sábado, 25 de junho de 2011

O copiloto de churrasqueira

Fazer churrasco é uma terapia. Além de ser algo relativamente fácil, simples, é uma atividade gastronômica que nos entretém por algumas horas, dá prazer, e os resultados são quase sempre satisfatórios. Eu sempre fui o churrasqueiro da família. Inicialmente, não por vontade própria, mas porque era conhecido como o sobrinho que gostava de cozinhar. Depois me firmei no cargo e passei a ser convidado para aniversário de pessoas que sequer conhecia.

No começo, ficava meio assustado e ansioso com a responsabilidade, já que os churrascos na minha família reuniam até 30, 40 pessoas. Quando percebi que a coisa era mais ou menos simples – bastava não deixar a carne tão mal passada para as mulheres e tão bem passada para os homens –, até que comecei a me divertir. Chegava pelo menos 1 hora antes do início do almoço e já começava os trabalhos. Franguinho e linguiça iam para a grelha logo cedo, de forma que quando o batalhão chegasse já havia o que comer. Isso me dava tempo para preparar as carnes que não poderiam ir para a grelha antecipadamente, como picanha, maminha e alcatra.
Com o passar do tempo, no entanto, esses churrascos deixaram de ser uma terapia para mim e se tornaram uma grande fonte de irritação. Não sei se estou ficando velho e isso esteja influenciando, o fato é que comecei a ter “tolerância zero” com uma figura sempre presente em qualquer churrasco que se preze: o copiloto de churrasqueira.
O copiloto de churrasqueira é aquele cidadão que logo que chega no churrasco cola do seu lado e não para de dar “dicas” – que você obviamente não pediu – para que o seu churrasco seja o melhor do mundo. Geralmente ele entra em ação aos finais de semana e feriados. O que mais irrita nesse profissional da encheção de saco é que ele não coloca a mão no carvão ou na faca de jeito nenhum. Parece um veterano aposentado que agora faz parte do conselho consultivo do churrasco. Fica o tempo todo com o copo de cerveja geladinha na mão, camisa impecável e cabelo devidamente engomado. Vez ou outra te oferece um pouco de cerveja, sendo essa, na minha opinião – não é justo apenas criticar o colega de trabalho –, a sua grande contribuição para o sucesso do churrasco.
Os palpites começam já na forma de acender a churrasqueira. Se você usar o acendedor que vem com a embalagem do carvão, lá vem o palpite: “Eu conheço uma forma bem melhor. Já experimentou molhar o pãozinho com álcool...”.  Aí você resolve seguir a dica do cara para fazer amizade – acredite, em alguns casos o copiloto, cujo nome você nunca irá se lembrar, se apresenta a você no momento em que assume o posto.  Acesa a churrasqueira, é hora de ajeitar o carvão. E, aqui, todo mundo também tem a sua técnica testada e aprovada. Se você espalhar o carvão, o seu colega dirá que “o ideal é colocar ele no canto”. Se você colocar no canto, pode apostar que terá esquecido algum detalhe, que prontamente será lembrado pelo copiloto.
Mas o pior é quando você coloca as mãos nas carnes... Aí o festival de dicas e palpites é uma enormidade. Cada um tem a sua forma de salgar e cortar a picanha. E já percebi que são quase infinitas as combinações: corta antes e salga em seguida; corta depois e salga sobre a grelha, corta o bife com 2 dedos de altura e não salga antes de começar a grelhar; salga depois de pronta; usa espeto e bate o sal antes de ir para a churrasqueira; coloca a gordura para baixo primeiro; corta em bife; coloca a peça toda; vira do avesso; corta de um lado; corta do outro; não corta... E não para por aí. O ajudante de plantão tem a melhor estratégia para estabelecer a ordem de servir e o ponto de cada carne, domina a técnica do “corte aperitivo” e assa uma cebola como ninguém!
Durante anos fiquei tentando imaginar porque esse especialista do churrasco nunca arregaça as mangas e assume o comando. Ao mesmo tempo, nunca me intimidei e passei os espetos para o auxiliar indesejável,  pois estaria dando o braço a torcer e aceitando que ele era mais competente que eu. Coisa de iniciante inseguro... Também nunca entendi porque esses caras, que geralmente são médicos, advogados, administradores, professores, profissionais liberais de toda espécie ou mesmo funcionários públicos ou de multinacionais, nunca largaram a caneta e abriram suas redes de churrascarias ou casas de carnes para competir com Fogo de Chão e Bassi. Seria um sucesso!
O fato é que, hoje, raramente vou para a churrasqueira. Faço isso apenas para grupos muito pequenos, quando conheço todo mundo e tenho a liberdade de mandar o copiloto às favas sem que isso gere um grande mal estar. Minha paciência com gente chata está cada vez menor, especialmente quando isso atrapalha momentos que devem ser apenas de prazer. No trabalho, somos pagos e obrigado a aguentar mala sem alça. No lazer, de jeito nenhum!

