quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Um brinde à nova Sbav que está nascendo!

Amanhã a Sbav realiza o jantar de final do ano que marca sua terceira década de história. A primeira confraria organizada do Brasil comemora 30 anos de muita contribuição para a cultura do vinho. De lá, saíram experts, sommeliers e apaixonados pelo vinho em geral. A Sbav foi o berço de muitas outras entidades, entre elas a ABS. Muita gente boa aprendeu sobre vinho na associação e, hoje, faz fama escrevendo, criticando e falando sobre a bebida de Bacco.

Este é um ano especial para a Sbav. Não pela comemoração das três décadas, mas, principalmente, porque 2010 será um divisor de águas para a associação. Neste ano a Sbav provou, tardiamente, as dores da adolescência. Viveu tempos nebulosos e de incerteza. Viu-se madura no espelho, mas um tanto inexperiente e, ao mesmo tempo, combalida, precisando rever conceitos e se reinventar.

Amanhã, os verdadeiros amigos do vinho - e da querida Sbav - estarão na sede da associação, na nobre sala da Gabriel Monteiro da Silva, em São Paulo, para brindar não somente o final de um ano especial, mas, principalmente, o início de uma nova Era. Novos tempos virão, convidados e liderados por quem vai reerguer a velha, porém novíssima, associação. A tradicional Sbav dará a volta por cima e ressurgirá no cenário nacional do vinho com força máxima em 2011.

Convido a todas a acompanhar o nascimento de uma Sbav vigorosa e atual, mas que respeita e valoriza sua tradição. Será uma Sbav única, rica, cheia de conhecimento e, mais do que tudo, conduzida por gente que ama o vinho e faz justiça ao nome da associação.

Parabéns, Sbav!

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Essa envergonharia até o desinibido Berlusconi

Publico, a seguir, o alerta distribuído pelo amigo e confrade Aguinaldo Záckia a respeito de um absurdo vivido por ele na terra de Dante. O texto já está correndo na internet, mas não custa reforçar.

Assim, ninguém poderá dizer que não foi avisado caso seja obrigado a abandonar um Sassicaia ou algo parecido no hall de algum aeroporto italiano.

Aguinaldo, sou solidário a você, mas fico triste mesmo por ter perdido a chance de degustar o Schidione abandonado...


AVISO IMPORTANTE AOS AMANTES DO VINHO

TUTTO MENO ALITALIA!
 
Por AGUINALDO ZÁCKIA ALBERT

Como filiado que sou da FIJEV - Fédération Internationale des Journalistes et Écrivains du Vin et Spiritueux, fui convidado a fazer um tour pelas regiões vinícolas da Toscana, juntamente com jornalistas de vários países.

Organizado pela REGIONE TOSCANA, tivemos oportunidade de visitar alguns dos melhores produtores de Montepulciano, Montalcino, Morelino di Scansano e Maremma, onde fomos recebidos de forma calorosa por seus vinhateiros e provamos grandes vinhos. Uma viagem a ser guardada com carinho na memória.

O roteiro terminou num domingo de manhã, em Suvereto, de onde partimos para Firenze. Cheguei por volta das 11:00 e, como meu voo era noturno, peguei um táxi e rumei para Firenze per fare una passegiatta e rever ao menos a cópia da estátua de David, de Michelangelo, na Piazza della Signoria, defronte ao Pallazzo Vechio (os funcionários dos museus estavam em greve).

Uma boa pasta acompanhada de um bicchieri di vino e estava almoçado. Enquanto tomava um café, pude ouvir uma excelente contralto russa que cantava na praça algumas das melhores passagens da ópera italiana.

Estava profundamente feliz e agradecido por poder estar vivo e estar ali, desfrutando de toda aquela beleza, depois de fazer um belo roteiro de vinhos. Sem dúvida um grande privilégio. Poderia haver alguém lá em cima - por que não? - e esse alguém podia até mesmo se interessar por mim. Muita gente acredita nisso.

Depois dessa tarde maravilhosa, peguei um táxi e rumei para o aeroporto de Firenze, onde pegaria um voo para Roma e, depois, para São Paulo. Começaram aí os meus problemas e a Divina Comédia quando tive que me confrontar com uma empresa aérea chamada Alitalia. Fazendo o caminho inverso do grande Dante, saí do Céu e fui lançado ao Inferno, sem passar pelo Purgatório.

Comedido como sou, levei comigo apenas três singelas garrafas de bons vinhos, um Schidione e um Brunello de Montalcino, que comprei, e mais um Brunello, que ganhei. Levava também comigo duas pequenas garrafas e uma latinha do delicioso azeite da região recém elaborado que ganhara de alguns produtores. Lembro que a lei brasileira permite que entremos no Brasil com até 12 litros!

Como sempre faço (e faço isso inúmeras vezes ao ano, em viagens à Europa, e mesmo à Itália) embalei os vasilhames bem protegidos em uma caixa de 6 garrafas de papelão de vinho, que tive o cuidado de embalar em plástico (mais 10,00 Euros pro beleléu). Como não se pode levar líquido como bagagem de mão, tentei embarcar a caixa juntamente com minha pequena valise. Tinha comigo apenas mais uma mala.

E não é que fui impedido de embarcar com os azeites e os vinhos! O pessoal da ALITALIA se mostrou absolutamente intransigente, mesmo depois de ter me identificado como jornalista de vinhos e ter inclusive mostrado minha carteira profissional e o convite da REGIONE TOSCANA. Falei com várias pessoas e discuti asperamente - em bom italiano, depois em inglês - diante do absurdo de tal situação, mas nada consegui, nem mesmo me propondo a comprar outra mala ou embarcar os vinhos na mala que já tinha! Foi-me dito que a Alitalia tem há 5 anos uma norma que proíbe o transporte de líquidos na carga de seus aviões para que, caso as garrafas se quebrem (o que seguramente não iria acontecer) não molhem a bagagem alheia.

O mais estranho é que a empresa não avisa seus passageiros de tal fato. Mais estranho ainda é que anteriormente já havia trazido vinho pela mesma companhia. O que afinal aconteceu? Será que a empresa foi comprada pelas ORGANIZAÇÕES TABAJARA para ter uma norma tão estúpida?!

Peguei a caixa de vinhos e a abandonei no centro do salão do aeroporto e embarquei apenas com minha valise. Algum cão bem treinado deve ter cheirado bem a caixa (um cão degustador, quem sabe?) e depois algum robô deve ter desarmado a perigosa bomba...

A empresa ALITALIA, bastante conhecida por seus maus serviços aéreos, pôde mostrar nesse episódio a sua pior face. Numa decisão absurda, impediu que fosse mostrado no exterior amostras dos dois mais conceituados produtos italianos no mundo, o azeite de oliva e o vinho, mesmo sabendo que se tratavam de amostras a serem provadas em degustações por profissionais reconhecidos. Como entender tanta estupidez e burrice na terra de Michelangelo e Da Vinci?

Dessa forma, caros confrades e amigos do vinho, caso queiram trazer alguma coisa líquida da Itália (vinho, azeite etc.), não utilizem a ALITALIA. Você está arriscado a perder seus vinhos, ter prejuízo e ainda ser brindado com uma poltrona central na última fileira do avião, como aconteceu comigo. Comboios de africanos pelo Mediterrâneo, caravanas de ciganos pela rota do leste europeu ou barcos lotados de albaneses no Mar Adriático. Tudo isso, meus caros, É MELHOR E MAIS AGRADÁVEL DO QUE VIAJAR PELA ALITALIA.

TUTTO MENO ALITALIA!!!

DIVULGUE ESTA CARTA A SEUS AMIGOS ENÓFILOS.

AGUINALDO ZÁCKIA ALBERT

domingo, 5 de dezembro de 2010

Boa compra: Eugénio de Almeida Branco 2009

Bebi este vinho pela primeira vez no Quinta de Santa Maria, um bom restaurante português aqui na região do Alto da Lapa, em São Paulo. Sempre que vou lá - ou na maior parte das vezes - levo meus vinhos e pago a taxa de rolha no valor de R$ 30.

Certa vez, no entanto, fazia tanto calor - e o lugar tem uma área aberta muito gostosa - que resolvi deixar meu tinto de lado e pedi um branco da carta, que, pela boa procedência e baixo preço, me chamou a atenção. Tratava-se deste ótimo e baratíssimo branco da Fundação Eugénio de Almeida, bastante conhecido por produzir os vinhos Cartuxa, além de bons azeites.

Fiquei muito feliz por ter acertado na mosca! Elaborado a partir das castas antão vaz, perrum e roupeiro, esse vinho é um achado para o verão e também para acompanhar frutos do mar e peixes. Seus 13,5% de álcool passam despercebidos, pois estão perfeitamente integrados. Fruta branca e um toque cítrico, além da boa acidez, tornam esse vinho perfeito para dias quentes como os que prometem chegar.

É vendido pela Adega Alentejana e está em promoção, a cerca de R$ 35. Vale comprar de caixa e deixar na geladeira para beber nos próximos meses.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Um pouco sobre o arroz na Free Time

A edição número 16 da revista Free Time já está no ar, com uma série de matérias bacanas para quem se interessa pelo mundo da enogastronomia.

Na seção Gastronomia, falo um pouco sobre a história do arroz e dou a receita do risoto de cogumelos frescos, um dos meus preferidos.

Confira, também, outras matérias interessantes e dicas nas seções sobre restaurantes, vinhos, bares, destilados e charutos.

Para acessar a Free Time, clique aqui.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Vitis Vinífera apresenta franceses na Sbav-SP (7/12)

Cassoulet, o original

Na última edição da revista Free Time, escrevi uma matéria sobre a tradicional culinária francesa e publiquei a receita original do Cassoulet do Languedoc, certamente uma das maravilhas da gastronomia mundia, que ultrapassou fronteiras e resistiu ao tempo.

Para acessar a matéria e ler um pouco da história e a receita do prato, clique aqui.

