Quando lancei meu blog, em julho de 2007, tinha como objetivo registrar minhas ideias e experiências no mundo do vinho e da gastronomia, além de trocar informações com pessoas com o mesmo interesse – por isso o nome “Clube da Enogastronomia”. Naquela época não havia “um blog de vinhos em cada esquina” e a troca virtual se dava em espaços como Orkut, sem muita qualificação, até pela proliferação de “fakes” que inundavam as comunidades sobre vinhos, locais de disputa de egos e vaidades.
Nestes cerca de 4 anos, fui escrevendo as besteiras que davam na minha cabeça, comentando lugares, pratos e vinhos que chamavam a minha atenção. Tudo sem muito critério e disciplina, baseado apenas no que eu achava interessante compartilhar. Justamente por isso a frequência de postagens no meu blog sempre foi ruim, com posts espaçados. Como um hobby, a enogastronomia não produz tantas experiências interessantes e dignas de serem compartilhadas. Atualmente, tenho postado muita coisa sobre a Sbav, associação da qual participo, pois é o que tenho vivido intensamente. No entanto, acho que isso desviou um pouco o objetivo do meu blog – por esta razão criamos o próprio blog da Sbav, de forma a não mais misturar os canais.
O fato é que de 2007 para cá o cenário mudou bastante. Além do surgimento de centenas de “enoblogs” – quem sabe, milhares –, agora boa parte deles está reunida no site Enoblogs (uma ideia genial, diga-se de passagem), que nos dá uma visão clara do que tem sido escrito nos blogs de vinho no Brasil. Acesso quase que diariamente esse site, e a conclusão a que chego é que cada vez mais os blogs se tornaram um grande canal de divulgação para as importadoras, além de espaços para replicar conteúdos de outros sites, sem muita criatividade, originalidade, critério ou relevância.
Claro que há exceções, mas, no geral, parece haver uma competição para ver quem publica mais conteúdo, e é claro que isso joga a qualidade do que é publicado lá para baixo – até porque muitos blogueiros são pessoas jovens, com pouca bagagem para falar de vinho com tamanha intensidade. Vejo um mar de posts avaliando vinhos, muitos dos quais corriqueiros, com “análises” muitas vezes simplórias e baseadas nas fichas divulgadas pelos próprios produtores ou importadores. Esta impressão foi confirmada, dia desses, por um amigo produtor de vinhos que comentou ser exatamente esta a opinião dos profissionais do ramo – os próprios produtores e importadores “avaliados” pelos blogueiros não veem qualificação naqueles que os avaliam.
A pergunta que eu faço é: A quem interessa esse tipo de movimento protagonizado por uma geração de blogueiros? Será que se escreve apenas para fazer um registro pessoal do que se tem bebido e compartilhar experiências bacanas? Ou talvez para competir e se destacar nos rankings que apontam os blogs mais populares e “frutíferos” – ainda que os frutos sejam quase irrelevantes para a cultura do vinho? Ou, ainda, será que há interesse comercial em expor produtos específicos, sob encomenda de produtores e importadores?
Talvez não seja à toa que uma parte razoável dos posts avaliam (elogiam, na verdade) os vinhos provados em degustações promovidas por importadoras, em restaurantes bacanas, que tornam os blogueiros convidados reféns das empresas patrocinadoras, obrigados a destacar os “experimentos” se quiserem ser convidados para as próximas. Se for este o caso, em breve teremos uma reviravolta no mundo dos blogs sobre vinhos, pois, na minha opinião, este movimento está chegando ao ponto de saturação. Quando todos falam sobre tudo, nada se destaca, e a relevância do canal deixa de existir. Inclusive para aqueles que, hoje, se beneficiam dele e alimentam o sistema.
terça-feira, 8 de março de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
14 comentários:
Poucas vezes li uma critica tão sóbria quanto essa ao atual mundo dos blogs sobre vinhos. Ainda mantenho meu blog (há quase 5 anos) com o mesmo propósito do inicio. Por vezes acho que tenho que inovar, mas vez ou outra concluo que isso pode Me levar a "vala comum". Meus posts Sao 100% de minha autoria e os vinhos sou em que compro em quase todos os casos, excetuando os presentes.
O alerta que Voce fez e verdadeiro: estamos chegando a um ponto de saturação.
Saúde!
Meu caro, também passei por uma fase de busca, tentando reinventar meu blog para deixá-lo "atual", como se ele estivesse ultrapassado. Dei uma escorregadas, postando coisas nem tão relevantes, apenas para não ficar "out". Mas concluí que a riqueza dos nossos blog é que eles, quando falam, dizem alguma coisa, que é importante ao menos para nós, autores. Pode não interessar a mais ninguém... Mas pelo menos escrevemos por nós, e não por importadoras ou pela obrigação de ser "produtivo".
Oi Paulo...
Ótima reflexão. Quero aproveitar e compartilhar com você minha visão sobre tudo isso...
