Fazer churrasco é uma terapia. Além de ser algo relativamente fácil, simples, é uma atividade gastronômica que nos entretém por algumas horas, dá prazer, e os resultados são quase sempre satisfatórios. Eu sempre fui o churrasqueiro da família. Inicialmente, não por vontade própria, mas porque era conhecido como o sobrinho que gostava de cozinhar. Depois me firmei no cargo e passei a ser convidado para aniversário de pessoas que sequer conhecia.
No começo, ficava meio assustado e ansioso com a responsabilidade, já que os churrascos na minha família reuniam até 30, 40 pessoas. Quando percebi que a coisa era mais ou menos simples – bastava não deixar a carne tão mal passada para as mulheres e tão bem passada para os homens –, até que comecei a me divertir. Chegava pelo menos 1 hora antes do início do almoço e já começava os trabalhos. Franguinho e linguiça iam para a grelha logo cedo, de forma que quando o batalhão chegasse já havia o que comer. Isso me dava tempo para preparar as carnes que não poderiam ir para a grelha antecipadamente, como picanha, maminha e alcatra.
Com o passar do tempo, no entanto, esses churrascos deixaram de ser uma terapia para mim e se tornaram uma grande fonte de irritação. Não sei se estou ficando velho e isso esteja influenciando, o fato é que comecei a ter “tolerância zero” com uma figura sempre presente em qualquer churrasco que se preze: o copiloto de churrasqueira.
O copiloto de churrasqueira é aquele cidadão que logo que chega no churrasco cola do seu lado e não para de dar “dicas” – que você obviamente não pediu – para que o seu churrasco seja o melhor do mundo. Geralmente ele entra em ação aos finais de semana e feriados. O que mais irrita nesse profissional da encheção de saco é que ele não coloca a mão no carvão ou na faca de jeito nenhum. Parece um veterano aposentado que agora faz parte do conselho consultivo do churrasco. Fica o tempo todo com o copo de cerveja geladinha na mão, camisa impecável e cabelo devidamente engomado. Vez ou outra te oferece um pouco de cerveja, sendo essa, na minha opinião – não é justo apenas criticar o colega de trabalho –, a sua grande contribuição para o sucesso do churrasco.
Os palpites começam já na forma de acender a churrasqueira. Se você usar o acendedor que vem com a embalagem do carvão, lá vem o palpite: “Eu conheço uma forma bem melhor. Já experimentou molhar o pãozinho com álcool...”. Aí você resolve seguir a dica do cara para fazer amizade – acredite, em alguns casos o copiloto, cujo nome você nunca irá se lembrar, se apresenta a você no momento em que assume o posto. Acesa a churrasqueira, é hora de ajeitar o carvão. E, aqui, todo mundo também tem a sua técnica testada e aprovada. Se você espalhar o carvão, o seu colega dirá que “o ideal é colocar ele no canto”. Se você colocar no canto, pode apostar que terá esquecido algum detalhe, que prontamente será lembrado pelo copiloto.
Mas o pior é quando você coloca as mãos nas carnes... Aí o festival de dicas e palpites é uma enormidade. Cada um tem a sua forma de salgar e cortar a picanha. E já percebi que são quase infinitas as combinações: corta antes e salga em seguida; corta depois e salga sobre a grelha, corta o bife com 2 dedos de altura e não salga antes de começar a grelhar; salga depois de pronta; usa espeto e bate o sal antes de ir para a churrasqueira; coloca a gordura para baixo primeiro; corta em bife; coloca a peça toda; vira do avesso; corta de um lado; corta do outro; não corta... E não para por aí. O ajudante de plantão tem a melhor estratégia para estabelecer a ordem de servir e o ponto de cada carne, domina a técnica do “corte aperitivo” e assa uma cebola como ninguém!
Durante anos fiquei tentando imaginar porque esse especialista do churrasco nunca arregaça as mangas e assume o comando. Ao mesmo tempo, nunca me intimidei e passei os espetos para o auxiliar indesejável, pois estaria dando o braço a torcer e aceitando que ele era mais competente que eu. Coisa de iniciante inseguro... Também nunca entendi porque esses caras, que geralmente são médicos, advogados, administradores, professores, profissionais liberais de toda espécie ou mesmo funcionários públicos ou de multinacionais, nunca largaram a caneta e abriram suas redes de churrascarias ou casas de carnes para competir com Fogo de Chão e Bassi. Seria um sucesso!
O fato é que, hoje, raramente vou para a churrasqueira. Faço isso apenas para grupos muito pequenos, quando conheço todo mundo e tenho a liberdade de mandar o copiloto às favas sem que isso gere um grande mal estar. Minha paciência com gente chata está cada vez menor, especialmente quando isso atrapalha momentos que devem ser apenas de prazer. No trabalho, somos pagos e obrigado a aguentar mala sem alça. No lazer, de jeito nenhum!
5 comentários:
kkkkkkkkk, fui lendo e parecia um retrospecto da minha história, perfeita a descrição do Mala.
Pois é, caro Wiland. Quem é ou já foi churrasqueiro sabe do que eu estou falando!
Por mais que façamos é impossivel exterminarmos essa "praga". Eles esperam apenas a chegada do churrasqueiro para se plantarem ao lado da churrasqueira e infernizar a vida do pobre.
Eu gosto de ficar na churrasqueira, mas na primeira "ajuda" largo tudo e vou me divertir com os outros que ganho mais e não me aborreço.
Uma vez ameacei largar tudo. O cara começou a dar palpite e eu disse: "legal, faz desse jeito para eu ver". Aí fingi que fui buscar cerveja e sentei em uma mesa. Não deu 5 minutos foram me chamar, pois o mala sumiu e abandonou a grelha... Nem sempre essa tática funciona. Os caras são profissionais! Não dá para competir.
Eu adoro comer churrasco, mas o marido é o encarregado oficial de fazê-lo.
Eu só conheço como pedir delivery em itaim e assunto fechado, rsrs!
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