Ficha de degustação

Sempre me pedem, e eu decidi postar aqui um modelo de ficha de degustação. É a que a Sbav-SP utiliza e também a que aplico nas minhas confrarias.

A ficha de degustação é um documento que auxilia o degustador na análise dos vinhos, pois estabelece critérios e pesos comuns para a avaliação de um painel de degustação. 

É, também, um recurso muito útil para que o enófilo siga parâmetros técnicos para avaliar os vinhos provados e dar notas para eles. A ficha permite a um grupo de pessoas, como uma confraria, por exemplo, adotar um processo comum para a avaliação dos vinhos, o que possiblita a geração de uma nota média do grupo para cada exemplar analisado, passando pelos quesitos visual, olfativo e gustativo.

O sistema de pontuação da ficha, cuja escala vai até 100, é semelhante ao utilizado pelos principais críticos de vinhos nos EUA e no Brasil.

Para acessar a ficha, clique aqui.

domingo, 28 de novembro de 2010

Casa Flora apresenta franceses na Sbav-SP

Conhecida por trazer ao Brasil vinhos de diversas origens a bons preços, na próxima terça-feira, 30 de novembro, às 20h, a importadora Casa Flora estará na Sbav-SP apresentando alguns dos seus rótulos franceses. Serão degustados espumantes, brancos e tintos de boa relação custo-benefício:
  • Espumante Veuve du Vernay Brut R$ 32,67
  • Blason Timberlay Sauvignon Blanc 2008 R$ 32,12
  • Denis Dubordieu Le Clos Reynon 2008 R$ 37,90
  • Château des Aveylans Mas des Aveylans Cuvée Prestige Syrah 2005 R$ 44,97
  • Denis Dubourdieu Clos Floridene Graves Rouge 2006 R$ 82,72

Após a degustação, será servido jantar. Vale a pena participar e conferir!

Sócios: R$ 40
Não-sócios: R$ 80
Jantar: R$ 40

Obs.: Para pagamento até a véspera, há desconto de R$ 10 no valor do jantar.

Quando: terça-feira, 30 de novembro - 20h
Onde: Alameda Gabriel Monteiro da Silva, 2.586
Reservas: 11 3814-7905

sábado, 13 de novembro de 2010

O melhor merlot do mundo. Qual mundo?

Às vezes fico em dúvida se é brincadeira, se é jogada de marketing ou se é apenas "enopatriotismo" mesmo. Não sou daqueles que criticam o vinho nacional - pelo contrário, tenho muitos rótulos brasileiros na minha adega e vez ou outra abro um. Me surpreende a evolução da qualidade dos nossos vinhos. Mas geralmente o que me surpreende mais são os preços.

Enfim, já falei sobre isso em outra ocasião e não vou ficar me repetindo. Porém, me assusta a quantidade de "notícias" que leio diariamente em sites e blogs sobre o sucesso dos nacionais mundo afora.  Aí eu leio e tento entender os critérios e as motivações, mas quase sempre fico na dúvida expressa no início deste post.

Hoje, li sobre mais uma competição "internacional" na qual o merlot da Casa Valduga, o Storia, foi eleito "o melhor do mundo". Claro que tive de ler a notícia na íntegra e, desta vez, tive a sorte de encontrar o detalhamento do painel. Diga-se de passagem, no texto original não se fala de "melhor do mundo". A repercussão é que seguiu essa linha ufanista, talvez para endossar o discurso corrente de que, depois de fazermos o segundo melhor espumante do planeta, agora nossa vocação é a merlot.

O fato é que o "melhor do mundo" era, também, o "mais caro do mundo", exatamente o dobro do preço do segundo colocado. Os outros 24 exemplares custavam da metade para baixo, sendo que alguns dos "competidores" saíram por 1/5 do preço do vencedor. Detalhe: entre as garrafas havia argentinos, uruguaios, chilenos e americanos a preços, NO BRASIL, muito inferiores ao nacional campeão. Faça idéia do preço no país de origem.

Acho que nós, que repercutimos esse tipo de notícia, devemos ser um pouco mais criteriosos, pois corremos sempre o risco de fazer parte de um movimento de "auto-enganação" nacional. É no mínimo ingênuo afirmar que de um painel limitado e sem representatividade como esse (cadê os europeus?) saiu o melhor merlot do mundo, especialmente por haver vinhos de preços discrepantemente diferentes, denotando categorias de bebida também diferentes.

Só para fazer uma comparação com um vinho que bebi semana passada, coloque o Storia ao lado do San Leonardo, um bom merlot italiano importado pela Mistral, na mesma faixa de preço no Brasil (na Europa deve custar 1/4), e veremos se o nacional mantém a corôa e a majestade.

Informações sobre o painel: http://www.winereport.com.br/winereports/brasil-il-il/440

domingo, 26 de setembro de 2010

Mais do mesmo e a credibilidade da imprensa do vinho

A liberdade de expressão e o papel da imprensa estão sendo amplamente debatidos por conta das últimas declarações do presidente Lula e das eleições que se aproximam. O que vejo nas páginas de política me chama a atenção para um fenômeno que tem me incomodado nos últimos meses: a dúvida sobre a imparcialidade, a criatividade e a honestidade da imprensa especializada em vinhos.

Aqui, coloco também os blogueiros que se auto-intitulam jornalistas, muitos dos quais nunca passaram nem perto de uma faculdade de jornalismo. Mas não é a questão acadêmica que me incomoda, e sim a convivência promíscula entre a suposta imparcialidade jornalística e o marketing escancarado a serviço de produtores e importadores.

É claro que tanto a imprensa quanto blogueiros em geral podem e devem falar bem (ou mal) de vinhos, produtores, lojas e importadores. O que me incomoda é a obviedade do que tenho lido diariamente em revistas, jornais e sites especializados: a repercussão de eventos "boca-livre" patrocinados por empresários do vinho. Quando sei que uma importadora promoverá uma degustação para jornalista e formadores de opinião, já não tenho dúvidas de que, no dia seguinte, lerei dezenas e dezenas de textos iguais, quase cópias dos releases e convites, sobre o sucesso desse ou daquele vinho.

Tudo muito previsível, sem criatividade ou opinião pessoal. E muito compromisso com o promotor do evento, que é sempre enaltecido pelos convidados, nem sempre tão comprometidos em repercutir o que é bom de verdade ou o que realmente é muito ruim. Muitas vezes apenas preocupados em fazer a contrapartida e dar a "notícia" que não traz nada de novo ou de bom para quem procura informar-se sobre vinho.

Não tenho nada contra eventos para divulgação de novos produtos. Mas não acho saudável e nem produtivo que a mídia especializada limite-se a bajular quem promove esse tipo de evento. Sinto falta de avaliações e descobertas de verdade. Sinto falta de gente que garimpa e fala do que não é falado ou vendido pelo marketing da indústria vitivinícola. Leio diaramente publicações e blogs sobre vinhos à procura de novidades, mas no geral leio mais do mesmo. E quase sempre desconfio, pois não vejo verdade ou motivação especial em se falar bem ou mal de um rótulo.

Acho que a imprensa especializada e os formadores de opinião, se é que eles existem, deveriam repensar se querem ter credibilidade e contribuir para a evolução do consumo do vinho de qualidade no país ou se preferem se acomodar nos braços de produtores e importadores que só pensam em empurrar seus produtos para consumidores desinformados e, por que não dizer, traídos por quem deveria orientá-los.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Casa Marin: excelência no Chile

Não sou de fazer apologia de produtor, média com importadora ou seja lá o quem for, pois acho que todos têm suas virtudes e seus defeitos. Mas o fato é que, a cada garrafa que abro da chilena Casa Marin, fico mais convencido de que, se este produtor não for o melhor daquele país, no mínimo está entre os 3 melhores. Não estou falando de ter o melhor vinho, como um Almaviva, Santa Rita, Don Melchor ou afins - apesar de que o Lo Abarca é um pinot de dar inveja a casas da Borgonha. Estou falando de ter consistência e qualidade em todas as linhas de produtos, da básica à top.

Tocado pela empresária Maria Luz Marin, essa vinícola se destaca não apenas pelos excelentes vinhos, mas pelo pioneirismo e pela consistência. Não é casa de um vinho só, o que demonstra bom terroir, excelência na produção, profissionalismo e competência de quem elabora esses vinhos. A produção vem de San Antonio, onde até pouco tempo não se plantava uva de qualidade, tampouco se produzia vinhos.


O fato é que, desde o pinot noir mais básico até o Lo Abarca, um "Borgonha" sulamericano, é difícil beber algo mediano. Recomento praticamente todos os vinhos, mas destaco, em especial, os pinot, cujo top é o fantástico Lo Abarca, e o sauvignon blanc Cipreses, para mim o melhor da América do Sul feito a partir dessa uva. Hoje, estou me surpreendendo, mais uma vez - ja bebi umas 3 ou 4 garrafas desse vinho -, com o excelente riesling da Casa Marin, que tem a tipicidade e qualidade dos melhores franceses e alemães.

Tá bom, sei que parece exagero - e os preços dos tops da casa realmente são. Mas vale provar antes de reprovar... Eu raramente sou enfático em elogiar uma empresa, mas esta realmente me conquistou.

Mais informações: http://www.casamarin.cl/

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Filosofia de bar a vin

Um professor de filosofia parou na frente da classe e, sem dizer uma palavra, pegou um vidro de maionese vazio e o encheu com pedras. Olhou para os alunos e perguntou se o vidro estava cheio. Todos disseram que sim.

Ele, então, pegou uma caixa com pedregulhos bem pequenos, jogou-os dentro do vidro, agitando-o levemente, e os pedregulhos rolaram para os espaços entre as pedras maiores.

Tornou a perguntar se o vidro estava cheio. Os alunos confirmaram:

- Agora sim está cheio!

