quinta-feira, 22 de março de 2012

Será, Salton?

A vinícola Salton, uma das gigantes brasileiras, acaba de soltar nota para a imprensa dizendo agora que é contra as medidas de salvaguarda. Agora que já praticamente emplacaram o plano maquiavélico dos grandes produtores para dificultar e encarecer a importação de vinhos? Agora que o apoio da Salton não é mais necessário, a vinícola se diz contra? E o que eles farão para reverter a situação? Usarão o poder que têm junto às entidades que os representam para impedir que as salvaguardas sejam implementadas? Ou apenas querem sair menos chamuscados dessa situação terrível que ajudaram a fomentar? Se a Salton se limitar à nota, de forma oportunista e covarde, será a primeira vinícola brasileira a sumir da minha adega. Espero que não me decepcionem e revertam a caca que criaram...

Esta é a nota:

Nota à imprensa

A Vinícola Salton esclarece que são as entidades representativas do setor, Ibravin, Uvibra, Fecovinho e Sindivinho que estão à frente do movimento para salvaguardas dos vinhos nacionais. A Salton, compreendendo que estas medidas podem restringir o livre arbítrio de seus consumidores, encaminhou ao Ibravin um documento informando que não apoiará a causa. Reforçamos ainda que a Salton, uma empresa centenária e brasileira, se preocupa muito com seus clientes e consumidores e que busca constantemente o melhoramento de seus processos e produtos, por meio de investimentos em novas tecnologias e programas de qualidade, para concorrer, de forma justa, com produtos nacionais e importados.

Assessoria de Imprensa  

sexta-feira, 16 de março de 2012

A indústria do vinho nacional envergonha o Brasil

Como brasileiro e consumidor de vinhos nacionais, estou envergonhado pelo que os nossos grandes produtores estão tentando fazer com o mercado de vinhos no Brasil. Mais do que envergonhado, estou frustrado, pois a tentativa junto ao governo de inviabilizar a importação de vinhos e eliminar a concorrência é um sinal claro de que nossos produtoras já não acreditam mais na sua capacidade de elevar a qualidade dos vinhos que vendem. Parecem não se achar competentes o suficiente para competir, ainda que tenham todas as condições para trabalhar com preços melhores do que os importados.

O que eu vejo na nossa indústria vitivinícola é a incapacidade de fazer nossos vinhos serem algo além do mediano ou, se é nessa faixa de qualidade que se pode atuar, fazer com que os preços sejam competitivos nessa faixa de vinhos mais simples. Os produtores brasileiros jogaram a toalha e acreditam que só sobreviverão se eliminarem os vinhos de melhor qualidade do mercado ou se jogarem seus preços na Lua, tornando-os inviáveis. E é isso que pretendem medidas idiotas como obrigar os importados a terem rótulos em português e dobrarem o imposto de importação.

Vejo nessa história toda um misto de incompetência, ganância e covardia. Me revolta saber que nossos produtores, em vez de melhorarem e baratearem seus produtos, preferem fazer lobby para aumentar impostos em um país cuja carga tributária já é absurda, em um país em que o vinho é visto como bebida de gente rica de tão caro que é. E a prova de que o objetivo é somente eliminar a concorrência para se refestelarem na mediocridade é que eles não estão trabalhando para reduzir seus próprios impostos, mas sim lutando para nos proibir de consumir vinhos de alta qualidade.

Eu já fiz uma promessa: se os impostos para importação de vinhos subirem, eu NUNCA MAIS compro uma garrafa de vinho nacional. Nem espumantes!

domingo, 4 de março de 2012

O "primeiro espumante do mudo" é o último que eu beberia!

Há tempos leio sobre esse espumante de Limoux, na França, e hoje resolvi provar. Reza a lenda (uma delas) que este é o primeiro espumante do planeta. Mas eu não beberia novamente nem se fosse  o último! Custa metade do preço de um champanhe básico em promoção e o dobro de um espumante nacional de boa qualidade. Qualquer um deles é bem mais negócio. Aliás, há um mar de prosecco, cava e outros espumantes mais baratos que são muito melhores.

Não caia no marketing desse espumante. Apesar de francês e da propaganda do produtor e do importador, não vale metade do que custa.

Mediterrâneo: ótimos brancos, sem a mesmice das cepas francesas

Semana passada, uma das minhas confrarias, a Sereníssima, fez uma experiência muito interessante com vinhos brancos elaborados em países banhados pelo Mar Mediterrâneo. A proposta era que cada confrade escolhesse uma região e levasse o seu exemplar. Degustamos rótulos da Itália (Sicília, Sardenha e Campanha), Espanha (Penedés), França (Coteaux de L'Ardeche e Gaillac), Croácia (Orebic) e Grécia (Peloponeso). Incluímos também um português do Alentejo, como "coelho", mas ele claramente destoou, apresentando estrutura e características bastante diferentes dos brancos do Mediterrâneo.

A grande lição que tirei desse painel foi que existem vinhos brancos de ótima qualidade quando saímos das cepas óbvias como Chardonnay, Sauvignon Blanc, Riesling, Gewurstraminer, Chenin Blanc, Torrontés, Viura e outras produzidas em diversos países e que inundam as prateleiras das importadoras. Bebemos vinhos elaborados com uvas autóctones de nomes estranhos, como Insolia, Posip, Xerel-lo, Loin de L'Oeil, Moshofilero e Roditis. E revisitamos outras mais conhecidas, como Fiano di Avellino e Vermentino di Sardegna.

Fui para a degustação sem muitas expectativas, esperando beber vinhos diferentes e até mesmo alguma coisa interessante, de melhor qualidade. A grata surpresa foi ter bebido vinhos de fato bons e nada exóticos. Tive o prazer de conhecer produtos muito bem elaborados, com algumas características diferentes das cepas e regiões mais conhecidas. E o melhor: como são vinhos menos comerciais, os preços são ótimos. Bebemos vinhos de 88 e 90 pontos pagando entre R$ 50 e R$ 80. Uma pechincha se compararmos com franceses, espanhois, italianos, alemães, neozelandeses, chilenos e argentinos produzidos com uvas mais comerciais.

Os detalhes da degustação podem ser conferidos no blog da Sereníssima. Deixo aqui as dicas dos vinhos que mais me chamaram a atenção pela ótima relação custo-benefício, dos quais já fiz um pequeno estoque em minha adega: o Zagra Insolia, da Sicília (R$ 81 na Vinea), e o Is Argiolas, da Sardenha (está em promoção a R$ 54 na Expand). São vinhos típicos de duas ilhas italianas, valem cada centavo e merecem ser conhecidos.