Como vc sabe, antes mesmo do blogs, estávamos nós lá no Orkut falando sobre vinhos. Existiam os fóruns também e os blogs começavam a surgir. O Enoblogs veio juntar toda essa gente espalhada que assim como outros em tantas redes, tem uma única vontade: se expressar, contar para o máximo de pessoas possíveis sua história com o vinho.
Agora o Twitter e o Facebook tb agregam pessoas sobre esse assunto, mas de formas diferentes. O Enoblogs mesmo, percebo que tem "caras" diferentes quando compartilhado em outras redes sociais. Em cada grupo, as pessoas reagem de forma diferente e como reagem! Todos adoram assistir as pessoas compartilhando sua vida com o vinho e saber das novidades.
E os blogueiros, alguns deles escrevendo dentro de suas limitações, antes de tudo, são consumidores atentos, adoram vinho, estudam muito e contam tudo em seu blog. A informação está lá, em primeira mão, como um pão quente que acabou de sair.
Outro dia um amigo me perguntou: "De todos os blogs cadastrados no Enoblogs, quantos são realmente ativos?". Respondi a ele que por enquanto, cerca de 20%. Pode parecer pouco, mas o meu raciocínio é diferente. Os 20% no final de 2009 significava bem pouco. Hoje, os mesmos 20% representam cerca de 60 bons blogs e esse número não pára de crescer! Alguns bloqueios ótimos, escrevendo diariamente, ou várias vezes por dia, outros inclusive, reconhecidos como grandes talentos que começam a escrever para veículos de massa, vista a aptidão desse novo profissional em lidar com pessoas, muito antes do vinho. Sorte desses veículos.
O mercado, é claro, já percebeu esse potencial, se aproximou dessas pessoas e estão obtendo resultado rapidamente. Já ouvi de muita gente (que compra e que vende vinho), que os blogs foram a melhor coisa que aconteceu para o mercado do vinho. Antes, através de uma comunicação dirigida e muitas vezes elitista, a informação demorava a chegar. Agora, quando um blogueiro vai a feiras e degustações ou quando experimenta um vinho diferente no almoço, tudo é transmitido em tempo real. E se você perder alguma coisa? Estará tudo lá registrado para sempre nos blogs e no Enoblogs, é só buscar.
Talvez cause mesmo o estranhamento para muitos, esse alto volume de informação, muitas vezes repetida, mas é simples de entender. Antes haviam 2 ou 3 canais de comunicação e quase que instintivamente, não cobriam o mesmo evento ou tema para se diversificar do outro. Hoje, são dezenas. Inevitavelmente esse conteúdo será repetido, pois não há como controlar o ímpeto das pessoas de comunicarem. Mesmo assim, muitos bloqueios investem seu tempo e dinheiro, criando conteúdos interessantes para se diversificar, é só observar mais de perto. E é um conteúdo riquíssimo com textos, fotos, vídeos com entrevistas, onde você viaja com eles.
Para quem acha que toda essa transformação na forma de consumir e comunicar o vinho é apenas digital, tem que rever seus conceitos. Não se trata apenas de bits e bytes, mas sim de pessoas.
abs!
Alexandre Frias
Parabéns pelo post.
Concordo com o que disseste.
Acho que existem blogs com vários objetivos: registro de impressões pessoais, auto-promoção, interesses comerciais, etc.
No meu caso (iniciei recentemente) começou para ser apenas um registro entre meu círculo de amizades. Como conheci o Enoblogs, achei a idéia legal e me filiei. Daí os posts começaram a ter mais visitas.
Mas o negócio é continuar com o propósito inicial.
Só não concordo quando dizes que pessoas menos experientes no mundo do vinho não tem muito o que acrescentar. Acho esse pensamento xcludente.
De qualquer forma, parabens pelo posicionamento,
Abs
Obs.: Teu blog é muito bom, vale a pena.
Alexandre, concordo com o seu ponto sobre a velocidade e a democratização que os blogs conferem ao mundo do vinho. Isso é excelente e eu sou beneficiário desse "advento".
O que eu questiono são as relações entre as empresas e parte dos blogueiros, que pela insistência em divulgar seus vinhos perdem um pouco a credibilidade. Não questiono a publicação das experiências das pessoas (pelo contrário), mas sim a réplica de informações e, muitas vezes, a "postagem pela postagem". A impressão que tenho em alguns momentos é que alguns blogueiros se sentem na obrigação de postar todos os dias, nem que para isso coloquem em suas páginas coisas de pouca relevância. Por exemplo, cada vez que encontram uma garrafa de algum vinho de 100, 200 anos no fundo do mar, chove post repetindo a notícia. Idem no que se refere a vinho e saúde. Qualquer estudo que comprova o que já foi comprovado vira a notícia no ano.
Enfim, não critico a democracia e nem a liberdade de expressão, mas sim o que se faz com ela. Como eu disse no texto, quando tudo fica relevante, nada é relevante.
Caro colega do blog Leigo Vinhos, antes de mais nada, obrigado!
