durante um passeio, e que agora passaram a ser o momento principal da programação. O passeio passou a girar em torno da refeição!

Aparentemente, não há nada de mal em encarar a vida dessa forma, não fosse o "sofrimento" e o custo decorrentes disso. Trocar uma pizza com cerveja por um espaguete aos frutos do mar acompanhado de um belo riesling não é trocar seis por meia dúzia em termos financeiros. Ir ao shopping fazer compras e trocar o filé com fritas e o refrigerante da praça de alimentação pelo buffet do Bar des Arts ou pelo Ruffino's também não é lá uma troca equilibrada. É sair, literalmente, da água para o vinho, com todos os custos e as dificuldades que isso implica no Brasil.

Tenho percebido que, além de mais chato e crítico, possivelmente eu esteja menos feliz, pois não é fácil comer e beber bem o tempo todo. O que me fazia feliz há cinco anos já não me empolga mais, e cada dia que passa eu tenho mais dificuldade para tirar prazer de uma refeição, poir mais paradoxal que isso possa parecer, já que, hoje, eu tenho muito mais conhecimento, repertório, capacidade e sensibilidade para isso.

Descobri essa "armadilha enogastronômica" pouco tempo atrás, numa noite em que eu tinha pouco tempo e dinheiro para gastar. Ao pesquisar em revistas e na internet um lugar que atendesse a esses requisitos e que, ao mesmo tempo, tivesse a qualidade desejada, descobri que teria de ficar em casa mesmo e pedir uma pizza. Mas onde pedir uma pizza de alta qualidade, digna de acompanhar um belo vinho, que já estava pronto para ser abatido na minha adega?

3 comentários:

Stupid disse...

Paulo, aproveitando o seu post e vendo que pediu uma pizza, acho que seria legal se pudesse falar sobre as harmonizações do vinho com o famoso disquinho redondo.

Muitos pensam que pizza é a mesma coisa e se esquecem que cada qual tem um recheio distinto, além do molho, o que faz com que possamos ter um vinho especifico para cada uma delas.

Paulo Sampaio disse...

Boa sugestão! Realmente uma boa pizza pede um vinho que se adeque a ela. Não é tudo a mesma coisa, não. Vou postar algo sobre isso. Obrigado!

Lilian disse...

Nooossa amigo que depre hahaha, mas em certo ponto eu te entendo, to passando por isso tbem, em menor intensidade mas estou. Também cansei de lugares da moda, com aquele pessoal chatinho, filas e brigas na entrada e saida. Hoje nada melhor que uma festinha na casa de amigo, cinema, teatro... É um momento da vida mesmo, não esquenta!!!! Mas não caia na armadilha de ficar uma pessoa solitária e amargurada kkkk uma pizza com cerveja com os amigos é bem melhor do que uma comida sofisticada solitária!!!!

Se cuida, e mais sorte nas suas aventuras gastronomicas!!!

Bjuus