domingo, 22 de abril de 2012

Proteste contra as salvaguardas na Expovinis 2012


Farei como sugerido pelo amigo João Filipe Clemente. Irei de preto à Expovinis e ignorarei os estandes e eventos de vinhos nacionais.

Vamos dar um grande NÃO aos mentores desse crime contra o vinho e contra o consumidor brasileiro!

terça-feira, 10 de abril de 2012

Contraproposta aos produtores nacionais

Estou disposto a levantar a bandeira branca na guerra contra as salvaguardas. Para que os produtores nacionais não acusem de intransigentes aqueles que defendem o boicote ao vinho brasileiro, acho justo fazer uma contraproposta e abrir um caminho de conciliação. A ideia é a seguinte: se a Ibravin e as demais entidades que representam as vinícolas nacionais retirarem o pedido de salvaguardas, me comprometo a puxar o movimento para redução de impostos para o vinho nacional.

Tenho certeza de que a adesão de blogueiros, jornalistas, lojistas, restaurantes e associações como Sbav e ABS, além dos consumidores, será imediata. A proposta seria aproveitar a mobilização contra as salvaguardas para pressionar o governo a reduzir a altíssima carga tributária imposta aos produtores brasileiros. Se a proposta for aceita, começo no dia seguinte a campanha, com força total, e sei que não estarei sozinho. Aliás, sei inclusive que as associações que representam os supermercadistas entrariam numa campanha para zerar os estoques das vinícolas gaúchas. Todos estariam em prol do vinho nacional! Me parece uma saída coerente e justa para todas as partes, concordam?

A contraproposta está lançada! 

domingo, 8 de abril de 2012

Vem aí a Coca-cola de uva fermentada!

Tive uma visão do futuro nesta noite! Sonhei que estava no ano de 2032 e visitava uma renomada vinícola brasileira na Serra Gaúcha. O lugar era enorme, com meia-dúzia de funcionários e muitas, mas muitas máquinas. Lembrava até uma daquelas montadoras de automóveis do ABC, com tudo automatizado e controlado. Tudo era assustadoramente igual, padronizado, sem cor e sem cheiro. Dos tanques de aço às garrafas e tampas, que eram idênticas às de Coca-cola!

Ali se fazia um único vinho, a partir de uvas fabricadas em laboratório, todas idênticas, fermentadas da mesma forma, resultando em milhões de garrafas iguais, de uma mesma bebida, que todos ali chamavam de vinho nacional! Não havia rótulos, mas sim uma impressão nas garrafas, cheia de avisos sobre as substâncias contidas no frasco. Até a quantidade de calorias era indicada!

Acordei suado, assustado e reflexivo. Afinal, por que raios tive essa visão tenebrosa do nosso futuro vitivinícola? Seria um sinal do que está por vir? Pensando sobre o assunto agora de manhã, concluí que pedir salvaguardas para os vinhos nacionais é, de fato, sinal inequívoco de que os produtores gaúchos entendem e tratam a bebida como Coca-cola, como um produto passível de produção em série, padronizado. E se eles pensam assim, meu medo das salvaguardas fica ainda maior, pois é um indício do que seremos forçados a beber caso os importados deixem de chegar ao Brasil. Parece que os produtores nacionais desistiram de apostar na qualidade e na identidade do seu vinho - que o tornaria único e incomparável - para produzir uma bebida padronizada, como de fato já são alguns dos piores vinhos produzidos em solo brasileiro.

O absurdo do pedido de salvaguardas reside no fato de tentar tornar similares produtos completamente distintos. É como dizer que dá na mesma ouvir Michael Jackson e Gilberto Gil porque ambos são música. Ou que não há diferença entre comprar um Picasso ou um Romero Britto porque ambos "enfeitam a parede". Visão tupiniquim de gente sem cultura e sensibilidade. Ou de gente mal intencionada, que se aproveita da má fé dos nossos políticos para ganhar dinheiro fácil.

Eu compreendo e aceito pedir salvaguardas para indústrias que produzem itens replicáveis em qualquer lugar, como tecidos, brinquedos e até carros. Indo para um exemplo extremo, tenho certeza de que a Ferrari poderia abrir uma fábrica no Brasil e produzir um automóvel tão bom quanto o italiano. Mas duvido que a Domaine de la Romaneé-Conti seria capaz de elaborar um Borgonha na Serra Gaúcha!