Em seguida, pegou uma caixa com areia e despejou-a dentro do vidro, preenchendo o pouco espaço que ainda restava. Olhando calmamente para os estudantes, o professor disse:



- Quero que entendam que este vidro de maionese simboliza a vida de cada um de vocês. As pedras são as coisas importantes - sua família, seus amigos, sua saúde, seus filhos, coisas que preenchem a sua vida.
Os pedregulhos são as outras coisas que importam, como o emprego, a casa, o carro... Já a areia representa o resto, as coisas pequenas. Experimentem colocar a areia primeiro no vidro e verão que não caberão todas as pedras e os pedregulhos. O mesmo vale para suas vidas. Priorizem cuidar das pedras, do que realmente importa. Estabeleçam suas prioridades. O resto é só areia!

Após ouvir a mensagem tão profunda, um aluno perguntou ao professor se poderia pegar o vidro que todos acreditavam estar cheio, e fez novamente a pergunta:

- Vocês concordam que o vidro está realmente cheio?

Todos responderam, inclusive o professor:

- Sim, está!

Então, ele derramou uma taça de vinho dentro do vidro. A areia ficou ensopada, pois o vinho foi preenchendo todos os espaços restantes, fazendo com que, desta vez, ele ficasse realmente cheio.

Todos ficaram surpresos e pensativos com a atitude do aluno, incluindo o professor. Então ele explicou:

- Não importa o quanto a sua vida esteja cheia de coisas e problemas. Sempre sobra espaço para um vinhozinho!

sábado, 4 de setembro de 2010

Enogastronomia e a armadilha do bom gosto

Cada dia que passa estou mais chato com relação a certas situações, e isso não necessariamente tem a ver com a idade, mas certamente tem se agravado com o avanço dela. Por exemplo, hoje em dia eu não vou mais a "baladas", pois o fato de ser revistado na entrada e de ser tratado como mais um moleque louco por uma cerveja me deixa extremamente irritado. Ficar em filas de espera e ser servido como um morto de forme, por um garçom que parece estar fazendo um favor, é outra situação que não aceito mais, fato que também tem me afastado de lugares da moda.

E esse meu "mau humor" se aplica igualmente aos meus "hábitos alimentares". Está cada vez mais difícil escolher um lugar para jantar ou almoçar, pois o conjunto de fatores que passei a considerar no meu CFG (Coeficiente de Felicidade Gastronômica) está cada vez maior e mais complexo. Por exemplo, não consigo mais ir a um bom restaurante italiano ou francês e não beber um bom vinho. Mesmo em uma cantina italiana ou em um restaurante mais simples não me vejo bebendo outra coisa. A idéia de comer uma massa ou um risoto acompanhado de cerveja ou qualquer outra bebida me embrulha o estômago. Sempre fui bebedor de cerveja, coisa que ainda faço bastante, mas quase sempre em bares, churrascos, pubs ou situações específicas. Mas raramente saio do vinho quando quero fazer uma refeição de verdade.

Esse "fenômeno" tem se agravado nos últimos tempos e talvez explique a minha busca por restaurantes que não apenas sirvam boa comida e tenham bom atendimento, mas que também ofereçam boa e honesta carta de vinhos ou que permitam ao cliente trazer sua própria garrafa, a uma taxa justa. O fato é que, hoje, um almoço ou um jantar não são mais, para mim, apenas uma refeição. São momentos em que não quero mais apenas matar a fome; são, principalmente, eventos em que busco alcançar o maior prazer possível. E isso se aplica ao simples almoço que antes eu costumava fazer rapidamente, apenas para matar a fome durante um passeio, e que agora passaram a ser o momento principal da programação. O passeio passou a girar em torno da refeição!

Aparentemente, não há nada de mal em encarar a vida dessa forma, não fosse o "sofrimento" e o custo decorrentes disso. Trocar uma pizza com cerveja por um espaguete aos frutos do mar acompanhado de um belo riesling não é trocar seis por meia dúzia em termos financeiros. Ir ao shopping fazer compras e trocar o filé com fritas e o refrigerante da praça de alimentação pelo buffet do Bar des Arts ou pelo Ruffino's também não é lá uma troca equilibrada. É sair, literalmente, da água para o vinho, com todos os custos e as dificuldades que isso implica no Brasil.

Tenho percebido que, além de mais chato e crítico, possivelmente eu esteja menos feliz, pois não é fácil comer e beber bem o tempo todo. O que me fazia feliz há cinco anos já não me empolga mais, e cada dia que passa eu tenho mais dificuldade para tirar prazer de uma refeição, poir mais paradoxal que isso possa parecer, já que, hoje, eu tenho muito mais conhecimento, repertório, capacidade e sensibilidade para isso.

Descobri essa "armadilha enogastronômica" pouco tempo atrás, numa noite em que eu tinha pouco tempo e dinheiro para gastar. Ao pesquisar em revistas e na internet um lugar que atendesse a esses requisitos e que, ao mesmo tempo, tivesse a qualidade desejada, descobri que teria de ficar em casa mesmo e pedir uma pizza. Mas onde pedir uma pizza de alta qualidade, digna de acompanhar um belo vinho, que já estava pronto para ser abatido na minha adega?

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Vinhos de garagem e a grande indústria no Brasil

É interessante como no Brasil há uma aura mágica em torno do vinho, o que propicia o aparecimento de alguns fenômenos "esquisitos" relacionados a essa bebida. Já comentei sobre a questão de preços, que apenas nos mostra que temos um mercado sedento por vinhos caros, tratados não apenas como uma bebida, mas principalmente como um símbolo de status social.

Um outro fenômeno pelo qual inclusive os iniciados no mundo do vinho se deixam envolver são a mágica vendida pelos chamados vinhos de garagem, também conhecidos como vinhos de butique, vinhos de autor, entre outros nomes românticos e cheios de glamour que o mercado oferece e que o consumidor compra.



Quando surgiram os primeiros produtores de fora do circuíto, com seus vinhos considerados diferenciados, eu mesmo me interessei e fui conhecê-los. Me parecia fantástico um cara que nem enólogo era, em alguns casos, conseguir elaborar maravilhas com poucos recursos, em sua pequena propriedade, numa região e num país cujo terroir não ajuda em nada a produção artesanal de vinhos finos.

Eu ficava imaginando como uma produção desse tipo, com quase nada controlado, poderia originar vinhos superiores ao das grandes vinícolas, que investem fortunas em bons profissionais, em tecnologia e em terrenos e vinhedos de alta qualidade. O fato é que, após provar esses vinhos - inclusive em degustações cujos temas eram os vinhos de garagem nacionais - constatei que, na esmagadora maioria dos casos, estávamos bebendo puro marketing. É incrível, mas a nossa indústria vitivinícola é fértil em criar "fatos novos" e "estrelas da enologia".

Não quero ficar relatando todas as experiências que tive, nem boas, tampouco as ruins, mas deixo aqui a minha conclusão. No Brasil, se queremos beber vinhos bons, equilibrados e com boa estrutura, temos de recorrer aos grandes produtores. As piores coisas que já bebi no Brasil são os tais vinhos de autor, que quase sempre se mostram "verdes", cheios de arestas, com pouco corpo ou com tantos outros defeitos resultantes da falta de controle de qualidade e dos processos de produção. Já bebi coisas boas do Bettú, mas também coisas pavorosas dele. Do Marco Danielle, bebi o Tormentas, que é um vinho intragável. De muitos outros pequenos produtores bebi vinhos fraquíssimos, dignos de serem esquecidos. Claro que já bebi coisas boas, mas quase sempre em safras específicas e aparentemente por conta do acaso, sem uma sequência de "sucessos".

A moral da história é que, se queremos beber vinhos nacionais bons, temos mesmo de recorrer aos grandes, como Miolo - para mim, o melhor produtor nacionais, especialmente com o seu Lote 43 e o Merlot Terroir -, a Salton - com seu Talento e Desejo - e Casa Valduga, com o Gran Reserva Chardonnay e o excelente Storia. Há outros não tão grandes, mas também bons, como Don Laurindo e Pizzato, dois produtores de ótima qualidade.

Enfim, essa é a minha percepção, baseada em minhas não tantas experiências, o que certamente coloca uma margem de erro razoável, já que certamente não bebi nem 5% dos vinhos de garagem espalhados pelo país. Essa é uma experiência que continuarei fazendo, por curiosidade, e que volatrei a comentar caso minha opinião mude. Por ora, o que eu vejo é mais um "mito da moda" caindo.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Maratona de Amarone

Nos últimos meses, participei de excelentes degustações de um tipo de vinho que adoro: o Amarone della Valpolicella, do Vêneto. Em todas as oportunidades, os rótulos foram cuidadosamente selecionados, para termos painéis de relevância - uma das degustações, inclusive, foi com tops de verdade, incluindo produtores como Quintarelli e Romano dal Forno.

Não vou gastar tempo comentando os eventos, pois o importante foi a oportunidade de ter provado excelentes vinhos, alguns deles fantásticos, por isso me limitarei a dizer o que bebi e destacar o que for relevante. Como bebi vinhos repetidos, mas de safras diferentes, não incluirei as safras. Colocarei o vinho e a média das notas, de forma que esse ranking expresse minha preferências no mundo dos Amarone atualmente.

Vale destacar que as safras eram de 2001 a 2004, salvo uma ou outra exceção, como um Bertani de 1968.


No geral, tive poucas decepções com os rótulos abaixo. Talvez a maior delas tenha sido o Dal Forno Romano, pois imaginava ser algo do outro mundo pela fama que tem e pelo preço. É um ótimo Amarone, quase "mastigável", mas é carregado de madeira, aparentemente americana, o que descaracteriza, para mim, o "Amarone ideal" - gosto dos que mostram mais fruta passificada e menos maquiagem. Nessa linha, achei o Quintarelli muito superior, quase o "Amarone perfeito". O detalhe é que o Valpolicella do Dal Forno é um super vinho, daqueles para beber ajoelhado, que bate facilmente qualquer Ripasso disponível no mercado.