Seu propósito é mais ou menos o meu: divulgar o que acha legal para o círculo de amigos. O Enoblogs dá uma bela potencializada nisso, inclusive permitindo que você amplie o próprio círculo de amizade.
Apenas para que não fique o mal entendido, eu não acho que pessoas menos experientes não podem posta. Apenas acho que deveriam postar dentro das suas possibilidades, como eu mesmo faço, já que não sou expert. Em vez de eu ficar indo a eventos e fazendo altos comentários sobre cada vinho, seu potencial, o terroir etc., prefiro beber e comentar o que achei dos vinhos que escolho beber.
É a postura "pseudo-profissional" que me incomoda em pessoas que começaram a beber vinho 2 ou 3 anos atrás.
Meus caros, minha percepção sobre a postagem se resume a frase no final de um dos comentários: "quando tudo fica relevante, nada é relevante". O "ponto de saturação" fica mais próximo quando de deixa de criar e apenas replicar o que outros 10 ou 20
Blogs já o fizeram.
Abraco aos amigos que se dispuseram escrever seus comentários.
VPT
Grande Paulo, você tem toda razão, por isso não tenho blog, o que tenho a dizer, o que é bem pouco, comento nos blogs dos amigos, poucos, e na comunidade vinho do Orkut, já está bom. No mais concordo contigo que este monte de blogs não serve para absolutamente e rigorosamente nada, mais deseducam que o contrário. feitos por gente despreparada querendo somente aparecer e ganhar, talvez, um convitinho de graça... Pra mim os que ainda valem a pena são o do Piero (vulgo Bacco), o teu antes da SBAV e o da Alexandra Corvo que, apesar da mania dela de tentar combinar vinho com tudo quanto é coisa (churrasco pra mim combina com cerveja, não há vinho que supere !!!), de vez em quando trás coisas legais, o resto que eu conheço não vale nem o papel em que não são escritos.
Abraços
Nelson
Caro Nelson, eu não diriam que não servem para absolutamente nada. Mas é preciso mesmo peneirar para não se perder. Há coisas boas no meio das inutilidades.
Sobre o meu blog, concordo que acabou perdendo um pouco o propósito original com a divulgação seguida dos eventos da Sbav. Mas foi uma contengência e provavelmente este tema será abordado com menor intensidade a partir de agora.
Abraço!
Olá Paulo, seu post serviu de inspiração para ser o tema da Pergunta da Semana lá no nosso blog (o Le Vin au Blog, não sei se vc conhece).
Com relação ao seu comentário, acredito que existem blogs de todos os propósitos, para todos os gostos e com todas as intenções. Alguns escrevem por prazer, outros para compartilhar com amigos, outros tantos para conseguir uma boquinha nos eventos, outros são blogs realmente profissionais com informações precisas e assim por diante. E principalmente existe leitor para todos os tipos de blogs. Costumo comparar com uma tv a cabo. Você assina mais de 100 canais e no fundo você assiste uma meia dúzia (e como o Nelson que comentou acima, muitos não assintem nenhum canal)que de fato te interessa...com os blogs funciona desta maneira. Se estes diversos blogs ajudarem a aumentar o consumo de vinho no Brasil, se de alguma forma divulgar a cultura ou apenas aproximar pessoas já valeu a pena todos eles existirem. Procure aqueles que te interessa, que coloca informações que você busca...leia-os regularmente e os outros, ignore, tem gente interessada neles também, pode ter certeza. Por exemplo, o Le Vin au Blog existe há 4 anos e meio e nada mais é do que um diário que se iniciou com o início do meu relacionamento com a Rafaela, com a única ideia de compartilhar com os amigos os bons momentos que vivemos acompanhados por um vinho. Posso garantir que fizemos novas e ótimas amizades através do blog. Existe coisa melhor do que compartilhar um vinho com amigos?
Abs.,
Claudio - Le Vin ai Blog
Olá, tudo bem? Muito interessante seu blog. Estou te enviando um link que tem tudo a ver com o tema do seu blog "EnoGastronomia".
http://gourmetizando.com.br/2011/03/09/i-gourmetizando-uma-experiencia-enogastronomica/
Espero que goste! :)
abs,
Lara Magalhães
Só para registrar...
...Muito BOM!!!
abraços,
Rapha.
Paulo,
Parabéns pelo post, uma excelente reflexão.
O que posso dizer como blogger, com pouco mais de 02 anos, é que penso que temos que separar o joio do trigo, como diz o João Filipe Clemente.
Existem blogs de importadores, representantes, comerciantes, profissionais e amadores. Todos nós sabemos o que queremos visitar e ler, por fim selecionamos naturalmente aquilo que nos interessa de fato e seguimos.
Na verdade a diversidade demonstra que tem público para tudo... e essa "corrida pela qtde de acessos" apenas demonstra o objetivo de cada um de nós...
Forte abraço!
Parabéns pelo teu blog.
Tenho uma pessoa que questionou-me como poderia ter uam qualificação de um vinho? ou Cota de Qualidade. Como não tenho conhecimento disso, poderias ajudar-me?
Obrigado
Postar um comentário