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Um novo astro na cena gastronômica

O universo gastronômico é fascinante não apenas por se basear na constante busca do prazer, mas, também, por ser um ambiente de experimentações. Novas descobertas excitam chefs e comensais, muitas vezes criando tendências, e outras, apenas modismos. Para alguns aficionados, a cozinha é quase um laboratório, e novos ingredientes e técnicas dão sentido ao seu trabalho.

No cenário multicultural em que a cozinha atual está inserida, que mistura tradição, contemporaneidade, local e internacional, tudo pode acontecer. Especialmente na cozinha de gênios da gastronomia, como o renomado chef catalão Ferrán Adrià, que, depois de popularizar as famigeradas “espumas”, leva o crédito de ter apresentado ao mundo ocidental o mais novo astro da gastronomia mundial: o alho negro.

Clique aqui e leia mais na revista Free Time.

sábado, 4 de junho de 2011

Simplicidade e tradição fazem uma boa pizza

Às vezes ficamos esperando encontrar lugares e vinhos fora de série para indicar e nos esquecemos de que, no dia-a-dia, também comemos e bebemos e queremos tirar o máximo dessas experiências, ainda que com certa simplicidade. Quando nos damos conta disso, a ficha cai e percebemos que não precisamos esperar conhecer uma grande surpresa para recomendar aos amigos.

Isso posto, indico hoje um lugar que vou sempre e que, mesmo em casa, consigo curtir pelo "delivery". Estou falando da Famiglia Lucco, na Lapa, que é a minha pizzaria oficial para o dia-a-dia e também para algumas ocasiões especiais. E são várias razões para isso.

A primeira é que o lugar, apesar de bonitinho e bem arrumado, não tem frescura. Não é restaurante da moda - tem bastante tempo de estrada - e mantém garçons que atuam e se vestem de forma tradicional - sem modeletes recepcionando na porta e moçadinha com lencinho na cabeça, jogando charme para todo lado e esquecendo o chope no balcão.

Mas o principal, claro, é a pizza. É daquelas bem tradicionais, sem frescura do "prefere massa fina, média, grossa, com borda recheada de catupiry", coisa de quem quer fazer da pizza um Big Mac italiano. Lá, a pizza é aquela que comíamos com nossos pais e avós, mas muito bem feita. Muito mesmo, qualquer uma que se peça vem com ingredientes de primeira e com a massa como deve ser: crocante e saborosa.

Outro diferencial importante é que a casa permite que você leve o vinho. Eu sempre levo os meus e sou muito bem recebido. Quando me vê com as garrafas, o prestativo e simpático Ferreira se apressa para pegar o balde de gelo e taças de boa qualidade. O serviço é impecável, mas sem ser pedante, e o jantar transcorre na maior tranquilidade e descontração, como deve ser em uma pizzaria. Nada de luz escura, decoração de bar da Vila Olímpia e sommelier fazendo charme para abrir a sua garrafa. O Ferreira manda brasa no saca-rolhas e te deixa à vontade para beber seu vinho.

Para quem mora na Lapa ou na Vila Leopoldina e está acostumado a gastar R$ 60 para comer uma boa pizza na Brascatta, na Ritto ou no Ráscal, fica a aqui uma alternativa interessante e bem mais em conta.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Boa compra: Sonsierra Reserva

Ano passado bebi um Rioja Reserva que me chamou a atenção pelo equilíbrio e pela facilidade de beber, qualidades que se somaram ao que Rioja tem de melhor, na minha opinião: o bom uso da madeira e um monte de aromas terciários. O vinho em questão é o Sonsierra Reserva, que conheci em uma degustação para a revista Free Time.

Na ocasião, a safra 2002 desse vinho ficou na frente de outros Rioja e Ribera bem mais caros. Teve desempenho equivalente a vinhos que custavam duas ou três vezes mais e inclusive foi eleito o melhor do painel por um dos degustadores participantes.

Saí dessa degustação e comprei algumas garrafas, que venho bebendo até hoje. Uma delas foi submetida a uma nova prova, desta vez de uma de minhas confrarias, e deixou para trás famosos como Viña Ardanza, Mauro e Torremilanos.

O problema é que meu estoque baixou e fui para a internet procurar o Sonsierra, que é importado pela Barrinhas - é inútil ligar para eles e tentar comprar diretamente... Encontrei uma bela promoção desse vinho no site do Empório Santa Joana, que está saindo a R$ 79,90. Se custasse o dobro ainda seria uma boa compra. Repus meu estoque e indico essa oportunidade para vocês.

Em tempo: Bebi as safras 2000 e 2002, ambas redondas e prontas para o abate.