Vinho é uma bebida única, que expressa terroir, o trabalho do enólogo e a filosofia do produtor. Eu bebo um Bordeaux porque ele é a expressão daquele lugar único. E é por isso que eu chamo um Bordeaux de Bordeaux, ora bolas! É ÓBVIO! Portanto, não se pode produzir o mesmo vinho em diferentes países, não cabendo salvaguardas, consequentemente. Cada garrafa conta uma história, expressa o resultado de um trabalho e a identidade de uma região. Tal como a música ou outras modalidades artísticas, é expressão cultural e da diversidade. Quanto mais acesso temos a essa diversidade, mais ricos somos como país e como pessoas.

Mas nosso governo e nossos produtores parecem entender de outra forma. Talvez porque tratem o vinho como commodity, como uma bebida industrial, replicável, padronizada e sem identidade. Tenho medo do que o futuro nos guarda em sua adega...

sexta-feira, 6 de abril de 2012

O que o Brasil tem de bom não precisa de salvaguardas

Nos últimos dias eu e 99% dos enófilos temos batido muito na questão das malditas salvaguardas, seus motivadores e efeitos mais práticos. Mas o que está por trás disso, além da ganância e do oportunismo, é a fraqueza da nossa indústria vitivinícola. Como eu disse há algumas semanas neste blog, a auto-confiança dos nossos produtores se mostrou rala como vinho de garrafão. Se precipitaram ao jogar a toalha, pois nos últimos tempos a qualidade do produto nacional vinha melhorando de forma consistente. Mas a vontade de garantir lucros fartos foi maior do que a ambição de ganhar o consumidor pela qualidade. Como os especialistas são eles, acredito que chegamos mesmo ao limite, não conseguiremos ser mais do que isso. Esta é a principal mensagem que tiro de toda esta palhaçada.

Já repararam que tudo o que o Brasil faz de bom não precisa de salvaguaras? Já ouviram falar de salvaguardas para o futebol? E para a música? Alguém já imaginou salvaguardas para carnaval ou telenovela? E salvaguardas para o turismo? Nas passarelas da moda e nas artes também não se ouve falar... Enfim, não é preciso ser muito esperto para constatar que o pedido de salvaguardas para o vinho é prova de que, se estamos bem em outras áreas, nesta capengamos. Uma pena...

Boicote, resposta democrática a medidas autoritárias

Ao contrário do que estão dizendo por aí a Ibravin e outras associações retrógradas que supostamente defendem os interesses dos produtores gaúchos, o boicote ao vinho nacional é uma manifestação democrática contra a tentativa de nos imporem o que devemos beber.

Eu boicoto e apoio lojas e restaurantes que boicotam o vinho nacional até que desistam dessa ideia inaceitável e prejudicial ao mercado do vinho e aos consumidores brasileiros.

E digo mais: sei de fontes seguras que, se as medidas protecionistas passarem, os grandes grupos de supermercados, que são os principais distribuidores dos vinhos brasileiros, também entrarão no boicote.

A hora é de pressionar e, se tudo der errado, dizer um não definitivo ao vinho nacional!

domingo, 1 de abril de 2012

Copa América de Vinhos 2012

Ontem à noite, eu e um grupo de amigos realizamos mais uma degustação muito interessante com vinhos das Américas, que batizamos de Copa América de Vinhos. A ideia foi reunir alguns dos ícones desses continentes para compará-los. Trata-se de uma brincadeira, obviamente, como qualquer degustação que proponha ordenar vinhos de safras, cepas e regiões diferentes. Mas foi divertido e, desta vez, surpreendente!

Foram selecinados para o painel 7 vinhos, entre eles um brasileiro, que por decisão do grupo, revoltado com a ideia das salvaguardas, foi excluído da foto e não será comentado por ninguém. Chegamos a considerar retirá-lo do painel, mas como já havia sido comprado, mantivemos. Uma pena, mas enquanto essa palhaçada durar eu e muita gente que conheço não compraremos e não comentaremos os produtos nacionais. Estes são os vinhos que consideramos: Opus One 2007, Montelena Estate Cabernet Sauvignon 2005 e Caymus Cabernet Sauvignon Special Selection 2008 (EUA); Almaviva 2008 e Don Melchor 2006 (Chile); e Nicolas Catena 2007 (Argentina).

