sábado, 24 de maio de 2008

Um italiano sofisticado, mas sem nariz empinado

Sexta-feira passada, emenda de feriado, resolvi fazer um almoço um pouco diferente e conhecer outro restaurante que, apesar da fama de boa comida, eu nunca hava tido a oportunidade de visitar. Foi uma grata surpresa - se é que se pode dizer que encontrar boa mesa no Supra é exatamente uma surpresa.

Localizado próximo ao burburinho do Itaim, mas numa rua bastante tranqüila, a Araçari (número 260), o lugar não tem a suntuosidade de outros italianos de nariz empinado, mas não deixa de ser charmoso e até certo ponto sofisticado. Assim é também o serviço: não muito formal, porém eficiente. O proprietário, o chef Mauro Maia, circula pelo restaurante o tempo todo e faz questão de cumprimentar os clientes e mostrar que quem manda está ali para o que for necessário.

Mas vamos ao que realmente interessa! O cardápio, que agrega toques da Itália clássica e da moderna, dá ênfase para a gastronomia do norte do país, em especial do Piemonte, o que acabou inspirando as minhas escolhas nesse dia.

Passado o couvert, que é simples e gostoso (pães, sardela, manteiga e mini legumes em conserva), pedi o Carpaccio di Sottofiletto alle Olive e Pinoli, preparado com miolo de alcatra ao molho de azeite extravirgem, mostarda, limão e azeitonas verdes e pretas, finalizado com grana padano, pinoli e alcaparras de Pantelleria occhi di pernice. Simplesmente uma delícia! Fatias muito finas, que derretiam na boca, sob um molho saboroso e, ao mesmo tempo, leve e em harmonia com o delicado sabor do carpaccio. Para acompanhar, pedi uma taça do espumante italiano Astoria Lounge, elaborado com as uvas prosecco e chardonnay, que foi muito bem com o prato.

Como prato principal, fui de Agnolotti dal Plin in Salsa di Arrosto, recheada com carnes, verduras e ervas ao molho de vitelo, grana padano e manteiga. Recomendada pelo garçom, essa massa é realmente fantástica. São trouxinhas de massa recheadas na hora, uma a uma, manualmente, que agradam demais pela delicadeza quase oriental, mas sem perder a consistência "al dente". O recheio de carne é muito saboroso e equilibrado, sem se destacar pelo excesso de tempero. Harmoniza perfeitamente bem com o delicioso molho à base de manteiga.

O vinho para acompanhar a massa foi o Barbera D'Alba Ruvei 2004, do produtor piemontês Marchesi di Barolo. É um vinho muito agradável, que mostra no nariz e confirma na boca frutas bem maduras, quase secas, e um pouco de couro e especiarias, que conferem maior complexidade à bebida. Os taninos redondos e o bom corpo do vinho davam a sensação de aveluado na boca. Foi uma ótima pedida, apesar de talvez ser um pouco potente demais para a delicadeza da massa. Mas não chegou a brigar.

Por fim, ainda não satisfeito resolvi pedir um Budino di Cioccolato Caldo con Gelato alla Vaniglia, um pudim quente elaborado com chocolate belga Callebaut, servido com sorvete artesanal de creme crocante. Também delicioso, lembra muito um petit gateau. Para acompanhar, pedi uma taça de marsala, que harmonizou perfeitamente bem com a sobremesa.

Depois dessa visita, posso dizer que o Supra está entre os melhores italianos que conheço em São Paulo - e também entre os mais caros. Mas vale a pena tirar um dia para conhecer o lugar e, quem sabe, poder voltar nele mais vezes.

Mais informações: http://www.resupra.com.br/

sábado, 3 de maio de 2008

Boeuf Bourguignon Nobre

Sou fã da culinária clássica européia, em especial da francesa e da italiana, o que me estimula a fazer algumas experiências interessantes na minha cozinha. Uma delas, repetida à exaustão, é o tradicional boeuf bourguignon.

Depois de algumas experiências com carnes de segunda, que é o usual para esta preparação, resolvi arriscar e cometer uma "heresia" para os mais tradicionalistas e entendidos no assunto: preparei o clássico da Borgonha com filé mignon!

Pode parecer loucura deixar filé mignon cozinhar por horas, mas, para a minha surpresa e a de quem já provou aqui em casa, o resultado é ótimo e você não corre o risco de acabar um trabalho de mais de 3 horas com uma carne seca ou dura ou molenga demais. Vale a dica, especialmente para quem tem menos experiência na escolha da carne. Segue a receita para 4 pessoas, com algumas adaptações minhas.

Ingredientes:
  • 1 kg filé mignon
  • 1 garrafa vinho tinto de boa qualidade (esqueça uva americana e aposte nos mais tânicos)
  • 1 cebola picada em pedaços grandes
  • 1 cenoura em cubos
  • 4 dentes de alho amassados
  • 4 cravos
  • 4 grãos de zimbro
  • 1 anis estrelado
  • 100g de bacon em cubos
  • 1 colher de alho picado
  • 1 bouquet com louro, alecrim e tomilho (pode colocar outras ervas para carne)
  • 12 mini-cebolas salteadas no azeire e açúcar
  • salsa picada a gosto
  • sal a gosto
  • Pimenta do reino a gosto
  • 1 pitada de noz moscada
  • 1 xícara de café de conhaque
  • 1 xícara de champignon médios
  • 3 colheres de farinha de trigo
Modo de preparo:Frite o bacon até derreter toda a gordura e acrescente alho picado. Na mesma panela, frite o filé cortado em cubos médios/grandes, tempere com pimenta do reino e sal e flambe com conhaque. Acrescente 3 colheres de farinha de trigo.
Em outra panela, coloque o vinho e todos os outros ingredientes (exceto as cebolinhas, o champignon e a salsa). Deixe ferver em fogo baixo por uns 20 minutos. Coe o vinho para tirar os legumes, temperos e ervas e jogue o líquido na panela com a carne e o bacon já fritos. Mexa e deixe cozinhar em fogo baixo por cerca de 3h.
Acrescente as cebolas já caramelizadas e os champignons e deixe cozinhas por mais 30 minutos. Teste o sal e a pimenta. Acrescente a noz moscada. Veja se a consistência está adequada - não pode estar seco, nem muito líquido. Por fim, jogue a salsa picada por cima e sirva na própria panela.
Acompanhamento:Arroz e batata vão muito bem. Pode-se comer com pão, como fazem na França.
Vinho:Diferentes tintos podem funcionar. O clássico são os pinot noir da Borgonha, também utilizados para cozinhar a carne.