Saindo dos "super tops", descobri 3 rótulos que, ao lado do Villa Rizzardi - meu "Amarone do coração" -, não poderão mais faltar em minha adega. São eles o Campo Casalin e o Bussola (mais tradicionais) e o Bosan (modernoso, mas bem feito e sem exageros).

Desse painel, faltaram exemplares do Zenato e do Alegrini, que assim que provados comporão a lista - bebi ambos há mais de 2 anos e não dei nota a eles na época.

Vinhos e notas

1º Giuseppe Quintarelli                  93
2º Campo Casalin I Castei              92,5
3º Dal Forno Romano                      92
4º Tomaso Bussola Vigneto Alto      91,5
5º Guerrieri Rizzardi Villa Rizzardi   91,5
6º Tedeschi                                    90,5
7º Cesari Bosan                              90
8º Stefano Accordini Acinatico        89,5
9º Masi Costasera Riserva              88,5
10º Villa Erbice Vigneto Tremenel    88,5
11º Cesari                                      88,5
12º Masi Costasera                         88,5
13º Bertani Villa Arvedi                   88,5
14º Tommasi                                  88,5
15º Masi Mazzano                           88
16º Brigaldara                                 87,5

Restaurant Week: La Marie, imperdível!


Nos últimos dias, tive a oportunidade de jantar em dois restaurantes durante a "pré-semana" do Restaurant Week de São Paulo. Um deles é o sempre ótimo e tradicional La Vecchia Cucina, que dispensa comentários sobre a comida e sobre o serviço. Registro apenas, aqui, a questão da taxa de rolha, que é cobrada por pessoa (R$ 14), e não por garrafa. É um sistema bastante interessante para quem quer levar variedade de vinhos, inclusive em meia garrafa, para acompanhar cada um dos pratos, até a sobremesa.

A grande descoberta da semana, no entanto, foi o La Marie, na rua Francisco Leitão, quase esquina com a dos Pinheiros. Que grata surpresa! Fui com a expectativa de apenas conhecer um lugar novo, que cobra uma taxa de rolha bastante atrativa (R$ 20), e de comer de forma correta. Escolhi o restaurante pelo menu, que deveria agradar a mim e a minha esposa - ela tem restrições a quase todo tipo de carne, verduras e legumes... Marcamos com mais dois casais de amigos, cada um encarregado de levar um vinho para a harmonização.

As opções eram interessantes: entrada - salada romana com salmão defumado e vinagrete de limão siciliano; pratos principais - lagosta mediterrânea ou peito de marreco ao molho cabernet com repolho roxo e purê de maçã ou lasanha de legumes; sobremesa - mousse de maracujá doce. Todos os pratos, sem exceção, estavam verdadeiramente excelentes e surpreendentes! Imaginei que seria servido de pequenas porções, como alguns restaurantes fazem durante esse evento, mas não foi nada disso. A lagosta era inteira e o peito de marreco, ao melhor estilo "magret de canard", me enganaria facilmente, não fosse o tamanho avantajado da peça. Os acompanhamentos dos dois pratos principais estavam perfeitos e harmonizaram muito bem com os itens principais. Que jantar!

E, por falar em harmonização, a escolha dos vinhos também foi feliz. Iniciamos os trabalhos com o Casa Valduga 130, que sempre me agrada, e depois passamos para outro excelente espumante, esse de muita tradição e estirpe - um Berluchi. Seguimos com o Casa Marin Lo Abarca, na minha opinião um dos melhores - se não o melhor - pinot noir da América do Sul e, para encerrar, degustamos um vinho israelense, o Yatir 2005, também ótimo, vindo diretamente do Oriente Médio na mala do Altman.

O La Marie realmente foi um dos lugares que mais me surpreenderam positivamente nos últimos tempo. E não se trata de um restaurante novo, da moda. A casa já tem 6 anos e, talvez por falta de uma maior divulgação - ou por descuido meu -, levei todo esse tempo para descobri-lo. Certamente será um dos lugares que passarei a frequentar. E recomendo que quem ler este post corra para fazer reserva para o Restaurant Week, que começa na próxima semana, pois o lugar é pequeno, com poucas mesas, o que talvez ajude a explicar a alta qualidade do atendimento e da comida.

Mais informações
Restaurant Week: http://www.lavecchiacucina.com.br/
La Marie: http://www.lamarierestaurante.com.br/
La Vecchia Cucina: http://www.lavecchiacucina.com.br/

sábado, 21 de agosto de 2010

Comprando vinhos evoluídos: Parte III

Nas últimas semanas, participei de três belas degustações de Amarone, um dos vinhos que mais gosto, para a revista Free Time, na Sbav-SP e na confraria Wine St. Foram experiências fantásticas, pois tive a oportunidade de beber mitos como Quintarelli e Romano dal Forno. Mas deixarei esse assunto para um post específico sobre Amarone, inclusive com um ranking dos melhores e recomendados.

Hoje, quero apenas inidicar uma outra oportunidade para quem gosta de beber vinhos evoluídos. Desta vez falarei da Casa Flora, em São Paulo, que tradicionalmente oferece vinhos a preços mais "viáveis", mas que também pode ser procurada por quem quer comprar garrafas de duas, três ou até quatro décadas atrás.

Durantes minha jornada com os Amarone, bebi um Bertani de 1968, na Sbav de São Paulo, e, por curiosidade, fui investigar se havia outras preciosidades de onde saiu essa garrafa, a Casa Flora. Na verdade, eles mantêm um belo estoque de vinhos do porto de safras bastante antigas, além dos Amarone Bertani e alguns rótulos espanhóis. Vale contatar a importadora e pedir a lista completa de produtos, pois há coisas interessantes.

Quanto ao Amarone Bertani, tema deste tópico, infelizmente ele já estava em evidente decadência. De cara se percebia a idade, pois o vinho é claro, com tom atijolado e largo halo de evolução. No nariz, senti cânfora, um pouco de oxidação e algum animal - talvez couro. Na boca, ainda se sentia a acidez e o tanino, apesar da pouca intensidade. O vinho tinha bom corpo e persistência considerável. Mas já não era aquela coisa toda... Eu não pagaria os quase R$ 1 mil que essa garrafa custou. Mas vale checar outras safras disponíveis, das décadas de 70 e 80. Quem sabe estejam mais "vivas".

Casa Flora: http://www.casaflora.com.br/

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Receita isentará até 16 garrafas de vinho!

Li e reli a notícia várias vezes para ter certeza de que não estava imaginando coisas ou entendendo errado. Pelo que parece, é a pura verdade. Por via das dúvidas, coloco o link aqui para que possam ler e me corrigir se for o caso.

Nos próximos dias, a Receita Federal ampliará a lista de produtos isentos de declaração na alfândega no retorno de viagens internacionais, incluindo 12 litros de bebidas alcoólicas, o que, nas minhas enocontas, equivalem a 16 garrafas de vinho!

Também serão isentos charutos e outros itens de suma importância para a minha felicidade. Todos eles passarão a ser considerados itens para consumo pessoal, portanto, isentos de tributação na entrada do país - claro que haverá limites, mas as 16 garrafas de vinho por pessoa (nessas horas é ótimo ser casado!) farão a minha alegria por longos meses.

Essa é, para mim, a melhor notícia do ano! Imagina porder vir com a Sansonite cheia e sem a preocupação de ser pego e ter de pagar uma fortuna em impostos e multa! Já estou conferindo as milhas disponíveis no meu cartão de crédito!

sábado, 31 de julho de 2010

No Rosmarino, o que vale é comer e beber bem

Se por um lado há lugares que tratam o cliente que leva o próprio vinho com desdém, como comentado no post anterior, por outro há os que se garantem na cozinha e tratam o vinho como um acompanhamento da refeição. Nada contra faturarem vendendo vinho, sobremesa congelada e café. E nada contra a cobrança da taxa de rolha, pois sempre pago e acho justo pelo serviço e utensílios oferecidos. Mas acredito que quem vê no vinho a principal fonte de renda da casa deveria abrir um empório, e não um restaurante.


Um exemplo de restaurante competente na cozinha e que se garante atraindo e mantendo uma clientela fiel pela excelente comida é o Rosmarino, em Pinheiros. Vou praticamente toda semana nesse ótimo italiano, sempre como muito bem e a maior parte das vezes levo meu vinho - geralmente garrafas com algum tempo de adega. Aliás, a principal razão de eu levar vinhos da minha adega é não encontrar cartas com opções de garrafas com mais de 5 ou 6 anos. Geralmente se encontram vinhos bons, até a preços justos - como no Rosmarino -, mas ainda muito jovens. Por isso acabo quase sempre optando por levar meus vinhos. Ou bebendo um branquinho, da carta da casa, como o bom neozelandês Paliser, que bebi no último domingo no próprio Rosmarino.

Para quem quer comer muito bem, sem frescura e sem cara feia, recomendo ligar ao Rosmarino, falar com a Stela, a Ângela ou o Carlos e fazer reserva. É certeza de boa gastronomia, em um ambiente muito agradável, com tratamento à altura e sem assalto a mão armada quando a conta chega. Aliás, sempre agendo as degustações das minhas confrarias nesse restaurante, pois o serviço do vinho - mesmo para os que não são do restaurante - é excelente. E, mesmo quando não cobram taxa de rolha, sempre faço questão de pagar R$ 20 ou R$ 30 em retribuição pelo ótimo atendimento.

Mais informações: http://www.rosmarino.com.br/

Taxa de rolha: quando o valor vai da cara do bobo

Hoje, passei por uma experiência para lá de desagradável no La Caballeriza, bom restaurante de carnes argentinas que frequento com alguma frequência, na Alameda Campinas, especialmente nos almoços de semana. Estive algumas vezes à noite, em degustações ou mesmo em grupos de amigos, quase sempre levando meus vinhos e quase nunca pagando taxa de rolha. Na verdade, lembro de terem me informado certa vez que a taxa era de R$ 25, porém, não me lembro de terem efetivamente lançado o valor na conta. Enfim, era um lugar que considerava "amigo do enófilo", ou seja, um local onde o vinho do cliente era bem-vindo.

