sábado, 13 de novembro de 2010

O melhor merlot do mundo. Qual mundo?

Às vezes fico em dúvida se é brincadeira, se é jogada de marketing ou se é apenas "enopatriotismo" mesmo. Não sou daqueles que criticam o vinho nacional - pelo contrário, tenho muitos rótulos brasileiros na minha adega e vez ou outra abro um. Me surpreende a evolução da qualidade dos nossos vinhos. Mas geralmente o que me surpreende mais são os preços.

Enfim, já falei sobre isso em outra ocasião e não vou ficar me repetindo. Porém, me assusta a quantidade de "notícias" que leio diariamente em sites e blogs sobre o sucesso dos nacionais mundo afora.  Aí eu leio e tento entender os critérios e as motivações, mas quase sempre fico na dúvida expressa no início deste post.

Hoje, li sobre mais uma competição "internacional" na qual o merlot da Casa Valduga, o Storia, foi eleito "o melhor do mundo". Claro que tive de ler a notícia na íntegra e, desta vez, tive a sorte de encontrar o detalhamento do painel. Diga-se de passagem, no texto original não se fala de "melhor do mundo". A repercussão é que seguiu essa linha ufanista, talvez para endossar o discurso corrente de que, depois de fazermos o segundo melhor espumante do planeta, agora nossa vocação é a merlot.

O fato é que o "melhor do mundo" era, também, o "mais caro do mundo", exatamente o dobro do preço do segundo colocado. Os outros 24 exemplares custavam da metade para baixo, sendo que alguns dos "competidores" saíram por 1/5 do preço do vencedor. Detalhe: entre as garrafas havia argentinos, uruguaios, chilenos e americanos a preços, NO BRASIL, muito inferiores ao nacional campeão. Faça idéia do preço no país de origem.

Acho que nós, que repercutimos esse tipo de notícia, devemos ser um pouco mais criteriosos, pois corremos sempre o risco de fazer parte de um movimento de "auto-enganação" nacional. É no mínimo ingênuo afirmar que de um painel limitado e sem representatividade como esse (cadê os europeus?) saiu o melhor merlot do mundo, especialmente por haver vinhos de preços discrepantemente diferentes, denotando categorias de bebida também diferentes.

Só para fazer uma comparação com um vinho que bebi semana passada, coloque o Storia ao lado do San Leonardo, um bom merlot italiano importado pela Mistral, na mesma faixa de preço no Brasil (na Europa deve custar 1/4), e veremos se o nacional mantém a corôa e a majestade.

Informações sobre o painel: http://www.winereport.com.br/winereports/brasil-il-il/440

2 comentários:

Marcelo di Morais disse...

Prezado Paulo, bom dia!

Você pode enviar o seu e-mail.
Por favor. bomdivinho@clictv.com.br - Gostaria de fazer-lhe um convite.

Anônimo disse...

Oi, Paulo.
Acompanho pela internet o que acontece no mundo do vinho e acho que navegamos em alguns sites em comum.
Não sei se vc leu "O especialista amador" do Arthur Azevedo, da ABS. Fiz uma defesa no site "Prazeres do Vinho", da liberdade para que todos possam expressar o que pensam de um vinho, sem a necessidade de um título de especialista. Mas o que eu percebo é isso que vc denuncia, a proliferação dos "jabás", das "bocas-livres" em troca de um comentário favorável de um vinho, de um produtor ou de uma importadora. E isso não é um defeito só dos leigos, é também, e muito mais seriamente, de alguns especialistas.
Mas eu espero que a própria liberdade da rede vá mostrando o que está acontecendo, do que tolher todas as pessoas que gostam de vinho de expressarem o que pensam.
Separar o joio do trigo é uma lição bíblica que estamos começando a fazer na internet, nesta nossa enoblogosfera.

Abraços!

Evaldo