Como é possível constatar, todos os vinhos ainda estavam muito jovens. Mas mesmo assim decidimos fazer a prova. Daqui 10 anos voltamos para os mesmos vinhos e fazemos outra, já que as garrafas foram compradas em duplicidade em sua maioria. Todos os vinhos passaram pelo menos 3 ou 4 horas no decanter. A ordem das garrafas na foto é a classificação final do grupo. Porém, como o blog é meu (!), comentarei a minha classificação pessoal!

O último colocado, surpreendentemente, foi o Don Melchor 2006, que claramente não estava em sua melhor forma. Não identifiquei nenhum dos defeitos clássicos, mas havia um ranço, uma ameixa meio passada, com final de boca adocicado, que incomodou a todos. Era o mais escuro do painel, muito denso, quase negro. No nariz, ameixa, um toque de chocolate, terra molhada e um oxidativo leve. Na boca, boa acidez, seguindo a linha do nariz, mas com um final enjoativo. Taninos ainda pegando um pouco. Bom corpo e boa persistência. Mereceu 88 pontos.

O quinto colocado foi o Montelena Estate Cabernet Sauvignon 2005. Rubi, com boa intensidade. No nariz, fruta vermelha, leve herbáceo e toque de madeira sutil. O álcool incomodou um pouco. Na boca, boa acidez, alcoólico, bom corpo e boa persistência. Taninos também jovens e presentes. Levou 89 pontos.

O quarto colocado foi o Opus One, o que me surpreendeu, pois já bebi esse vinho em pelo menos outras 3 degustações semelhantes e ele quase sempre foi o melhor. Recentemente perdeu apenas para um Grange, australiano quase imbatível quando se fala de Novo Mundo. Mas desta vez não foi tão bem. Rubi muito intenso. No nariz, leve vegetal, toque defumado, frutas vermelhas e bastante álcool. Na boca, boa acidez, mais tânico que os demais e muita madeira. Acho que em 10 anos poderá superar os demais se tudo isso evoluir bem, pois tem muita estrutura, corpo e persistência. Ganhou 89,5 pontos.

A terceira posição ficou com o Almaviva 2008. Também muito intenso na cor rubi. Nariz lácteo e um ataque de álcool no início. Abriu um herbáceo e uma goiaba que me fizeram deduzir sua origem. Na boca, ótima acidez, um pouco tânico ainda, com noz ou algo nessa linha no final, deixando um retrogosto levemente caramelado. Ótimo corpo e boa persistência. Recebeu 90 pontos.

O vice-campeão da noite foi o Caymus Cabernet Sauvignon Special Selection 2008. Rubi muito intenso. No nariz, vegetal, um pouco de madeira e um toque mineral. O álcool também incomodou no início, mas depois melhorou. Na boca, mostrou ótima acidez, taninos presentes, muito corpo (carnudo), quase mastigável e uma persistência enorme. Mereceu 90,5 pontos.

E o grande campeão das Américas foi a surpresa da noite: Nicolas Catena 2007, que na minha opinião correria por fora. Belo vinho e, o melhor: o mais barato do painel! Rubi intenso e halo violáceo, entregando a malbec, que compõe pouco mais de 30% nesse corte com cabernet sauvignon. No nariz, fruta vermelha compotada, leve lácteo e madeira elegante, puxando para toques agradáveis de mentol e caramelo. Na boca, excelente acidez, taninos presentes, mas já arredondando. Madeira evidente, bom corpo e ótima persistência. No conjunto foi o que mais me agradou. Trata-se de um vinho ainda bastante jovem, mas já muito bebível e agradável. Levou 91,5 pontos.

O painel foi muito bacana, mas certamente a juventude dos vinhos prejudicou qualquer comparação mais séria. Vamos ver como estarão lá na frente, quando de fato estiverem prontos para o abate!