Desta vez, no entanto, fui surpreendido com uma abordagem muito estranha e pouco honesta. Já sentado, ao mostrar ao garçom minha garrafa, fui "informado", de uma forma até deselegante (no mínimo imprópria), que o restaurante cobrava taxa de rolha e que talvez valesse mais a pena eu comprar um vinho da carta. Ao perguntar o valor da taxa, o rapaz me informou que eu teria de pagar R$ 50 se quisesse abrir meu próprio vinho.

Fiquei bastante irritado com a situação e pedi para chamarem o gerente, que logo veio me explicando: "Sabe o que é, não é o caso do senhor, mas tem gente que abusa, por isso a diretoria pediu para aumentar a taxa..." Vendo a minha irritação apenas aumentar, o gerente disse que, "no meu caso", poderia cobrar apenas metade, ou seja, R$ 25. Aceitei a oferta, mas juro que pensei em levantar e ir embora, pois me senti tratado como alguém que estivesse mendigando para comer ali.

Mas o pior veio agora à noite... Como eu já digeri a boa carne do La Caballeriza, mas ainda não totalmente a história da taxa de rolha, resolvi ligar e perguntar novamente o valor. Resposta: "Senhor, a taxa é de R$ 25".

Sinceramente, se eu tinha a impressão de que fui tratado como um idiota, agora tenho a certeza. Provavelmente o garçom e o gerente viram que meu vinho não era um "grande vinho" (era um bom cabernet sauvignon chileno que guardei por alguns anos para abrir em um lugar bacana) e combinaram de me "incentivar" a comprar o vinho deles. Uma pena, pois o restaurante é bom, apesar de algumas escorregadas - hoje, a comida estava meio sem sal e a musse de chocolate era um "Danete").

Não foram mal educados comigo, muito pelo contrário. Até trocaram a sobremesa por outra e não a cobraram "pelo inconveniente". Mas que me trataram como um idiota, disso eu não tenho dúvida.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Nova moda: vinhos nacionais a preço de ouro

Tenho notado um estranho movimento no mercado de vinhos no Brasil que está me deixando bastante preocupado. Mais do que isso, está praticamente me proibindo de beber os vinhos produzidos no meu país.

Que vinho ainda é considerado uma "bebida de luxo" no Brasil e que os importados são caros em razão dos altos impostos e da ganância de alguns importadores, isso já é sabido. O que tem me chamado a atenção é a escalada dos preços dos vinhos nacionais, o que parece ir na contra-mão do esforço dos produtores de "popularizar" a bebida, tornando possível barateá-la para competir com importados baratos e, consequentemente, aumentar o ganho na escala.

Reparem que a cada ano nossos vinhos debutam em categorias cada vez mais altas, como se em pouco tempo estivéssemos conseguindo recuperar décadas de estagnação na produção de vinhos finos. Primeiro foram os "premium", depois os "super premium". Agora, parece que estamos tentando superar os melhores vinhos internacionais criando verdadeiros "mitos", antes mesmo de eles serem colocados no mercado, num esforço gigante de marketing. E isso inclui garrafas sendo vendidas a US$ 100, ao melhor estilo das vendas antecipadas dos grandes Bordeaux. E quem perder a reserva pagará o dobro nas lojas, já avisa o produtor. Hoje mesmo recebi um e-mail oferecendo o ótimo Storia, da Casa Valduga, a "módicos" R$ 120, também no esquema de venda antecipada.

A idéia deste post não é fazer o que já tem muita gente fazendo: falar mal dos vinhos nacionais. Nunca fui crítico dos nossos vinhos - ao contrário, sempre defendi a sua qualidade, ainda que reconhecendo que estamos em um estado inferior aos demais sulamericanos. Sempre acreditei e continuo acreditando que a tendência é melhorar.

O fato é que alguns produtores parecem ter perdido o bom-senso e estão boicotando o próprio vinho nacional, aumentando ainda mais o preconceito contra ele. Não me parece lúcido cobrar preço de Barolo e Brunello em vinhos evidentemente mais simples. Não há custo de produção que justifique isso. Como é possível encontrarmos um vinho brasileiro, no Brasil, custando quase o dobro de um Castelo di Ama, por exemplo? Ou no mesmo preço de um bom Barolo ou Brunello? Sem falar das centenas de vinhos chilenos e argentinos que estão disponíveis por muito menos que isso, com qualidade notadamente superior?

Enfim, tenho amigos produtores e vendedores de vinhos nacionais, mas nenhum deles conseguiu me convencer de que, do dia para a noite, começamos a produzir vinhos comparáveis ou mesmo superiores aos tops europeus - vejam que, na Itália, excelentes toscanos e piemonteses são vendidos a partir de 20 ou 30 euros. Os considerados caros, "tops", giram em torno de 40 a 60 euros.

A pergunta é: Por que um italiano bebe um bom Barolo a 40 euros e eu pago mais do que isso para beber o Storia? Coloquei essa questão a uma revendedora de vinhos brasileiros e ela me disse que também não entende e que inclusive já percebeu um movimento de clientes que pararam de comprar nacionais por conta da vertiginosa deterioração da relação entre preço e qualidade. Eu mesmo não consigo mais comprar vinhos nacionais, pois parece sempre haver um chileno ou argentino tão bom quanto ou melhor a preço mais baixo.

Será que a idéia é vender ilusão a gente que bebe rótulo? Talvez atingir um público esnobe, que vai começar a comprar vinhos nacionais porque, a julgar pelo preço, eles passaram a parecer tão bons quanto os importados? Alguém consegue me explicar a razão desse estranho movimento e aonde ele levará nossa indústria vitivinícola?

terça-feira, 20 de julho de 2010

Ótima experiência no Baby Beef Rubaiyat

Ano passado comentei, em diferentes fóruns da internet, sobre uma experiência ruim que tive no Figueira Rubaiyat, lugar ao qual eu já ia com pouca frequência, pois sempre achava a relação custo-benefício bastante discutível - apesar de o restaurante isentar o cliente do pagamento de rolha. Após essa experiência ruim, que passou pelo atendimento, comida e ambiente (aqui, falo sobre a "frequência", de "mauricinhos" e "patricinhas" mal educados), decidi nunca mais pisar no local.


Escrevo este post para fazer justiça com o grupo Rubaiyat. Da mesma forma que repercuti a experiência ruim do Figueira, tenho de registrar a ótima experiência que tive ontem no Baby Beef, a "casa de carnes" do grupo. Fui almoçar com a família no local, com meu vinho embaixo do braço (eles não cobram rolha) - um Orzada Cabernet Sauvignon 2003 que deveria estar fantástico, pois já estava magnífico 3 anos atrás, quando abri a última garrafa dessa safra. Mas não foi desta vez que tirei a prova, conforme comentarei mais para frente.

Nesta nova experiência com o grupo Rubaiyat, os elogios também passam pelo atendimento, comida e ambiente. Além da agilidade e cortezia dos garçons, que estavam sempre atentos e pacientes - meu filho aprontou o almoço todo -, a qualidade da comida e a excelente carta de vinhos fizeram a diferença. Apesar de eu ser adepto do "a la carte", acabei ficando no Buffet Mediterrâneo, que me seduziu pela variedade de itens, como peixes, frutos do mar, paella e carnes variadas - além das carnes da grelha, que estavam excelentes (comi o baby beef e a picanha). Desisti do vinho que levei, por conta do calor, e acabei pedindo o Redoma Branco, safra 2007, um belíssmo português, que acompanhou bem as entradas - camarão, pitu, carpaccio, queijos, entre outras.

No final, acabei não resistindo e pedi meia garrafa do sempre ótimo Marques de Riscal Reserva, que acompanhou muito bem os grelhados que encerraram o almoço. Na verdade, encerraram a "etapa salgada" do almoço, pois o buffet de doces - que costumo passar - desta vez foi devidamente visitado. A musse de chocolate e o doce de leite argentino na colher estavam simplesmente divinos!

Claro que a brincadeira não foi barata. Aliás, esse é um dos buffets mais caros que já comi - quase R$ 90, equivalente a Fogo de Chão e mais caro que Bar des Arts, especialmente para um almoço de segunda-feira. Mas valeu a pena, pois a experiência foi ótima, do início ao fim. Deixo aqui os parabéns à equipe do Baby Beef Rubaiyat, que me fez reconsiderar a opinião que tinha sobre o grupo após a trágica noite do ano passado no Figueira.

Mais informações: http://www.rubaiyat.com.br/restaurantes/alameda-santos

domingo, 18 de julho de 2010

Desabafo de um enófilo imbecil

É interessante e, ao mesmo tempo, desesperador, ver como muitas pessoas - para não dizer a maioria delas - deixam evidente a necessidade de criar verdades e respostas absolutas para as coisas.

No mundo do vinho isso não é diferente - talvez seja até mais evidente. Quanto mais o sujeito bebe, mais acredita que conhece vinho e mais tenta criar uma realidade que, para ele, deveria valer para todos. Alguns simplesmente se fecham em suas geniais e reconfortantes descobertas; outros, porém, tentam convencer o mundo de que descobriram o nirvana, aquele lugar ao qual nenhum outro homem foi capaz de chegar.

Um exemplo típico é a discussão a respeito da suposta superioridade dos vinhos europeus em relação aos vinhos do Novo Mundo - como se todos os vinhos da Europa fossem iguais e como se todos os vinhos do Novo Mundo tivessem o mesmo gosto e padrão de qualidade.

