domingo, 17 de fevereiro de 2008

Por que lambrusco?

Festa de formatura de um amigo. Eu me preparo psicologicamente para sobreviver, com outros 5 mil incautos, a uma maratona que começa na entrada do estacionamento. Pela bagatela de R$ 25 você pára o carro no "estacionamento oficial" e tem a certeza (será?) de que seu carro estará ali, paradinho, quando decidir voltar para casa.

Bom, não vim aqui para falar de estacionamento, de atendimento dos garçons, de vinho quente ou de comida fria. Parei para escrever sobre algo que me deixar “intrigado”, se é que a palavra é essa, em 90% das festas de formatura para as quais sou convidado. Por que lambrusco?

A primeira resposta que me vem à cabeça é preço. Por algo em torno de R$ 15 você entra em um supermercado e sai de lá com uma garrafa da bendita bebida, chamada por muitos de vinhos e, por outros maldosos como eu, de refrigerante à base de uva para acompanhar a pesada comida que se serve na Emilia Romana, na Itália, de onde são enviadas para o mundo milhares de garrafas dessa preciosidade de frisante. Já ouvi de entendidos que há os bons lambruscos lá também. Mas estes, sabe-se lá por que, não vem para o Brasil...

Voltando aos fatos. Sempre me ocorre, quando vejo o garçom com a garrafa na mão, que a idéia foi economizar. Afinal, para que gastar R$ 25 em um vinho mediano – mas bebível – se você pode comprar um lambrusco pela metade do preço. Quem vai notar que não se trata de um “champanhe” ou de um “prosecco”, como dizem por aí aqueles que apenas querem beber algo que faça bolhas e se divertir?

O fato é que virou febre. Tem festa? Tem lambrusco! Do amabile “tinto”, que te coloca no banheiro em questão de horas, ao branco seco, que no sufoco até dá para encarar, lá pelas 3h da manhã, quando a banda começa a tocar axé e afins – o lambrusco deixa de ser o maior problema nessa hora.

Mas por que lambrusco? Além do preço, acredito que sirva também para economizar ar condicionado. Servir um tinto honesto para 5 mil pessoas seria o mesmo que jogar gasolina dentro da fornalha. Tem que ser bebida gelada mesmo – em tese, já que ela quase sempre chega “morna” na sua taça. Será que dispensar saca-rolhas e agilizar o serviço também ajuda a explicar a “febre emiliana”? Acredito que sim. É uma razão prática e objetiva para se servir esse tipo de vinho.

Pensando nesse tema de grande relevância para a humanidade lá pelas 3h da madrugada, acabo concluindo que o fator decisório mais relevante para a seleção da nobre bebida da Emilia Romana é mesmo a boa aceitação pelo brasileiro. Fiquei observando os formandos e seus familiares e amigos beberem garrafas e garrafas do branco amabile, como se fosse água, e concluí que “o povo” gosta! Ou pelo menos é indiferente, o que dá na mesma. Muito provavelmente pela falta de hábito de beber vinhos de melhor qualidade, lambrusco barato serve como uma luva em festas como essa, com muita gente e pouco tempo para se perder pensando na qualidade do vinho.

Ouvi gente pedir ao garçom que enchesse a taça de “prosecco” e “champanhe” a noite toda. Falavam do lambrusco, claro. Para que investir um pouco a mais e comprar um espumante de melhor qualidade se o lambrusco passa fácil por champanhe e prosecco para a massa? Alguém ali sabe a diferença, além de meia-dúzia de mal humorados como eu, que nada poderão fazer para mudar essa realidade no mundo das festas de formatura?

Desta vez, graças a um amigo, o formando que me convidou para a festa, não tive de beber lambrusco. O iluminado graduando levou duas garrafas do Cave Geisse Brut para salvar a minha noite. E o mais interessante: não dividi as garrafas de Cave Geisse com ninguém! O pessoal preferiu o “champanhe” ou “prosseco” mais docinho... Tenho de admitir que o lambrusco foi, mais uma vez, a grande estrela da festa de formatura!