Frequento rodas de bebedores do Velho Mundo e de bebedores do Novo Mundo e, portanto, tenho bebido vinhos do mundo todo, o que me habilita a fazer alguns comentários a respeito dessa guerra sem vencedores. O primeiro deles é que esses "combatentes" não percebem que vinho é prazer e, portanto, é algo subjetivo, estritamente relacionado a experiências e gostos individuais. Claro que há padrões mínimos de qualidade, porém, esses padrões podem existir em diferentes contextos. Exemplo: os defensores dos vinhos tradicionais europeus criticam a fruta e o uso da madeira nos vinhos ditos, de forma pejorativa, "novomundistas"; já os amantes dos vinhos do Novo Mundo reclamam justamente da falta desses atributos nos vinhos mais tradicionais.

Também há os que gostam de vinhos mais potentes e jovens, que são duramente criticados por quem bebe vinhos quase moribundos, com aromas que, para o primeiro grupo, podem remeter à putrefação. Mas um bebedor de vinhos "evoluídos" - reparem o duplo sentido deste adjetivo - vai dizer que "agora sim o vinho está redondo, com tudo no lugar", como se existisse uma forma de bolo ou um quebra-cabeça a ser montado.

Outro clássico é a eterna batalha entre quem idolatra Barolo e quem acha que é na Toscana que se faz o melhor vinho da Itália. Entre Bordeaux e Borgonha é a mesma coisa. E ambos desgostam dos vinhos do Rhône, que são, supostamente, menos nobres do que os produzidos nos "grandes crus" da Borgonha ou de Bordeaux. Francês também vai dizer que vinho italiano é rústico e sem elegância... Mais um exemplo: já ouvi gente jurando que vinho branco é coisa para mulher e que homem bebe vinho tinto. Rosé, então, "só se o cara for gay"...

O ponto é: por que raios um dos dois grupos deveria estar certo se o vinho nada mais é do que a elaboração de uma bebida, pelo homem, a partir de matérias primas, equipamentos e outros recursos que ele encontra para produzir algo que o agrade e o deixe feliz? Fala-se de terroir e método de produção como se um fosse o certo e os demais "coisas da moda" ou "invencionices". Será que esse "certo" está escrito em algum livro sagrado ainda não descoberto por seres humanos imbecis como eu???

Tenho ficado meio de saco cheio dessas verdades absolutas e de tanto preconceito e arrogância no mundo do vinho. Já me peguei envergonhado de dizer que gostei de um vinho norte-americano, com bastante coco queimado, cujas uvas foram colhidas 5 anos atrás, em um grupo que só bebe vinhos do Piemonte com mais de 10 anos.

No fundo, o que eu acho é que as pessoas sentem a necessidade de conhecer a verdade e de se confortar e se acomodar nela. É complicado admitir que, mesmo bebendo vinho há 30, 40 ou 50 anos, ainda é possível se surpreender com algo diferente, nunca provado - ou provado, mas em outro momento, outra safra, com outra companhia, em outra situação. Ter de admitir que ainda não sabemos nada, por mais que busquemos conhecer esse fantástico e enigmático mundo do vinho, parece causar desconforto e angústia.

A verdade, se é que ela existe, é que é muito mais cômodo acreditar que descobrimos o que é melhor para nós e para a humanidade do que admitir que as coisas mudam a cada dia, inclusive nós mesmos. Somos muito mais felizes assim, fechados em nossas verdades, na nossa eterna e ignorante sabedoria.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Imperdível: Amarone Tops na Sbav-SP

Na noite do próximo dia 13 de agosto, um grupo de felizardos terá a oportunidade de beber 7 dos mais renomados Amarone della Valpolicella, entre eles os excelentes Dal Forno Romano, que ultrapassa os R$ 1 mil no mercado Brasileiro, o pioneiro Quintarelli e um Bertani de 1968.

Elaborados no Vêneto principalmente a partir das castas corvina, molinara e rondinella, esses vinhos são especialmente encorpados, saborosos e alcoólicos em razão do método de elaboração: após colhidas, as uvas são colocadas para secar, em bandejas, até ficarem semi-passificadas, com grande concentração de açúcar e extrato, o que confere corpo e consistência à bebida.

Particularmente sou um apaixonado por esse vinho e considero esse evento um dos mais interessantes do ano. Serão formados grupos de 12 pessoas para cada bateria de vinhos, ao custo de R$ 600, que podem ser parcelados. O primeiro grupo acaba de ser fechado - fiz a minha inscrição!

Vinhos da degustação:
  • Dal Forno Romano Amarone DOC 2003
  • Giuseppe Quintarelli Amarone della Valpolicella Classico 1998
  • Bertani Amarone della Valpolicella Classico Superiore 1968
  • Tomaso Bussola Amarone Classico Vigneto Alto 2004
  • Masi Mazzano Amarone della Valpolicella 2001
  • Stefano Accordini Acinatico Amarone Classico 2005
  • Azienda Agricola Erbice Villa Erbice Vigneto Tremenel Amarone della Valpolicella DOC 2001
Após o evento, será servido um jantar, ao custo de R$ 60. Para acompanhar, cada participante poderá levar o seu vinho - se ainda conseguir beber alguma coisa após essa "overdose" de Amarone, claro.

Mais informações: 11 3814-7905 (falar com Nelson)

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Viña Magaña Gran Reserva 1985

Citei este rótulo no post sobre vinhos evoluídos à venda no mercado brasileiro, por isso farei um breve comentário sobre a experiência que tive ontem à noite.

Trata-se de um espanhol produzido pela Viña Magaña na região de Navarra, com corte essencialmente bordalês (70% merlot, 15% cabernet savignon e 15% de outras), maturado 24 meses em barricas semi-novas de carvalho francês e 36 meses em garrafa. Teor alcoólico de 13%.

Abri a garrafa com o saca-rolhas padrão, de rosca e, é claro, a rolha não aguentou... Para um vinho de 25 anos, até que a rolha não estava tão comprometida, mas não tinha mais firmeza suficiente para o uso de um equipamento como esse - claro que o saca-rolhas de haste, próprio para essas ocasiões, era o mais indicado. Mas a pressa às vezes é inimiga da perfeição. Uma vez que a garrafa e o rótulo estavam perfeitos, como se o vinho tivesse sido engarrafado ontem, supus que não seria necessário tanto cuidado com a rolha. Resolvi o problema passando o vinho para o decanter, usando uma peneira fina para segurar os poucos farelos da rolha que caíram na bebida.


Ainda no decanter me surpreendi com o vinho, pois estava bem denso, com uma cor rubi escuro e quase nenhum resíduo. Passei para a taça e a aparência continuou a de um vinho não tão evoluído, mas um pouco mais claro do que o impacto inicial no decanter. O halo mais claro, puxando para o tijolo, ficou visível na taça, mas muito discreto, apesar do quarto de século de idade desse vinho.

No nariz, aromas bastante austeros, quase que 100% terciários, trazendo de fruta apenas uma sutil uva apassitada - muito sutil mesmo. Predominavam o couro, um leve defumado e até um toque mineral. Após aerar um pouco, apareceu um chocolate muito interessante, cuja doçura na boca tornou o vinho delicioso depois de meia hora de decanter. Esse bom espanhol ainda guardava ótima acidez, mas já mostrava menos potência do que provavelmente teve há uma década. Isso não me incomodou nem um pouco, pois adoro vinhos elegantes, e esse era um lord. Taninos adocicados, álcool discreto, muito fácil de beber.

Por fim, digo apenas que é um vinho para ser bebido já. Não creio que guardá-lo será uma boa idéia. Por isso beberei as 2 garrafas que me restam nos próximos 12 meses.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Comprando vinhos evoluídos: Parte II

Os espanhois são mestres em "criar" seus vinhos, deixando-os amadurecer, de forma que nós, enófilos, possamos degustá-los na hora certa, sem pressa. Por conta desta característica dos bons vinhos da Espanha, especialmente os de Rioja, sou cada vez mais fã desse país, incluindo sua gastronomia, com as paellas, que são a minha perdição. Não gosto muito das touradas, pois acho um esporte covarde. Se é que isso é um esporte... Mas até que na bola eles têm mostrado um bom trabalho, assim como nas pistas de Fórmula 1.

Voltando aos vinhos, deixo aqui mais algumas dicas de rótulos evoluídos disponíveis para compra. Desta vez garimpei na Vinci Vinhos e encontrei coisas boas, como opções da excelente Viña Tondonia. Deste produtor, estão disponíveis o Viña Bosconia Reserva 1999 e o Viña Tondonia Reserva 1999. Também de Rioja, a importadora oferece o Viña del Olivo Reserva 1999 (Viñedos del Contino). Apesar de não ter sido uma grande safra, não tenho me decepcionado com os 1999 de Rioja. Para quem quer uma aventura mais ousada, vale colocar as fichas no Viña Magaña Gran Reserva 1985, de Navarra, também na Espanha. Este eu deverei provar nos próximos dias.


De Portugal, a Vinci oferece o Dão Porta dos Cavaleiros Reserva 1985 (Caves São João), que custa salgados R$ 391,42. O risco aqui é maior - para quem gosta de fortes emoções, é um prato cheio!


Mais detalhes: www.vincivinhos.com.br

domingo, 4 de julho de 2010

Ráscal: para comer e beber bem de forma descontraída

Já mencionei aqui que um dos lugares em que vou frequentemente e levo meus vinhos é o Ráscal. Geralmente almoço aos finais de semana ou janto, qualquer dia da semana, na unidade do Shopping Vila Lobos, onde os dois sommeliers prestam um ótimo serviço. Apesar de não cobrarem rolha, mais de uma vez cheguei com a minha garrafa embaixo do braço e voltei para casa com ela, pois a carta é bastante completa e não enfia a faca no cliente.

O Ráscal é um dos raros restaurantes que, em vez de usar o vinho para alavancar a receita, utiliza a bebida para valorizar a comida - e essa é a principal função do vinho. Aliás, ao contrário do que podem dizer alguns "narizes empinados", no Ráscal cozinha rápida está longe de ser sinônimo de comida mal feita. Para mim, é um dos melhores lugares para se comer, seja pelo ambiente, seja pela comida e mesmo pelo preço.

Claro que não se deve esperar o atendimento e o tipo de refeição feita em um restaurante de alta gastronomia. Porém, posso dizer que já comi no Ráscal melhor do que em muitos restaurantes supostamente estrelados. De cabrito e pato a ossubuco, passando pelas várias opções de massa, o que não falta é opção. Isso sem falar da mesa de saladas, que é a minha perdição - não foram poucas as vezes que fiquei apenas nela. O carpaccio é excelente. Muitas vezes comi apenas ele, acompanhado de lascas de parmesão, pão e azeite. E, é claro, um belo branco - o Errazuriz Reserva Sauvignon Blanc, já citado em posts anteriores, é uma boa pedida. Mas para quem gosta de tintos há excelentes opções, tanto do Novo quanto do Velho Mundo.

Hoje, almocei na unidade do Shopping Higienópolis, na área externa, e tive mais uma ótima experiência. É um restaurante que me cativa cada dia mais. Para quem tem filhos, então, é um programa certeiro, pois ninguém (ou quase ninguém) vai ali para paquerar ou fazer um jantar romântico.

Apesar de trabalhar a duas quadras da unidade localizada na Alameda Santos, detesto almoçar lá em dia de semana. É impossível entrar no Ráscal e não gastar pelo menos 2 horas por lá, comendo bem e bebendo bons vinhos - a carte deles é bastante atraente, com preços abaixo da concorrência.

Mais informações: http://www.rascal.com.br

Picagli: comida da nonna no Alto da Lapa

Ontem à noite resolvi conhecer um restaurante que há tempos programava ir, indicado pelo amigo Esper. Trata-se do italiano Picagli, no Alto da Lapa, nas proximidades da Pio XI e da Tito. Como de costume, liguei antecipadamente para o lugar e questionei sobre a possibilidade de levar meu próprio vinho. A resposta foi positiva, e sem cobrança de rolha, com a justificativa de que a casa não oferece muitas opções para o cliente. O que é verdade, pois a "carta" traz meia-dúzia de rótulos como Santa Helena e Lambruscos.

Apesar de morar na região, tive alguma dificuldade para encontrar o restaurante - o GPS se perdeu e me levou com ele. Tive de me virar sozinho e, depois de alguns minutos procurando placas, acabei entrando em uma rua bastante escura, silenciosa e vazia. Cheguei à frente de uma praça, também escura, e imaginei que fosse esssa a referência do site. O número 451 da rua Araçatuba identificava a fachada de uma casa, com luzes apagadas e sem sinal de vida, apesar de já serem 19h05 - o restaurante promete abrir às 19h.

Com bastante receio de ficar parado ali, esperando - já fui assaltado em situação bem menos propícia -, decidi dar uma volta e ligar para o restaurante do meu celular. Uma simpática mulher me atendeu e disse que abriria a casa para mim. Parei novamente na porta e um garçom, também atencioso, nos recebeu e nos pediu que escolhêssemos a mesa.

Se eu já estava de orelha em pé por conta dos episódios precedentes, fiquei ainda mais preocupado quando entrei no salão e senti um forte cheiro de mofo no ar... Lembrei do Esper e pensei: "onde esse cara foi me meter!" Mas já que eu estava ali, decidi não recuar, apesar dos olhares de reprovação da minha esposa.

Nos sentamos e, sem vacilar, pedi ao garçom - o único do restaurante - que abrisse a minha garrafa, um belo Langhe, o Mandaccione, safra 2000. Ouvi o ruído da rolha sendo retirada no bar, longe dos meus olhos, mas mesmo assim comecei a me animar. No mínimo beberia bem e, com certeza, pelo menos a comida deveria ser ótima, pois o amigo Esper não é lá uma pessoa muito tolerante com a mediocridade.

Recebi minha garrafa, aberta, e duas taças de vidro grosso, pequenas, daquelas que só encontramos no Bixiga para saborear o "vinho da casa". O garçom pediu para que eu provasse o vinho, que já estava devidamente embrulhado em um guardanapo vermelho, e então o serviu - claro que tive de pedir para ele parar antes de a taça transbordar.

Naquele instante, me senti em uma típica trattoria italiana, com paredes forradas de tecido, piso velho de madeira, além da administração mais do que familiar - aparentemente só o garçom não era um Picagli. Daí em diante resolvi relaxar - até porque o vinho realmente estava muito bom, apesar da taça "cantineira". Além de nós, apenas mais uma mesa foi ocupada por dois casas na faixa de 60 a 70 anos, o que tornou o ambiente ainda mais nostálgico.

Começamos os pedidos. Para o meu filho, solicitamos um paillard de filé acompanhado de fetutine na manteiga e manjericão. Como primeiro prato, dividi com minha esposa uma polenta com calabresa. Para o prato principal, solicitamos um raviole de ricota romana e alcachofra, ao molho de tomate. Para a minha felicidade, a previsão de comer muito bem se concretizou. Aliás, superou as expectativas, pois não apenas comemos bem, como me senti na casa da minha nonna, 25 anos atrás, quando ela preparava a comida caseira mais deliciosa "à italiana" que já comi. O fetutine do meu filho veio parar no meu prato também, pois estala levissímo e saboroso, apesar dos poucos ingredientes. A massa, "al dente", era a mais caseira possível, feita provavelmente naquele dia. Uma simplicidade só, mas deliciosa, coisa que não se encontra em restaurantes hoje em dia.

Na sequência, me servi da polenta, e aqui está o ponto altíssimo da noite. Foi a melhor polenta que já comi na minha vida! Cremosa como eu nunca imaginei encontrar um dia, com sabor delicado e integrado ao molho de linguiça calabresa, picante e muito saboroso. Eu teria pedido outra polenta como prato principal, talvez acompanhando o polpetone - segundo o amigo Esper, esse bate até o do Jardim di Napoli.

Finalizada a "bella polenta", o garçom trouxe o raviole, que também estava delicioso. Massa caseiríssima, muito leve e com recheio na medida certa. Não estava "al dente", como o fetutine, mas demos um desconto, pois o conjunto estava perfeito. O molho, um "sugo" saboroso e também delicado, sem excesso de tempero, alho e ervas, o que às vezes o deixa indigesto. Foi outra boa experiência, que igualmente me fez lembrar da minha avó.

Por fim, resolvemos pedir sobremesa, já que, apesar de termos comido muito bem, estávamos com o estômago leve. Solicitamos torta de limão e o sorvete de amêndoas, feito na própria casa. Ambos os doces estavam bons e fecharam bem a nossa experiência, possivelmente a mais inusitada dos últimos tempos.

O Picagli é um lugar para quem gosta de boa comida, mas simples e sem frescura. Deve-se dar um desconto ao cheiro de mofo e às taças, pois a boa refeição que se faz por lá compensa. Recomendo ir no almoço de domingo, quando o lugar possivelmente fica mais iluminado, animado e seguro - naquela rua escura e vazia, não colocar um segurança na porta à noite é quase um suicídio.

Não contarei a história do restaurante, pois tudo isso pode ser encontrado no seu site: http://www.picagli.com.br/

Por fim, faço um agradecimento ao amigo Esper pela dica!

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Sbav abre inscrições para curso em julho

Sempre que me pedem dica de onde começar a aprender sobre vinhos, recomendo os cursos da Sbav, que em 2010 completa 30 anos de história - é a mais antiga confraria de vinhos do país. Trata-se de uma associação muito séria e que tem como único e nobre objetivo disseminar a cultura do vinho.

Na próxima semana, a Sbav inicia mais uma turma do seu curso básico, que busca introduzir o interessado no mundo do vinho e passar a ele os principais conceitos sobre o assunto. São 4 aulas, nos dias 7, 14, 21 e 28 de julho, que abordarão pontos como história, tipos de uvas e vinhos, processos de vinificação, técnicas de degustação, serviço, harmonização, escolha e compra do vinho, entre outros temas.


Recomendo fortemente os cursos da Sbav, pois foi nessa escola que comecei a aprender sobre vinhos e onde também conheci pessoas fantásticas, que, além de bons amigos, até hoje me ensinam a apreciar, cada vez mais e melhor, a bebida de Bacco.

O valor do curso é de R$ 390, que pode ser pago em 3 vezes. Sócios da Sbav pagam R$ 330.

Mais informações: 11 3814-7905 (Nelson)

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Boa Compra: Errazuriz Reserva Sauvignon Blanc

Elegi este vinho para ser aquele branquinho que terei sempre em minha geladeira e beber no dia a dia. Adoro vinhos brancos, especialmente em dias quentes. Descobri este almoçando no Ráscal. Paguei cerca de R$ 60 e achei um belíssimo custo-benefício. Entrei no site do importador, a Vinci Vinhos, e vi que o valor da garrafa é aproximadamente R$ 40 (varia com o dólar), uma verdadeira pechincha.

Para quem gosta de sauvignon blanc do Novo Mundo, como os chilenos e neozelandeses, este Errazuriz é uma ótima. Cítrico, exótico, com aroma de carambola, pura fruta, excelente acidez. Vinho perfeito para uma tarde de sol, com frutos do mar ou mesmo sem comida. Compro e mando tudo para a geladeira, pois não é vinho para guardar. Divide espaço com o Alamos Chardonnay, outro belo custo-benefício entre os brancos. Compre e beba.

domingo, 27 de junho de 2010

Boa Compra: Il Bruciato

Quando o vinho tem mais pontos do que cifrões, é sinal de boa compra. Este toscano do Antinori é um dos meus favoritos na faixa dos 88 a 90 pontos - vinhos que considero muito bons/excelentes. Trata-se do "irmão mais novo" do fantástico Guado al Tasso, um dos melhores grandes supertoscanos que já bebi, ao lado do Solaia e do Sassicaia.

A boa notícia é que se pode pagar R$ 89 na safra 2006, no Marchê. Ainda jovem e cheio de fruta e estrutura, com taninos e acidez de um vinho "pré-adolescente". Mas com futuro promissor. Um belo Bolgheri, com aquele corte tradicional de cabernet sauvignon e merlot, além de um toquezinho da syrah.

Ainda é um vinho "áspero" para quem está acostumado aos evoluídos. Mas pode ser guardado por mais uma década, pois certamente evoluirá muito. Para quem aprecia a potência e "agressividade" da juventude e tem pressa de ser feliz, nada de errado se consumi-o agora. Eu mesmo já bebi uma garrafa semana passada!

Boa compra: Quinta da Bacalhôa

Há uma infinidade de vinhos à venda em lojas e importadoras, oferecidos diariamente a nós por e-mails e telefonemas - alguns até inconvenientes, pois nos pegam em reuniões e no trânsito. Também vemos "indicações" em blogs, que acabam nos confundindo, pois não sabemos se são dicas do autor ou somente reprodução de anúncios - às vezes até com interesse comercial - propaganda pura.

Entendo que vinho é algo extremamente ligado a gosto pessoal, apesar de haver parâmetros razoáveis para mensurar qualidade. No entanto, como a coisa que mais me perguntam é qual vinho indico para isso ou para aquilo, vou começar a registrar coisas que compro e gosto aqui no meu blog. Não tenho a pretensão de julgar vinhos, por isso não publicarei o que eu beber e não gostar. O objetivo é indicar boas compras, de vinhos que, na minha opinião, possam ser úteis para outras pessoas - procurarei sempre indicar essas utilidades, por exemplo, sugerindo compatiblizações com comidas ou ocasiões.

Para inaugurar essa séria, deixo aqui a indicação de dois vinhos da Quinta da Bacalhôa: um tinto, à base de cabernet sauvignon, e outro branco, o Cova da Ursa. Comecei a me interessar por esses vinhos por conta do "fanatismo" do amigo Esper, um profundo conhecedor e admirador dos vinhos da terra dos nossos irmãos portugueses. Aliás, não apenas entendedor desses vinhos, mas de muitos outros, o que aumentou ainda mais a minha curiosidade pela Quinta da Bacalhôa.

Não gastarei tempo escrevendo o que se pode encontrar facilmente no Google - por exemplo, quem é a Quinta da Bacalhôa, informação também disponível no seu site: http://www.bacalhoa.com/. Digo apenas que é um produtor bastante relevante e que produz boa variedade e qualidade de vinhos em Portugal. O importador é a Portuscale. Mas essa informação é um pouco irrelevante, pois eles são meio chatos para a venda direta ao consumidor. A boa notícia é que são vinhos fáceis de serem encontrados em restaurantes, empórios e supermercados.

O Cova da Ursa é uma gratíssima surpresa, pois é um vinho que une o que há de bom no Velho Mundo - a boa fruta e elegância - com o que o Novo Mundo agregou de melhor - estrutura e maciez do tratamento no carvalho. Realmente fantástico pelo que custa. Já o Quinta da Bacalhôa tinto é um exemplar do que há de melhor com a cabernet sauvignon fora da França - boa fruta, estrutura, taninos doces e um corpo fora da curva para esse padrão de vinhos. Encontram-se nos supermercados as safras 2004 (se tiver sorte), 2006 e 2007. Considerando que o branco sai a R$ 60 e o tinto, a R$ 80 (safra 2007), poucas ofertas podem ser mais interessantes. O branco vai bem com frango e peixes com sabor mais fortes; já o tinto é perfeito com carnes de boi e molhos à base de carne, como um belo ragú de patinho.

Os preços acima foram encontrados na Casa Santa Luzia, em uma promoção que não deverá durar muito. Quem gostar do estilo mais despojado desses vinhos e tiver a chance de comprar, certamente fará bom negócio.

Ripasso: um Valpolicella turbinado

Semana passada, reuni a confraria Sereníssima na minha casa para uma degustação muito interessante, na qual colocamos lado a lado oito exemplares de Valpolicella. Mas não eram Valpolicella "comuns", simples, daqueles que encontramos nas gôndolas dos supermercados a preços convidativos. O painel reuniu rótulos do que eu chamo de "Valpolicella turbinado", produzido pelo método ripasso, que confere mais estrutura e complexidade ao vinho. Estes custam, no Brasil, entre R$ 80 e R$ 120, o que já indica algum diferencial. Antes de comentar o painel, vou gastar algumas linhas para falar sobre o tipo de vinho que degustamos.

Valpolicella é uma região localizada no Vêneto, que, por sua vez, integra a chamada Tre Venezie. Trata-se de uma das principais regiões produtoras de vinhos na Itália em termos de volume, possivelmente a que mais produz no norte do país. Apesar de liderar pela quantidade, o Vêneto e, em particular, Valpolicella, não oferece, proporcionalmente, grande volume de vinhos de ótima qualidade.

Os vinhos de Valpolicella são elaborados essencialmente com as uvas tintas corvina, rondinella e molinara, mas podem levar outras cepas locais, como a negrara. Existem basicamente seis categorias de Valpolicella, que divido em dois grupos: o básico, jovem e bastante simples, produzido em qualquer parte da denominação; o Valpolicella Classico, um pouco melhor, produzido na região original da denominação; o Valpolicella Classico Superiore, este sim bem melhor, pois além de ser elaborado na melhor região, com as melhores uvas, ainda é envelhecido antes de ir ao mercado; e o Valpolicella ripasso, na minha opinião acima dos demais em termos de complexidade e muitas vezes também suerior em qualidade.

O segundo grupo compreende outros dois tipos de Valpolicella que são, para mim, tão mais complexos e distantes dos anteriores em termos de qualidade que prefiro colocá-los em um parágrafo diferente: o Amarone, um belíssimo vinho elaborado com as uvas semi-passificadas, o que torna a bebida mais alcoólica, mas também muito mais complexa e estruturada; e o Recioto, a versão doce do Amarone, que possui uma quantidade maior de açúcar em consequência da interrupção do processo de fermentação.

A degustação
O foco da degustação foram os Valpolicella ripasso, que ganham complexidade por receberem uma parcela do "bagaço" das uvas do Amarone durante o processo de fermentação. É por receber esse "upgrade" que chamo este tipo de vinho de "turbinado". Em termos de aroma e sabor, são vinhos mais próximos do Amarone do que do Valplicella Classico Superiore. No entanto, se distanciam dos que eu considero os "tops" da região quando avaliamos corpo e persistência. Mas a experiência da semana passada quebrou um pouco essas "regras" mentalmente estabelecidas por mim.

Dois oito vinhos degustados, falarei sobre aqueles que me chamaram a atenção, pois meu objetivo não é ficar fazendo nota de degustação - não tenho muita paciência para isso. A seguir, os detaques da noite, em três estilos totalmente diferentes. O primeiro é praticamente um Amarone "contemporâneo"; o segundo, modernoso, amadeirado, ao melhor estilo "novomundista"; e o terceiro, o mais tradicional de todos, marcado pelos aromas e sabores de uva passa.

1º) Dal Forno Romano Valpolicella Classico Superiore 1998
Esta foi a primeira grande quebra de paradigma para mim. Pela primeira vez bebi um Valpolicella que, mesmo não sendo ripasso ou Amarone, me agradou muito. Na verdade, mais do que isso. Esse vinho me surpreendeu muito, pois era praticamente um Amarone, superando todos os demais no painel. Dei a ele 90 pontos, conquistados pela sua estrutura e intensidade, com aromas de uva passificada, além de frutas vermelhas em geral. Na boca, ótimo corpo, acidez e um pouco de adstringência, o que me fez concluir que esse vinho ainda iria longe. No rórulo, há a informação de que parte das uvas é semi-passificada, mas não fica claro se se trata do uso de "repassagem" com as uvas do Amarone ou se realmente há uma primeira fermentação com uvas semi-passificadas. Enfim, o que importa é que se trata de um vinho extraordinário - pena que custe uma pequena fortuna na importadora Cellar, que traz o Romano dal Forno para o Brasil.

2º) Bosan Ripasso 2006
Entre os ripasso "mortais", este é, para mim, o melhor de todos. Não apenas deste painel, mas o melhor entre todos os ripasso que já bebi. Trata-se de um vinho intenso na cor, nos aromas e no sabor, podendo até ser confundido com Amarone menos encorpados e alcoólicos. Tem um estilo mais modernoso, menos "vinoso" e mais amanteigado, com toque de madeira perfeitamente equilibrado com os aromas frutados, que são a marca deste tipo de vinho. Na boca, o tostado e a fruta aparecem novamente, boa acidez, de médio a bom corpo e boa persistência. Dei 89,5 pontos a este vinho, que realmente me encantou pelo equilíbrio e por ser delicioso, no nariz e na boca.

3º) G. Poggi Ripasso Il Moretto
Gostei bastante deste vinho, pois remete ao estilão mais tradicional do Amarone, com bastante uva passa e, neste exemplar, um toque marcante de própolis. Trata-se de um vinho com média a boa acidez, taninos mansos, bom corpo e média a longa persistência. Dei a ele 89 pontos, pois é muito agradável e emociona quem gostava dos Amarone produzidos até a década de 90.

As decepções da noite, para mim, ficaram por conta dos ripasso do Guerrieri-Rizzardi (Pojega), que é um dos meus produtores favoritos de Amarone, mas que levou apenas 86,5 pontos; e do tradicionalíssimo Masi (Brolo di Campofiorin), que amargou a 7ª posição, com 86 pontos, à frente apenas do ripasso do Tedeschi (Capitel San Rocco) - este último estava visivelmente problemático e comprometido, por isso prefiro não avaliar. O vinho do Zenato (Ripassa) ficou com 86,5 pontos e do Alegrini (Corte Giara), com os mesmos 86 pontos do Masi.